quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Pai!

O almoço correu bem, à maneira da Vera. Embora os preços fossem exorbitantes, a conta nem chegou à nossa mesa. Vera almoçou à pressa, tinha que trabalhar. Voltei para casa, para tirar aquela roupa. Fui de metro e recebi uma mensagem de David.
“Odeio quando me fazem indirectas e não falam tudo de uma vez!”
Fiquei a olhar para aquela mensagem, David tinha razão. Era uma cobarde por mandar aquelas mensagens e não falar o que sentia.
“Precisamos de falar! Podes vir ter comigo?”
Não sabia se era a decisão certa ou não. Mas David era uma excelente pessoa, não podia fazer-lhe uma coisa assim, ele não merecia. Cheguei a casa e mudei de roupa, umas jeans e uma sweat. Olhei para o telemóvel e vi uma mensagem de David.
“Como você quiser.”. Aquele ponto final no fim da mensagem deixou-me receosa, David estava magoado, eu sabia disso. Mandei-lhe uma mensagem para vir ter comigo a casa, era o melhor. David não podia ter uma conversa séria comigo numa esplanada, ou num banco do jardim como muitos outros faziam. A verdade é que acabaríamos por ser incomodados por algum adepto.
“Vem ter comigo aqui a casa. A Matilde só volta daqui a umas horas e o Zeca está ainda na Faculdade”.
Não sei porquê esta necessidade de resolver tudo com David, apenas tinham passado alguns dias desde que o conheci, mas ele tinha invadido a minha vida, o meu coração. Tinha-se tornado o grande amigo, mas não passava disso mesmo. De um grande amigo. Tinha receio que o sentimento dele por mim crescesse e o meu por ele se mantivesse o mesmo. Toda a situação me punha nervosa. O telemóvel tocava, pensava que era David a pedir uma explicação, mas fiquei surpreendida com a pessoa em questão. Era o meu pai. As lágrimas vieram-me aos olhos. O meu pai nunca mais me tinha ligado desde que vim viver com Diogo, para mim, ele estar-me a ligar, só podia fazer com que o meu dia melhora-se imenso ou então, piora-se.
-Sim, pai.
-Filha… Estou aqui em baixo no prédio da Matilde, podes-me abrir a porta e dizer qual é o andar?
-Claro pai, 2º Esquerdo. Abro-te já a porta – a emoção era tanta que desliguei o telemóvel ao correr para a porta. Pouco depois o meu pai estava a minha frente. As lágrimas escorriam-me pela cara e a respiração passou a ser irregular, dava pequenos soluços. Permaneci estática até que o meu pai veio a meu encontro.
-Filha! – Abracei-o com todas as minhas forças, com toda esta situação o meu pai era a minha salvação. Este homem eu podia dizer que o conheci e que nunca me tinha desiludido. Amava o meu pai, até mesmo a rigidez dele. As lágrimas continuavam a cair sem parar, as emoções eram muitas. Sem ser em miúda, nunca tinha abraçado o meu pai desta maneira. – Tem calma filha, tudo vai correr bem. O pai está aqui para te apoiar. Porque é que não contas-te ao pai?
-Tu sempre tiveste razão pai, sempre. Porque é que eu não acreditei em ti? – não fui capaz de responder à sua pergunta, ao porquê de não lhe ter dito que eu e o Diogo tínhamos terminado a nossa relação. Ele puxou-me para dentro de casa e sentou-me no sofá, eu ainda chorava que nem uma doida.
-Tem calma filha, olha para mim, o pai está aqui. A partir de agora o pai vai estar sempre aqui para te apoiar. Desculpa-me filha. Desculpa.
-Ó pai! – voltei abraça-lo. – Não tens que pedir desculpa pai. Eu é que tenho que pedir desculpas. Nem sabes o quanto estou arrependida. – Ele afastou-se e olhou para mim. Apanhou um dos meus cabelos que estavam na frente da cara e puxou-os para trás da minha orelha.
-És tão bonita filha, nunca te esqueças disso. Mereces tudo e muito mais. Aquele homem, não te merecia. Promete-me uma coisa filha…
-Tudo pai, tudo o que quiseres.
-Nunca mais voltes para aquele homem. Não te inferiorizes dessa maneira.
-Nunca mais Pai, nunca mais. Eu prometo-te. – O meu pai levantou-se e deu um beijo na minha testa.
-Pai, vais já embora?
-O pai tem que ir, saiu do trabalho para vir aqui mas já está atrasado. Maria, qualquer coisa, liga ao pai, está bem?
-Claro pai. – Acompanhei-o à porta, retribui-me um sorriso e saiu pela porta e viu-o a entrar pelo elevador. Por momentos, esqueci o Diogo, a angústia que ele me trazia, esqueci o David e a mágoa que podia trazer. Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. Era o que o meu avó me dizia. Neste caso, a minha separação de Diogo trouxe-me uma excelente pessoa e o perdão do meu pai. Nem tudo era mau no fim da nossa relação. Os dias iam continuar a passar, as horas iam continuar a passar mas não ia estar ao meu lado Diogo, mas não era isso que me ia impedir de ser feliz.
                Voltei a sentar-me no sofá, o dia não podia melhorar mais, e tudo o que me fizessem agora, ia-me deixar feliz de toda as maneiras. Voltei a ouvir o telemóvel a tocar, era o David a ligar.
-Sim?
“Qual é o seu andar?” – segunda vez que me faziam esta pergunta hoje, não era normal.
-2º Esquerdo.
“Ok. Me abre a porta aqui em baixo?”
-É já.
Desta vez já não fui a correr, a emoção já não era a mesma mas o coração continuava a bater de forma veloz. A razão? Ainda por explicar. Abri a porta lá de baixo e fiquei à espera de David. Quando a porta do elevador se abriu, esperei ver o sorriso de David mas não vi nada disso. Apenas um olhar desanimado e uns olhos sem brilho. Cumprimentou-me e eu disse para ele entrar dentro de casa e para se sentir à vontade. O silêncio imperava o momento, fui andando para a sala e sentei-me no sofá, David seguiu-me e pediu licença para se sentar também. A televisão, passava imagens de anúncios de televisão, até que passou um sobre o jogo de futebol Benfica – Rio Ave.
-Mais uma… - disse num desabafo.
-Mais uma quê?
-Mais uma razão de nós nunca podermos estar juntos. Tu és de uma outra dimensão, totalmente diferente da minha.
David ficou a olhar para mim, mas desta vez o olhar dele era diferente, parecia magoado. – E vai dizer que não podemos ter nada pela quantidade de euros que eu tenho no banco? Pelas vezes que apareço em jornais, na televisão, que falam de meu nome na rádio?
-David, sabes aquelas histórias do rapaz do campo e da rapariga da cidade? Aqui é quase a mesma coisa, e eles no final da história…
-Acabam juntos, enfrentam todos os obstáculos e lutam pelo seu amor.
-Não, acabam cada um para seu lado. Nada é perfeito…
-Pois não, nada é perfeito. Mas há coisas muito boas que devemos aproveitar.
-Desculpa por tudo David, tu mereces uma pessoa à tua altura, uma pessoa que te dê tudo. A sério que mereces, eu apenas não sou essa pessoa.
-Como sabe?
-Primeiro porque conhecemo-nos apenas duas semanas e segundo porque somos diferentes, muito diferentes e o prefiro ser tua amiga do que não ser nada a ti.
-Eu também prefiro isso mas…
-Então vamos manter a nossa relação assim! – Interrompi, quase terminando a conversa. Tentei esboçar um sorriso amarelo, mas não recebi nada de David, nem um olhar. – Tens treino hoje?
-Já tive de manhã.
-É pena, gostava de ver um treino vosso.
-Nunca viu?
-Não, nunca.
-Um dia eu levo você a um.
-Obrigada David.
-Então, e ficou com o trabalho?
-Não, não fiquei. Portuguesa num bar brasileiro não dá com nada.
-E agora, o que vai fazer?
-Vou continuar à procura. Talvez até pudesse fazer uso dos meus anos da faculdade para ir trabalhar para algum sitio relacionado com a minha área, gestão. Mas não sei… Uma coisa é certa, não vou ficar parada até Setembro!
-Vai voltar para a faculdade em Setembro?
-Sim, vou. Completar o meu curso. Só faltam dois anos do mestrado, por isso, agora é em contagem decrescente.
-Estou vendo, já pensou em deixar o seu currículo no Benfica? Talvez pudesse arranjar emprego lá.
-Até que nem é mau pensado David, nada mau pensado. Nem que fosse a fazer de guia nas visitas ao estádio.
Ouvi a porta  abrir e uns sapatos altos a baterem no chão, era Matilde.
-Olá meu anjo, resolvi vir mais cedo para… Olá! – interrompeu o seu discurso com um “olá” meio surpreso e ao mesmo tempo, conspirador. – Tu aqui?
-Olá Matilde, o David veio falar comigo. Como correu o teu dia? – Matilde aproximou-se, cumprimentou David e foi directa à cozinha, mas sem nunca deixar de falar.
-Lindamente, mas o teu parece que correu melhor.
-Sim, correu. Falei com Vera, o meu pai desculpou-me e agora estava a resolver o último assunto. – Ouvi os saltos a baterem, Matilde estava a correr. – Cuidado, ainda cais!
-Falaste com o teu pai?!
-Que tinha o seu pai?
-Um dia conto-te David. Em relação a ti Matilde, acho melhor falarmos depois.
-Não, não. Eu quero saber agora e o David parece querer saber também… - David olha para Matilde e ela esboça um sorriso, tentando com que ele alinha-se na conversa dela. – Vá, começa a contar.

3 comentários:

  1. Hum... cá para mim o David não se deixou convencer... essa amizade ainda vai dar molho :P

    Continua

    Bjs

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  2. QuerO maiis, Cat!!

    FiicO a espera.. =D

    BjnhOo

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  3. OMG qnd e que há molho?? xD

    Continua catarina Sofia, a história esta cada vez melhor!!

    Beijão

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