quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Barbas

O restaurante estava cheio mas quando David chegou lá, o Barbas fez questão de o vir cumprimentar. Depois de uma conversa de cinco minutos, encaminhou-nos para uma mesa no canto mais afastada da confusão.
-O que vai comer?
-Não tenho fome nenhuma.
-Então? É um almoço, você tem que comer.
-Que cena foi aquela há bocado?
-Que cena?
-Deixares-me ali, plantada.
-Plantada?
-Sim, estava à espera de algo mais.
-Você disse lentamente e que não iríamos ter nada os dois, porque haveria de beijar você?
-Porque… - O telemóvel de David começava a tocar.
-Desculpa aí. Sim, Raquel. Claro, combinadíssimo. Passo por aí depois, beijo.
Fiquei estática a olhar para David, não queria acreditar que aquilo me estava acontecer. Não ali, não agora e nem com o David. Apoiei a cara na minha mão e virei a cara para o lado oposto de David. Não me estava acontecer isto. A vontade de chorar era imensa mas não o ia fazer. David continuava sem me dizer nada. Nisto, o Barbas chegou.
-Já escolheram?
-Eu quero…
-Olhe, eu quero uma dourada escalada se faz favor – interrompi o pedido de David.
-Muito bem… E tu, David?
-Eu vou querer um Lombo de porco. É daqueles que tem doce no meio não é? – devia de estar num dia “goza com a Maria”.
-Sim David, andas a ficar já com vícios portugueses.
-Vícios e não só!
-Para beber?
-Vai beber o quê Maria?
-Não sei, o que vais beber?
-Estava a pensar beber vinho.
-Nem penses. Eu quero uma água.
-Então eu escolho uma coca-cola.
O Barbas acenou com a cabeça e foi-se embora. Até as bebidas virem permanecemos em silêncio, depois não consegui evitar e tive que perguntar.
-O que se passa? Porque estás a fazer isto comigo?
-Isto o quê? – dizia tranquilamente enquanto punha um bocado da cola-cola no seu copo.
-Isto! Primeiro a cena do beijo, depois a Raquel, agora o Lombo.
-Porque é isto que você me tem feito nos últimos dias. Você vai e vem mais rapidamente que um yô-yô. Muda de opinião a cada instante. Se ontem você não me queria perder, hoje já tem a certeza que me quer perder. Como é então? Eu não sou nenhum brinquedo! Também tenho sentimentos!
Apercebi-me do descontentamento de David, ele tinha razão. Em todas as suas palavras eu tinha que admitir que era verdade, que eu estava a ser injusta para ele. Sem sentir as lágrimas escorriam-me pela cara, não consegui evitar. Às vezes é preciso um "esticão" para percebermos as coisas e certas vezes, as verdades doíam muito.
-Me desculpa Maria, não queria fazer você chorar. Me desculpa. – Dizia-me David enquanto passava com a sua mão na minha cara. O facto de ele me estar a pedir desculpa ainda me entristecia mais.
-O que estás a fazer! Não me digas isso! - retirei a sua mão da minha cara mas nunca a deixei de largar.
-Vê? É isto que não entendo! Sou simpático e depois…
-Cala-te David! Deixa-me falar! Tu tens razão. Tenho-te tratado pior do que um peluche velho. Deixa-me explicar as coisas bem e com calma. Tu surpreendes-me a cada dia que passa e a cada dia que passa eu sinto-me mais… mais… que se lixe, apaixonada é mesmo o termo. Apaixonada pela pessoa que és, que demonstras ser e pela paciência que tens em aturar todas as minhas birras. Mas és um jogador de futebol e para além de pertencermos a mundos totalmente diferentes, tu um dia vais-te embora e por mais forte que o nosso amor seja nessa altura vai acabar por ceder. Eu neste momento estou frágil e não quero ficar assim novamente. Nunca pensei ficar tão envolvida contigo, tenho medo que tu partas, que tu te desinteresses de mim, que… Sei lá, tenho medo de tanta coisa. Eu se pudesse agarrava em ti e íamos viver para Veneza e ficávamos lá, felizes para sempre. Mas sei que o mundo não é assim e que tudo pode acabar e que podemos vir a sofrer. Desculpa, eu não o devia ter feito.
Preparava-me para levantar-me da mesa e ir embora, não tinha mais nada a fazer ali. Talvez tivesse destruído a relação com uma das únicas pessoas que me queria bem. David agarrou em mim e eu voltei a sentar-me.
-Onde é que você pensa que vai?
-Vou-me embora, desculpa.
-Não, não vai! Porque haveria de se ir embora?
-Porque não queres mais estar comigo…
-Onde é que você vai buscar essas ideias, vem cá minha tonta. Eu só queria que você visse que não é fácil estar no meu lugar. Não esperava era uma reacção dessas!
-Porque não?
-Porque pensava que você não gostava tanto de mim.
-Enganas-te! Eu… Eu juro que não sei o que se passou mas já fazes parte de mim.
-Então não se preocupa tanto! Não tenha medo, vai ficar tudo bem.
-Mas…
-Mas nada, estamos nas mãos de Deus agora. O futuro só a Deus pertence.
“Espero que os planos dele para nós sejam bons”, pensava. O resto do almoço foi mais tranquilo, com mais brincadeiras entre nós e carinhos. David pagou o almoço, “de recompensa pelo que fiz a você” dizia ele. Não queria discutir com ele, não por causa de algo tão fútil. Depois voltou-me a levar ao Estádio. Durante o caminho, fiz-lhe uma espécie de interrogatório.
-Quem é a Raquel?
-A Raquel? Que Raquel?
-A rapariga que te ligou.
-Ela é da SAD, trata das renovações e assim. – “SAD” dizia ele. Fazia-me lembrar a conversa de Eunice sobre as raparigas que estavam na Catedral da Cerveja.
-É loira?
-Não, morena. O cabelo mais escuro do que você. Porquê?
-Por nada, por nada. – fizemos silêncio durante alguns segundos mas aquilo estava-me a corroer por dentro – Olha, não precisas de companhia para ir à SAD? – David soltou uma risada que se deve ter ouvido do lado de fora do carro. Sorte é que estávamos parados num semáforo se não já nos tínhamos despistado. – Que foi?
-Isso é tudo ciúme?
-Não. É só curiosidade. Nunca fui à SAD.
-Pois, mas não será hoje que você vai. Já são quase duas horas da tarde, não precisa de ir trabalhar?
Outra vez a ser manipulada por um rapaz de caracóis loiros. Só podia estar num mau dia meu. Concordei mas cruzei os braços para ele perceber que estava chateada. Ele levou-me até à garagem onde estacionou o carro. Despedimo-nos com um beijo e depois eu fui-me embora. Tinha que trabalhar.


* Amo-te Maria *

As visitas correram bem como já era de costume (olhem para mim a falar como se já fizesse aquilo à vinte anos). David não apareceu mais nessa tarde. Parte de mim ficou desiludida mas ele também não podia aparecer no meio de uma visita, era suicídio. Voltei a enfiar-me nos caminhos subterrâneos de Lisboa e ao fim de dez minutos já estava na casa de Matilde. Fiquei o resto da tarde a ver televisão e a falar com Zeca. Queria mesmo uma mensagem de David. Sabia que ele não ia ter treino, o treino dele tinha sido de manhã. Uma vontade em mim dizia para mandar a mensagem mas outra dizia que era parvo. Ia falar do quê? Cenouras? Matilde chegou pouco depois, eram quase sete horas. Enquanto eu e Zeca preparávamos o jantar, Matilde divertia-se a comer sentada na mesa da cozinha. Mais valia isso do que ser ela a preparar a comida. O resto da noite foi como o final da tarde, nada de David. Desisti e resolvi ir dormir. Amanhã era um novo dia.

7 comentários:

  1. Hum, será que o David foi sair com a Raquel?

    Mais...

    Beijinho*

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  2. Muiito LiindO!! =D

    QuerO maiis!!

    COntiinua..

    BjnhOo

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  3. Catarina:
    Acabei agora mesmo de me inteirar totalmente da tua fic mas pensava que tinha mais capitulos para ler... estou completamente agarrada, fiz actualizar duas vezes a pensar que ainda havia mais.
    Muito boa mesmo muito boa, não vou perder um capitulo :)
    A cena do jantar na casa da Matilde está simplesmente fantástica, muito boa. Ah e ninguém se lembra de meter o DL com uns boxers do sporting, parti-me a rir.
    Continua
    Beijinhos

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  4. Adorei para não variar, adorei o facto dela ter exposto o que sentia perante finalmente sentir que David faz parte dela como ela própria já disse.
    Fico à espera de mais, continua
    Beijinhos

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  5. ahah, ela sofreu na pele o que lhe andou a fazer... e finalmente disse-lhe que gostava dele. mt bom, adorei o cap cat...

    Bjs

    Clara

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