terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Sou assim tão idiota?"

Abri uma das portas que dava acesso ao relvado e caminhei para o túnel, já tinha passado ali três vezes e continuava adorar. Em vez de seguir para o lado direito, segui em frente, mal passei a porta David agarrou-me num instante para me dar um beijo. Mantive-me ali, presa a ele durante momentos até que o empurrei.
-Larga-me! Estás doido? E se alguém vem aí?
-Não vem aí ninguém. Porque é assim tão má para mim?
-Eu não sou má para ti, tu é que… Eu tenho este trabalho por causa de ti tens a noção?!
-Um bocadinho…
-Sabes o quanto isso me deixa irritada?!
-Um bocadinho…
-E sabes que quase toda a gente dentro deste clube sabe que eu conheço-te?
-Assim-assim…
-E que há gajas em todo lado muito mais… bem, mais… tu sabes! Que eu e que estão interessadíssimas em ti?
-Essa não sabia, por acaso. Mas elas são feias.
-Não é uma questão de estética.
-Elas são interesseiras.
-Não as conheces.
-“Diz-me com quem tu andas e eu digo-te como tu és”. – citou David.
-Então diz-me, quem eu sou?
-És fantástica, és linda, és maravilhosa, és uma pessoa a qual eu estou a desenvolver um carinho enorme. – as palavras de David fizeram-me esquecer o resto. Acho que me derretia toda a ouvir aquelas palavras. Agora esquecia o orgulho e falava o coração num desabafo.
-Tenho medo David.
-Tem medo? Medo porquê?
-Medo do que possa vir acontecer. Tenho medo de vir a gostar de ti e depois de te perder, tenho medo de te perder antes de gostar de ti, tenho medo! Estou com um pressentimento que isto vai acabar mal para nós.
Ele abraçou-me ao ver a minha inquietação. Agarrei-me a ele como se não o houvesse amanhã, tentava não chorar mas não conseguia, nem sabia bem o porquê de estar a chorar nem o porquê de ter tanto medo mas aterrorizava-me aquilo tudo. “Não vai acontecer nada, fica descansada”, disse-me baixinho. Mesmo assim o meu coração batia a cem a hora, não estava descansada. Sentia que o futuro a partir de agora era o meu pior inimigo. Podia-me trazer muita felicidade mas ia trazer ainda mais tristeza.
-Vamos com calma, está bem? Não quero forçar nada.
-Não estás a forçar.
-Sim, mas vamos com calma.
-Claro.
Dei-lhe um leve beijo e sai, ele deixou-me ir. Talvez tenha sido das primeiras vezes que David deixava-me ir embora. Parte de mim ficou feliz, outra queria que ele me agarrasse e me beijasse outra vez.
            Voltei para casa, tinha que aprender a história do meu clube (que estava mais que sabida). Embora tivesse que fazer isso tudo, pouco toquei nas folhas e mais nas teclas do telemóvel. Tinha passado a tarde toda a falar com o David. Quando reparei nas horas, já era bem de noite, quase meia-noite. Despedi-me e tentei dormir mas Matilde não me deixava fazer tal coisa. Já me tinha contado como o dia tinha corrido cinco vezes e eu já lhe tinha respondido cinco vezes, com todos os pormenores mas mesmo assim ela sabia que eu lhe estava a esconder alguma coisa. Não lhe tinha contado que David tinha estado comigo. “Amanhã conto-te, preciso de acordar cedo”. Embora não tivéssemos ido ao cabeleireiro, não me livrei do castigo. Durante o tempo que David esteve no treino, Matilde pintou-me o cabelo de castanho claro. Ficou bonito, parecia que o cabelo era mais forte e não tão fraco como antes aparentava. No dia seguinte, fiquei um bocado indecisa no que vestir mas Matilde arranjou-me umas coisas dela. Coisa que não faltava naquele armário era roupa e como tínhamos quase as mesmas medidas (menos nas calças, embora usássemos o mesmo número as dela ficavam-me grandes no comprimento) então a troca de blusas, calças, camisas, casacos era regular.




Quando cheguei ao Estádio, Eunice já me esperava. Parecia um pouco desesperada mas eu tinha chegado a horas.
-Ainda bem que chegaste! Às dez e meia vem uma escola de crianças do Barreiro cá, podes fazer a visita?
-Bom dia e sim, claro que posso. É o meu trabalho certo?
-Sim, claro. Mas sabes, acho que não estou habituada a ter ajudas. Era sempre eu sozinha. Ainda bem que estás aqui. Sendo assim eu vou fazer a das dez e tu fazes a das dez e meia.
-Fazes a visita das onze?
-Sim, faço.
-Então pronto, fica combinado assim. Depois eu faço as restantes, não te preocupes mais. Está descansada.
-Muito bem. Estou a começar a gostar imenso de ti.
-Obrigada.
-Ah, e já agora, bela mudança de visual.
-Gostas?
-Sim, está muito melhor.
-Obrigada.
-É verdade, não contes comigo para almoçar. Vou almoçar com o… Eduardo.
-Com o Eduardo? O teu namorado?
-Não, esse é o João.
-Quem é o Eduardo sendo assim?
-O Sr. Eduardo Peçanha.
Entramos dentro do pequeno escritório/bilheteira que era a porta 18, com a Eunice na frente a explicar-me a situação do “Sr. Eduardo Peçanha”. Ela e ele tinham um caso, há seis meses. Ela dizia que era tudo físico e não passava de um caso. Era aquilo que trazia emoção à vida dela. Estremeci um pouco. Se ela, que tinha o namorado, a pessoa que ela dizia amar ao seu lado... Como seria se eu alguma vez tivesse algum tipo de relacionamento com David? Quando ele partisse para outro clube e eu ficasse em Portugal, quantos dias iram restar à nossa relação? A manhã foi passada assim, a pensar nisto. Quando foi quase no final da manhã, cheguei a uma conclusão, mesmo que o meu coração quisesse, eu jamais iria ter um relacionamento com David. Não iria permitir que outro homem me magoasse dessa maneira. Até parece uma coisa do Diabo mas quando acabei de pensar nesta conclusão, David manda-me uma mensagem a perguntar se queria almoçar com ele. Não respondi. Faltava-me a última visita da manhã, era melhor despacha-la. Como era quase hora de almoço, eram poucas as pessoas. Houve mais tempo para falar e explicar alguns factos do Estádio e do meu querido clube, Benfica. A visita acabou era vinte para a uma. Eunice tinha-me deixado uma chave da porta 18 para poder entrar e sair quando  quisesse, assim ela tinha mais liberdade para poder sair e ficava descansada que as visitas continuavam a existir. Fui lá buscar a minha mala e quando ia para sair dou-me de caras com a última pessoa que eu queria ver naquele momento, David.
-O que estás aqui a fazer?
-Vim buscar você para almoçar.
-David… Não me faças isto. Melhor, não faças isto a nós!
-Como é? Que se passa?
-Não vai haver nada entre nós.
-Porquê?
-Porque eu não quero, porque eu não quero sofrer, porque não quero chorar, porque não.
-Olha menina, eu já disse a você que é muito complicada? Que pensa demasiado?
-Mas é assim que eu sou e tens que te habituar.
-Se não vou ter nada consigo, porque me vou ter que habituar?
-Porque eu sou complicada e não te quero perder.
-Então se cala um pouco e vem almoçar comigo, sim?
Mantive-me em silencio, não queria falar. David estendeu-me a sua mão e não fui capaz de recusar. Dei-lhe a mão e saímos dali de mãos dadas.
-Devias de me largar a mão.
-Porquê?
-Não quero que ninguém saiba de nada.
-Mas não existe nada.
-Mas as pessoas vão pensar que há. – David afastou-se e largou-me a mão devagar. Ele de facto não merecia uma pessoa como eu, merecia alguém muito melhor. – Vamos almoçar onde?
-Não sei, onde quer ir?
-Não sei David, não pode ser muito caro.
-Você sabe que isso não é problema. Fui eu a convidar, sou eu a pagar.
-Não, não. Metade, metade. Ou isto ou vou-me embora.
-Teimosa! Sendo assim, vamos ao Barbas. Alguma vez lá foi?
-Ao Barbas? Não, por acaso não.
-Como é que uma Benfiquista ferrenha nunca foi ao Barbas?
-O Diogo era do Sporting.
-Esse Diogo, ele é um fracassado do pior não é?
-Sim e eu só entendi isso três anos depois. Sou assim tão parva?
David aproximou-se de mim e fez com que nós parássemos de andar. Ficou de frente para mim e olhava-me com um sorriso enorme.
-Já disse que adoro o seu cabelo agora?
-Gostas?
-Adoro.
-David, sou assim tão idiota?
-Não, é apenas ingénua e linda demais. - Agarrei-lhe nas mãos, como estava com sapatos altos estava um pouco mais baixa que ele mas conseguia perfeitamente chegar-lhe aos lábios. Ele apertou com força as minhas duas mãos e depois largou-as e continuou a andar. Fiquei para trás a olhar para ele a fugir-me, não queria acreditar no que me tinha feito. Pensei ainda que ele voltasse para trás e me beijasse mas nada e o pior, se não me apressasse perdia o almoço.



4 comentários:

  1. adorei esta ultima parte... ahah finalmente ela tem que correr atrás dele... adorei cat

    Bjs

    Clara

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  2. Ela já lá devia estar! :b
    Adoro a tua fic, Cat, adoro a maneira como escreves e me fazes imaginar cada cena, cada promenor, cada detalhe, adoro!
    Fico à espera de mais...
    Beijinhos :)

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  3. qnd é que ela cede de vez??
    +.+ está cada vez mais LINDO...

    Hmm, no barbas, isso é muito movimentado xD
    Quero muito mais, eu amo a tua história e tu sabes disso.
    Beijinhos Catarina Sofia. <3

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