sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"Eu odeio..."

A conversa acabou pouco depois, fui-me deitar. Decidi acabar com a conversa, não me apetecia falar disso, não agora. Estava deitada na cama, a olhar para o tecto. Matilde já dormia. A casa de Matilde e de Zeca era alugada e no quando onde estávamos a dormir, devia ter sido de crianças. No tecto estavam pequenas estrelas que no escuro brilhavam. Matilde tinha razão numa coisa, fui injusta para com David. Ele foi uma pessoa sensacional para mim e eu tratei-lhe um pouco mal. Eram quase duas da manhã mas não me importava, tinha que me redimir.
Lembras-te da nossa conversa há bocado? Há coisa de 6 anos fui para um acampamento mais uns amigos meus e nós jogamos ao “Eu odeio”. Basicamente eu digo uma frase começada com “Eu odeio…” e depois é a tua vez. Era uma boa oportunidade para te conhecer melhor! Vá, começo eu… Eu odeio quando sou injusta para as outras pessoas!
Beijo, Maria”
Passei dez minutos à espera de uma resposta, mas nada. O sono começava-me atacar e ia-me deixar dormir, mais cedo ou mais tarde...

*Amo-te Maria*

Nem acordei com o som de Matilde a despachar-se de manhã. Acordei já era meio dia, boa a vida de quem nada faz. A minha primeira reacção quando acordei foi olhar para o telemóvel e ver se David já me tinha respondido.  No telemóvel tinha duas mensagens, a primeira era dos Donos do bar “Mira só”. Não tinha ficado com o emprego. A segunda era do David.
“Desculpa mas já estava a dormir. Eu odeio quando me julgam se me conhecer”
Achei aquilo um pouco como se fosse uma indirecta, não podia ficar atrás.
“Bom dia David. Odeio julgar pessoas”
Levantei-me e tomei um duche rápido. A casa estava vazia e eu odiava estar sozinha, um ponto em comum com o David. Pensei em quem telefonar, revi a minha lista telefónica umas cinco vezes.  Ninguém… Conhecia muitas pessoas era verdade, mas quando tive a minha doença aprendi que só cinco ou seis realmente eram meus amigos. O meu irmão estava no trabalho, Matilde na faculdade, Zeca na faculdade, Sara em Guimarães. Estava complicado, e se estava. O facto de também dispensar muito tempo ao Diogo fez com que perdesse uma grande amiga, Vera. Ela era daquelas pessoas chiques, totalmente diferente de mim. Era escritora de romances, tinha trinta anos e já tinha um filho e o marido que sempre desejou. Mas como tudo, nada era perfeito. Vera amava o seu marido, amava a sua vida mas ela era meio louca, ela era quase como uma Samantha Jones, para ela a relação com o marido ia acabar mais cedo, ou mais tarde, por isso iria aproveitar enquanto podia… com outros homens. “O amor é bom, mas o sexo é melhor”, era o que dizia sempre. Talvez agora tivesse na altura de lhe ligar. Ao fim de cinco “pip’s”, Vera lá me atendeu o telemóvel.
-Sim?
-Vera, é a Maria.
-Ah, és tu.
-Podemos falar?
-Sim, quando quiseres.
-Achas que podemos almoçar? - Não obtive resposta, passaram alguns segundos e Vera não me disse nada.
-No “Rufíni” à uma.
-Não tenho dinheiro para almoçar nesse sítio.
-Mas quem te disse que nós vamos pagar alguma coisa? Vai lá ter. – Entendi a frase, Vera tinha contactos dentro do “Rufini”.
-Muito bem então. À uma lá. Até já.
Faltava pouco tempo para a uma hora da tarde e sem transportes, o melhor era despachar-me o mais depressa possível. Vera, era uma mulher diferente das outras. Para ela todos os minutos, todos os segundos valiam dinheiro, logo, um atraso significava perder dinheiro. Quando cheguei ao restaurante já Vera estava sentada numa mesa, estava vestida com um vestido simples mas bonito, sapatos altos pretos e um casaco comprido preto, como se usam agora. Ela era uma mulher da moda, bonita e atraente.
-Bom dia.
-Vieste de vestido Maria, como saíste de casa sem ser espancada pelo Diogo? – Vera odiava mesmo Diogo, ela só conseguia apontar defeitos nele. Ciumento compulsivo, arrogante, frio. Ela não sabia como tinha-me apaixonado por aquele homem. Eu tinha vindo vestida com um vestido preto, um casaco comprido branco e uns botins pretos.
-Porque não estou com ele. – Vera ficou a olhar para mim, um pouco chocada enquanto me sentava. – O que vais comer?
-Tu não estás com ele?!
-Não.
-Conta-me tudo!

*Amo-te Maria*

-Então, e quem é esse David?
-Tu também? É um grande amigo.
-Aí Maria! É por isso que acho que és uma atadinha! Os homens…
-Não me dês mais nenhuma palestra tua.
-Os homens – lá vinha o discurso de mulher livre – são nossos servos. Nós mulheres somos capazes de ter filhos sozinhas, eles, não. Somos o ser mais forte, eles só servem para fazer sexo.
-Vera, já tinha tantas saudades tuas!
-Deixa-me continuar… Se o rapaz está interessado em ti, é uma boa aposta para esqueceres o Diogo,
-Vera, tu sabes que eu não sou assim e não vou fazer isso. E tu, como é que vamos conseguir pagar isto?
-Podemos dizer que conheço o dono deste restaurante.
-E o teu marido?
-Ele ama-me, eu amo-o, está tudo feliz. – suspirei, Vera sabia muito bem o que isto significava. – Maria, sabes bem como eu sou. Estou apaixonada pelo Gonçalo mas não sou mulher de um homem só. Com o Gonçalo é tudo muito romântico, mas eu gosto de aventura, de emoção! É claro que nos primeiros anos, acha-se muita piada termos um homem só, mas ao fim de cinco anos, é como estarmos numa prisão. Ele sabe bem a mulher com quem casou.
-Vera, eu não me vou meter com o David para esquecer o Diogo. Para além de eu não ser assim, tão fresca como tu és, o David merece uma mulher que lhe dê tudo, ele é uma pessoa excepcional. Merece tudo.
-E tu, não mereces?
A questão foi colocada em cima da mesa. E eu, que mal tinha feito para não merecer ser feliz? Toda as pessoas do mundo merecem ser feliz, merecem estar junto de uma pessoa que as ama e que as faça feliz. Será que eu nunca iria encontrar alguém assim?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Diferenças...


Cheguei a casa por volta da meia-noite e meia, toda a casa ainda estava de pé, mesmo que no dia seguinte, fosse dia de trabalho. Matilde e Zeca estavam na sala a ver um filme da TVI e mal cheguei, Matilde levantou-se e veio a meu encontro e Zeca pôs a televisão na pausa (impressionante, hoje em dia até dá para porem as televisões no “pause”).
-Então, como correu?
-Coimbra… - fiz-lhe questão de lhe lembrar do nosso acordo. Ela falava do David, eu falava de Coimbra.
-Maria! Isso não é justo! Sou tua amiga! Não vais contar nada do encontro?
-Hei! Calma aí! Eu quero saber como correu! O betinho vai para  a minha lista negra? – disse Zeca enquanto estalava alguns ossos e fazia um sorriso maléfico. Já sabia que, dali não saía sem contar tudo. Abri um espaço entre eles os dois e passei por eles, para chegar ao sofá do outro lado da sala. Eles sentaram-se no sofá maior, prontos para ouvir.
-Então, nós fomos ao “Mira só” que é um bar brasileiro e foi divertido. O David é uma excelente pessoa mas nós somos muito diferentes. Ele não gosta de pessoas chatas, eu sou uma pessoa chata. Ele é muito religioso, eu não ligo muito à religião. Ele não gosta de extravagância, eu amava ser extravagante. Somos muito diferentes.
-Estou a ver que entre o betinho e ela não vai dar nada Matilde. Quando me pagas o almoço?
-Tu apostas-te um almoço com o Zeca sobre mim e o David? – estava boquiaberta, não queria acreditar, mau demais para ser verdade – Eu não acredito! Vocês até fazem apostas sobre a minha vida pessoal!
-Nada disso Maria, isto é só o Zeca que está a falar demais. Mas… Achas que são essas diferenças que vão ditar o destino?
-O destino?
-Sim, se vocês se apaixonam ou não…
-Ó Meu Deus! Eu até me torno católica se tu deres juízo a esta rapariga! Matilde, não se vai passar nada entre nós, mas o David é uma excelente pessoa, um excelente amigo. É daqueles pessoas que vale a pena conhecer, nem que seja numa conversa de cinco minutos. Ele é puro, simples…
-Vês Maria! Esse teu brilho no olhar… Não tinhas quando falava do Diogo. Quer dizer, tinhas, mas era muito apagado, como se o teu olhar já soubesse que aquilo, aquela relação não ia dar em nada.
-Matilde… Não vamos começar. Agora, passando à parte mais engraçada da noite e também a mais triste. No bar “Mira só” apareceu o Diogo...Com a Patrícia...
-Estás a gozar!
-Não estou…
-Desculpem, agora perdi-me, quem é a Patrícia? – dizia Zeca confuso.
-A ex-namorada do David. – esclarecia Matilde – conta lá isso bem!
-Ele resolveu levar lá ela e começaram aos beijos. Imagina agora a minha reacção…
-Estás bem?
-Óptima agora. O David é excelente amigo sabias? Ele ajudou-me imenso. – Zeca soltou uma risada. Percebi o porquê da risada, Zeca às vez parecia um tarado mas como ele diz, "não passo de um homem" e a maneira como ele disse "Ajudou-me imenso" foi suficiente para gerar risada. Matilde entendeu logo que eu tinha me ido abaixo. – Tirando isso, acho que arranjei emprego.
-Como é?
-Então, agora só volto a ir para a Faculdade no próximo ano, não ia estar parada. Então no bar estava lá um anúncio a dizer que necessitavam de uma empregada, então eu fui pedir informações.
-Espera aí, mas o bar não é brasileiro? Achas que eles vão aceitar uma portuguesa? Era o cúmulo! – gozava Zeca.
-O Sr. Do bar disse que isso não era problema, eu ia trabalhar de tarde onde há mais portugueses do que brasileiros a frequentarem o bar.
-Estou a ver… Duvido muito que te aceitem…
-Eu também, por isso mesmo é que amanhã à tarde eu precisava da vossa ajuda! – Fiz um daqueles sorrisos que dificilmente alguém resiste, já sabiam que eu ia pedir um favor.
-Que foi? – perguntava a Matilde com um certo tom de aborrecimento na voz. Com a resposta percebi que ela não tinha gostado da minha noite.
-Amanhã vamos à procura de emprego para mim! Vá lá! Vocês são uns queridos! De certeza que me vão ajudar!
-Eu amanhã não posso, tenho que ir à biblioteca. Vai com o Zeca.
-Ok… Zeca, vens comigo?
-Acho que sim, a que horas?
-Quando puderes…
-Então eu depois quando tiver despachado, ligo-te. – Zeca levantou-se deu um beijo na testa da Matilde e repetiu em mim o mesmo gesto – agora vou dormir… Estou cheio de sono. Maria, não te esqueças que depois de amanhã temos ensaio.
-Claro Zeca, até amanhã. Dorme bem! – Esperei até Zeca sair da sala para falar com a Matilde. – Agora nós. Que se passa?
-Não gosto da tua atitude com o David.
-Matilde… Eu já disse…
-Importas-te de me ouvir uma vez na vida? Eu sou tua amiga, há anos. Fomos educadas de maneiras diferentes e a verdade é que somos totalmente diferentes uma da outra! Tu não tens nada a ver comigo. Sempre foste muito mais responsável, pensaste sempre no futuro e tens medo dele.  Eu nunca quis saber disso, nem quero saber. O meu sonho é ser livre. Chega a ser parvo mas é o meu sonho. Nós até em ideais somos diferentes! Eu acredito em magia, no Tarot, em tudo isto. Tu achas que é tudo mentira. Eu gostava de ser modelo, tu achas que daqui a uns anos o mundo só terá modelos e jogadores de futebol e será tudo fútil e de casamentos arranjados. Até na música que ouvimos somos diferentes! Eu oiço pop, tecno, house. Tu ouves rock, grandes clássicos antigos, até música clássica tu ouves! Depois temos mais diferenças, tu adoras arte, monumentos, coisas antigas, adoras o passado e reviver o passado para ti é magnífico. Eu não gosto de nada disso, acho secante estar a olhar para uma tela que foi pintada à 200 anos atrás! Mas estas diferenças entre nós não te proíbem de tu seres a minha melhor amiga. São estas diferenças que fazem eu gostar tanto de ti, de eu achar que tu és uma das mulheres da minha vida! Agora, recusares o David pelas vossas diferenças… Isso acaba por te fazer uma pessoa fútil e ignorante.
-Matilde… Eu entendo o que estás a dizer, mas como tu própria disseste, eu sou tua amiga. Não tua namorada. As nossas diferenças fazem com que nós sejamos melhores amigas, mas não namoradas. Entre mim e o David não se vai passar nada. Talvez fiquemos muito amigos mas nada mais…
-Maria, não sabes que o amor é evolução de uma grande amizade?







Aviso

A partir de amanhã o blog estará oficialmente privado. Quem quiser ler que mande um mail para fanficdl@hotmail.com com o seu contacto. As pessoas que já me deram, não se preocupem, já está tudo tratado.
Beijinhos, Cat

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Sou o David Luiz"


-Sou David Luiz, tenho 23 anos e venho do Brasil, de São Paulo, Diadema!
Sou uma pessoa simples, gosto de ganhar títulos, não gosto de perder jogos. Gosto de pessoas com personalidade e não gosto de pessoas egoístas. Antes chamavam-me de macarrão, por ser magrinho e ter caracóis. Gosto muito de estar com a minha família, não gosto de estar longe deles. Gosto de dormir, de comer. Adoro o Benfica, nunca pensei que fosse assim. Sabia que era um grande clube, mas não assim tão grande. O Benfica é muito maior do que eu pensava. Não gosto de extravagância mas sim de simplicidade. Gosto de proporcionar às pessoas coisas boas, como o título de campeão do ano passado. Não gosto de fazer mal a ninguém. Costumo dizer muitas vezes “O futuro só Deus sabe”, sou muito ligado à religião. Gosto de ser feliz, alegre. Não gosto de tristeza. Sou muito brincalhão, mesmo muito. Sou igual às outras pessoas, embora algumas não achem isso. Gosto de jogar playstation e de ganhar ao Rúben e ao Gustavo. Não gosto nada de perder. Os meus pais, são como você disse, os meus ídolos. Prezo muito eles, honro eles e tudo o que eles me ensinaram até hoje, os princípios que me instauraram, à maneira como fui educado. Acho que sou um bocado frio, sei que isto tudo é passageiro, que um dia vai acabar. Amo o que faço e agradeço a Deus ter-me dado esta oportunidade. Gosto de ténis, de brincar com o meu pai, de falar com a minha irmã. Amo crianças, quero ter muitos filhos! Não gosto de pessoas más, ruins. A minha mãe diz que sou um bocadinho chato porque sou rezingão e vou sempre atrás daquilo que eu quero. A prova disso é mesmo o futebol, sai de casa aos catorze anos para ir atrás do meu sonho que era ser jogador de futebol, uma coisa que nunca é certa. Para muitos não passa de um sonho. Trabalhei muito para chegar onde cheguei. Gosto de liberdade, não gosto de estar sozinho. Quando era jovem e fui atrás do meu sonho, passei um ano e meio sem ver os meus pais. Passei muitas dificuldades na Bahia, houve dias que até passei fome. Mas não queria dizer aos meus pais se não sabia que tinha que voltar para o Diadema. Quando vim para Portugal, no inicio, por causa da distância e de não conhecer ninguém, ficava triste. Mas era isto que eu queria, não ia desistir. Não ia perder esta oportunidade. Não gosto de me ver nas fotos, gosto de pessoas sinceras, honestas. Sei que um dia, como o futebol, o meu cabelo vai desaparecer e eu vou ficar careca! Então agora aproveito ao máximo e deixo ele estar grande. Só vou ao cabeleireiro quando ele me está atrapalhando nos jogos e assim. Gosto de estar com os meus amigos, o meu pai sempre me falou que se temos dois ouvidos e uma boca é para ouvir mais do que se fala. O Gustavo, é um irmão para mim, ele me ouve, ele esteve sempre comigo. Sempre quis ter um irmão e Deus me deu um, ele não é interesseiro nem nada disso. É simples. Merece tudo mesmo. Não gosto de violência, não gosto de pessoas chatas. O meu sonho, aquele desde pequenino, foi o de chegar à selecção Brasileira, do meu país. Não só chegar como permanecer lá. Tenho saudades da minha privacidade. Em pequeno fazia de tudo, judo, futebol, natação… Gosto de aprender, adoro aprender! Falta-me alguns objectivos pessoais e profissionais. Mas acho que vou conseguir… E é tudo…
                Fiquei estática a olhar para o David, pensava que ele fosse mais um dos jogadores de futebol que leva uma para a cama todas as noites, mas não. Ele ainda era muito mais forte do que eu, fazia-me sentir pequenina. Era diferente da pessoa que eu tinha imaginado, era genuíno, sincero. Uma excelente pessoa.
-Que foi? Porque está olhando assim para mim?
-És diferente do que tinha imaginado…
-Não me diga que desiludi você!
-Nada disso, impressionaste-me. És brilhante, puro, espectacular. Uma excelente pessoa mesmo! Mas, eu tinha razão…
-O que foi?
-Somos muito diferentes. Mesmo muito…
-E por causa disso não nos vamos dar bem?
-Não, claro que não. Mas não vai sair disto.
-Porquê?
-Somos muito diferentes. Eu e o Diogo éramos muito parecidos.
-Se calhar foi isso que falhou na vossa relação. Serem idênticos.
-Talvez. Isso ou então ele não me conhecer e eu não conhecer ele. Mas nós, somos muito diferentes…
-É isso que você acha?
-Não sei o que achar neste momento. Talvez o melhor é irmos para casa…
-Já?
-Estou um pouco cansada…
-Sendo assim eu levo você a casa.
David ligou o carro e fez o prometido, levou-me a casa.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"Me fala de você"

-Me fala sobre você. Sem rodeios e sem perguntas. Apenas diga como é.
-Hum… Difícil. Então, odeio falar sobre mim. Refugio-me no meu canto e nunca conto nada a ninguém. Prefiro sofrer sozinha do que sofrer ao lado de alguém. Adoro pessoas chatas, identifico-me muito com elas. Odeio oportunismo e cinismo. Odeio discriminação e odeio pessoas que se acham “coitadinhas”. Adoro que me digam “és insignificante”, pois se sou insignificante, porque raio necessitas-te de dizer isso? Adoro que saibam quem eu sou, dá-me um gozo enorme, principalmente quando são pessoas que não gostam de mim. Odeio que as pessoas não me conheçam e fiquem com a ideia errada de mim, pensem que sou convencida. Eu sou convencida, mas odeio que pensem que sou só convencida e uma grande cabra. Sou teimosa. Odeio que me chamem à razão, odeio fazer coisas mal. Sou super perfeccionista embora seja muito imperfeita. Tenho como ídolo a Sara, uma amiga minha, ela é quase como minha irmã. Só não o é, porque o ADN não o permite. Ela é tudo o que eu desejo ser. Sou fraca para algumas coisas e forte para outras. Consigo perdoar toda a gente e receio que vá perdoar o Diogo se ele quiser voltar. Odeio mentiras, odeio pessoas que são influenciáveis, embora também seja uma dessas. Adoro que me olhem nos olhos. É como se conseguisse ver como uma pessoa realmente é. Odeio não conseguir dizer às pessoas o quanto as amo. Adorava ser frontal cara a cara, mas quando é assim prefiro não dizer nada. Prefiro estar na pura ignorância em vez de dizer “tu és isto” ou “tu és aquilo”. Mas sou capaz de dizer pelos telemóveis ou pelos Messenger. Odeio tecnologias. Sou anti-capitalista mas segui gestão para ganhar mais do que um médico. Não segui o meu sonho, fui fraca. Queria ser médica mas não estudei e por isso segui gestão para ganhar mais do que um. Preferi sempre que as notas viessem ter comigo. Adoro ser irreverente, mas tenho vergonha de o ser à frente das pessoas. Medo do que elas possam pensar. Tenho medo do futuro. Se pudesse ter um momento com os meus amigos e dizer-lhes todas as verdades que me viessem à cabeça eles ficariam surpreendidos comigo. Sou infantil, ingénua às vezes. Odeio como as pessoas mudam. Não é mudar, é… Revelar. Odeio como as pessoas são capazes de ser tão diferentes quanto nós esperávamos. De se revelarem ser umas pessoas incrivelmente más. Adorava saber tocar guitarra mas não sei e sinceramente, dá-me preguiça só de pensar que tenho que aprender aquelas notas todas antes de tocar. Sou uma chorona de alto calibre. Às vezes as pessoas magoam-me só com palavras e eu não digo o quanto me magoaram. Apenas choro. Há uns anos atrás adorava ter montes de amigos! Mas aprendi que, não vale a pena serem muitos, podem ser poucos, desde que sejam bons. Acho que ninguém me conhece. Quem me conhecia melhor era o Diogo, mas não totalmente. No entanto, ele sabe como me magoar. Adorava que daqui a uns anos fosse totalmente independente, tivesse o meu trabalho, o meu carro, a minha casa, o meu marido e os meus filhos. Odeio contrariar-me a mim própria, coisa que faço muitas vezes. Sou uma super adepta do Benfica, a sério que sou. Lembro-me de um Natal em que não me puderam dar a camisola e deram-me outras coisas e eu achei uma futilidade enorme! Eu queria a camisola! Então aparece-me a minha mãe com umas meias do Benfica. Fiquei a mulher mais feliz de sempre, a sério que fiquei! Nem me importei com as outras prendas! Adoro ajudar. Dá-me um prazer enorme ajudar. Adoro ler e adoro escrever. Tenho um diário onde escrevo tudo. É infantil, eu sei, mas é verdade. Adorava ter paciência para manter um blog onde lá pusesse informações e fotos e onde fala-se abertamente da minha vida, mas não tenho paciência para ir todos os dias ao blog! Sou preguiçosa, muito mesmo! Prefiro que as pessoas me digam as verdades, sejam frontais em vez de palmadinhas nas costas. Adoro ver fotos antigas e recordações. Não desejo voltar a ser criança, adoro crescer e acho maravilhoso as lições de vida que nós aprendemos no dia-a-dia. E sabes? Tinha razão… Ninguém me conhece, nem Diogo. Lembro-me de um dia, há uns meses atrás, Diogo disse-me “Quando casarmos a nossa lua-de-mel vai ser em França, na capital de França!”. Eu odeio França! Odeio! Não gosto daqueles mais que vistos. Um dia adorava ir a Roma! Não tenho religião mas acredito em Deus. Adorava visitar o Vaticano, aquelas igrejas lindas, todos aqueles monumentos. Uma cidade maravilhosa! Amo comer, adoro doces e adoro novas culturas! Adorava conhecer o mundo. Nunca falei tanto sobre mim a uma pessoa que conheço há tão pouco tempo. Ganhas-te ao taxista à bocado hein? O meu melhor amigo é o Zeca, é espectacular, das pessoas mais incríveis que conheço. O meu irmão é o meu anjo da guarda e amo a Matilde! Amo-a mesmo! O meu pai, nunca me perdoou ter saído de casa e a minha mãe é a tradicional mãe, amiga. Sou muito complicada. E pronto, acho que é tudo…
David continuava a olhar para mim, sem falar.
-Tens que falar comigo.
-Não disse que gostava de olhar nos olhos?
-Sim, mas agora quero saber o que achas de mim.
-Podia ficar a noite toda a ouvir você a falar. Não me importava nada. Você é tão sincera…
-Não sejas tolo.
-Não estou a ser tolo.
-Estás sim, e tu? Quem é o verdadeiro David Luiz?


"Eu quero conhecer você"


David voltou para o lugar e ficou a olhar para mim, os meus olhos estavam fixos no fundo da sala.
-Que se passa?
-A tua namorada e o meu ex-namorado estão ali ao fundo…
-Hã?! A Patrícia?
-E o Diogo?
David olhou para trás e voltou a olhar para mim, encolheu os ombros e fingiu que nada se estava a passar.
-Não achas estranho? Quer dizer, ela é tua namorada!
-Ex-namorada. Não tenho nada haver com ela. E você não acha estranho?
-Por isso mesmo é que eu estou com esta cara! Como é que eles sabiam que nós vínhamos aqui? Contaste-lhes?
-Não! Mas eu costumo vir aqui. A Patrícia deve ter adivinhado.
-Lindo… Isto sim, é lindo.
-Quer ir embora?
-Não! Nada disso! Nós estávamos aqui primeiro certo?
-Certo…
-Então vamos continuar aqui! – os meus olhos agora fixavam-se no balcão e na informação que lá dizia. “Part-time à tarde”.  – David, como é que é o ambiente aqui?
-É muito bom! Toda a galera está sempre falando e festejando. Faz lembrar muito o meu país!
-Hmm.. Espera um pouco então.

*Amo-te Maria*

-Que foi fazer?
-Então, fui ver se aquela vaga ainda está aberta… - David olhou para trás e viu o placar e soltou algumas gargalhadas.
-Que foi?
-Uma portuguesa num bar brasileiro?
-É a tarde. Tiveram-me a dizer que à tarde costumam vir mais portugueses por isso não faz diferença.
-E eu tenho direito a uma bebida grátis?
-Nem pensar! Achas mesmo? Tu tens que pagar!
-Pronto, pronto… Olha, você não quer ir embora? Estou farta de pessoas a olharem para nós.
-Eles ainda não pararam?
-Não, e o pior é que eles já se beijaram e tão à espera que nós façamos qualquer coisa.
-Beijaram-se?!
-Sim…
A raiva instalou-se em mim, senti vontade de explodir e de partir Diogo aos bocadinhos. Qual a reacção de uma pessoa que acaba de ouvir que o ex-namorado que ainda ama está no mesmo bar a beijar outra mulher? O mesmo homem com quem partilhou tudo, com quem viveu durante dois anos, com quem lutou contra uma doença horrível junto dele? Chora. Chora e vira as costas e vai-se embora. Muitas pessoas podiam ir lá pedir justificações, outras vingar-se com o rapaz que tinham à frente mas eu não era assim. Eu preferia fugir e chorar, acho que ainda era o que fazia melhor. Sai do bar e tentei apanhar um táxi.
-Maria! Espera aí! Tem calma… Não fica assim não. Ele não merece você.
-Eu sei que ele não me merece! Mas o sentimento continua aqui! Está sempre presente! Sempre! Ele já parece ter-me esquecido à muito. Quer dizer, acho que ele nunca chegou a amar-me! – virei-me para a estrada – eu só quero sair daqui!
-E para onde você vai? Para casa? Nesse estado? Não posso deixar…
-Porquê?
-Porque a ideia de vir aqui foi minha e enquanto você esteve comigo ficou nesse estado.
-A sério, não vale a pena. Isto podia acontecer em qualquer dia. Eles iam fazer isto… Eu nem sei como é que não estás perturbado com isto tudo!
-Porque eu não gosto dela. Mas você ama ele… E muito. – fiquei sem saber o que pensar. Afinal David era o tradicional jogador de futebol. Que anda com as meninas segundo a beleza. O amor não faz parte dos planos.
-Tu não gostavas dela?
-Eu gostar gostava, mas agora não.
-Não se esquece uma pessoa assim…
-Alguém me fez esquecer ela. Mas não há nada que eu possa fazer.
-Sabes, eu dou óptimos conselhos. Queres que te dê um?
-Estou a ouvir.
-Se gostas de alguém, luta por essa pessoa. Não a deixes escapar. Pode ser o amor tua vida. Eu fiz isso.
-E não resultou.
-Não era o homem da minha vida.
-E quando é que você vai dar oportunidade a outro homem para provar o seu amor.
-Estou à espera disso David, mas não quero magoar ninguém. Tenho medo de magoar essa pessoa. Eu não mereço ninguém.
-Magoar? Como é que você pode magoar alguém?
-Eu não vou conseguir amar a pessoa da mesma forma como amei o Diogo.
-Como sabe?
-Eu sinto isso. Eu sinto.
Diogo sai do bar agarrado a Patrícia. Eu estava à beira do passeio com David atrás de mim. As lágrimas continuavam a cair, estava tanto frio que os arrepios apareciam de vinte em vinte segundos.
-Vem comigo. Quero mostrar uma coisa a você… - Ele puxou-me pela mão e levou-me até ao sitio onde tinha o seu carro estacionado – entra no carro.
-Onde vamos?
-Já vai ver.
Entrei dentro do carro, era enorme. Parecia um jipe daqueles das corridas de todo o terreno. David ligou o carro e começou a conduzir. Não sabia para onde íamos, nem o que ia acontecer. Na minha cabeça só estava o Diogo e o meu sentimento sobre ele. Já não sabia o que sentia, estava tudo tão turvo. Agora, a raiva apoderava-se de mim, não o amor. Não sabia se era amor ou raiva. Mas sabia que era muito forte. O tempo passava, o rádio estava na “Mega FM” e passava mais uma daquelas músicas pop e calmas que falavam sobre a separação. As música passavam, mas repetiam sempre o mesmo assunto. As letras eram iguais, só por dizer que os sinónimos faziam de sua justiça. David parou o carro, nem dei pelos minutos passarem. A viagem foi feita no silêncio. Eu estava no meu mundo à parte. David saiu do carro e pôs-se na parte da frente do carro, encostado ao capot. Sai e encostei-me também. A vista era maravilhosa. Há nossa frente estava a ponte 25 de Abril e conseguia-se ver o Cristo Rei. Sabia que David era religioso, este sitio devia significar muito para ele.
-É linda a vista.
-Eu sei. Venho sempre para aqui quando tenho problemas. Dá para pensar sobre os nossos problemas. Achei bom para você...
-David, posso-te fazer uma pergunta?
-Claro…
-Porque é que me estás a ser tão simpático para mim?
-Você é diferente sabe? É sincera, simpática, você é forte. Você não se interessa pelo dinheiro que tenho ou pela reputação que tenho. Mas odeio uma coisa em você…
-O quê?
-Você ama o Diogo e eu não posso lutar contra isso.
-Como assim?
David punha-se agora na minha frente e falava-me olhos nos olhos -A cada segundo que passa me sinto mais atraído a você. Quero descobrir tudo a cerca de você, saber o que gosta, o que não gosta, o que quer, o que não quer. Tudo. Mas sinto que você não quer que eu saiba nada a cerca de você.
-Não te quero magoar.
-Eu arrisco. - David aproximava-se, ficando cara-a-cara comigo. Sentia a sua respiração - Eu não me importo de sair magoado mas deixe-me tentar. Deixe-me tentar fazer com que você esqueça o Diogo.
-David… Eu não vou conseguir.
-Depois nós vemos isso.
-Eu vou-te magoar.
-Eu não me importo. Já disse. Mas deixe-me conhecer você.
-O que queres saber? - David afastou-se e dirigiu-se para a porta do carro.
-Vamos para dentro do carro, está frio.
-Concordo.
Entramos dentro do carro e David ligou o aquecimento. Tinha as mãos geladas e os arrepios do frio tinham tomado posse de mim.
-O que queres saber?

"Mira só"


Coloquei o telemóvel em cima da mesinha de cabeceira e começamos a montar a cama. Ouvi o telemóvel a tremer mas estava do outro lado da cama e resolvi pedir a Tiago para me passar o telemóvel.
-Bicho, passa-me aí o telemóvel.
-Mensagem… De quem? – Tiago agarrou no telemóvel e começou a vasculhar. – David? Quem é o David? Eu não conheço nenhum David…
-Tiago! Nem penses em ler a mensagem!
-Ora bem, vamos ver o que aqui temos… - disse, ignorando as minhas palavras. – “De certeza? Posso ajudar… Então fica combinado para as nove e meia. Estava a pensar, conhece o bar… - saltei a cama e fui a correr atrás de Tiago, que já tinha ido para a sala e continuava a ler a mensagem – “Mira só”?! Que raio de bar é este? – comentava Tiago, o bar que David tinha escolhido. – “É muito bom. Quer que eu vá buscar você?” – Tiago ficou de olhos arregalados a ler ao ler o “você”. – Eee maninha! Há duas hipóteses, ou o gajo pensa que tu és uma doutora, ou é brasileiro. Como tu, nem no dia das mentiras ou no carnaval tens cara de doutora, é brasileiro! – Começava-me a irritar aquela xenofobia do meu irmão.
-E se for? Qual é o problema?
-Nenhum… Não sei é se o general vai gostar de saber. – Referindo-se ao nosso pai. – Continuando… “Beijo” e depois mandou uma carinha de um boneco a piscar o olho. Vai avançado isto.
Finalmente consegui retirar-lhe o telemóvel das mãos. – És tão idiota pá! Olha, fica sabendo que foi ele que me “salvou” de Diogo.
-Como assim, “salvou”? O Diogo tocou-te? – a irritação era visível no Tiago. Talvez fosse melhor não falar da conversa de Diogo no Isabelinha.
-Não, mas veio falar comigo. E o David estava lá.
-Mas quem é este David?
-Se tivesses ido ontem ao concerto…
-E! O Concerto! Esqueci-me totalmente! Desculpa!!
-Não faz mal, eu entendo.
-Se não entendesses, eu fazia com que entendesses.
-Como?
-Pendurava-te de cabeça para baixo.
-Que idiota… Vá, vamos montar o resto da cama.

*Amo-te Maria*

O dia passou depressa. Depois de almoçar com Tiago, fomos ter com Matilde para irmos comprar o colchão. Tiago tentava descobrir quem era o tal David mas Matilde não falava. “São coisas da tua irmã”, dizia. Uma coisa era certa, Matilde já sabia que ia sair com David. Quando chegássemos a casa, vinha o interrogatório de Matilde.
-Então, e a que horas vais?
-Às nove e meia.
-E ele vem-te buscar?
-Não, sei ir de táxi.
-E vão só vocês?
-Sim.
-E a que horas voltas?
-Nã… - não me deixou acabar a frase.
-Espera, deixa-me reformular a pergunta. Voltas a casa?
-Hã?
-Voltas para casa… Tu sabes, se dormes cá esta noite!
-Matilde… Controla-te!
-Tens tomado a pílula?
-MATILDE! – soltei um grito suficientemente forte para se ouvir na outra extremidade do apartamento. – Só amigos, lembras-te? Não queres que volte a falar de Coimbra pois não?
-Não… Mas posso-te ajudar a escolher a roupa?
-Já escolhi.
-Vais levar o quê?
-Umas calças de ganga castanhas e a minha camisa vermelha.
-Então e… Não queres ir mais arranjada?
-Não!
-Ok, ok… Então vai-te arranjar enquanto eu faço o jantar.
-Vais fazer o jantar? Ok, eu vou chamar o homem das pizzas.
-Ah-ah, gracinha…
Pisquei o olho e tentei-me despachar o mais rapidamente possível. Tínhamo-nos atrasado um pouco e já era oito e meia e não queria fazer o David esperar. Odiava chegar atrasada. Depois de estar arranjada, fui a cozinha. Matilde já tinha a comida pronto e era uma bela de uma pizza. Sempre era melhor do que um bicho mal assado ou assado demais. Quando acabei de comer, reparei nas horas. Nove e meia… “Merda”, pensei. Já estava atrasada. Fui a correr para a casa de banho para lavar os dentes e corri para fora de casa, sem sequer me despedir de Matilde. Tentei apanhar um táxi na praceta que existia à frente da casa de Matilde, mas por incrível que parecesse, não havia um táxi! Começava-me a irritar, ao fim de dez minutos lá apareceu um para me salvar a noite. Indiquei qual era o bar e o senhor taxista olhou para mim e perguntou “É do Brasil, a menina?”. Respondi-lhe que não e perguntei-lhe porquê a pergunta. Ele na sua maior das simpatias respondeu-me que era um bar frequentado por brasileiros e pelo próprio também (o taxista era do Brasil). Logo entendi o nome do bar “Mira só”… A viagem demorou um bocado mas eu adorava andar de táxi, era como ir ao psicólogo. Os taxistas não tinham medo de perguntar nada e eu, como adorava falar, contei-lhe um pouco de tudo. Era mais fácil falarmos com alguém que não conhecemos do que com alguém que conhecemos à muito tempo. Chegamos ao Bar em pouco mais de vinte minutos. Já estava mais do que atrasada, talvez David já nem estivesse no bar. Quando entrei lá, tentei procurar uma cabeça com muitos caracóis, nada. Nada de nada. Sentei-me numa mesa e pedi um café e uma garrafa de água. Com uma demora de 30 minutos era normal que já tivesse ido embora.
-Estúpida!
-Porquê? – David surgia nas minhas costas com um sorriso magnifico, como lhe era característico.
-Pensei que tivesses ido embora…
-Nada disso, estava só ali atrás a falar com uma amiga.
-Uma amiga?
-Sim, uma amiga. É ciúme isso moça?
-É sim, então deixas-me aqui para falar com uma amiga? Não acho isso bonito! – disse-lhe tentando ficar séria. David olhava para mim meio desesperado, como se quisesse dizer “Você é doida?! Onde eu me vim meter!” mas eu rapidamente me desfiz em gargalhadas para alivio de David.
-Você… Você me assustou!
-Não te preocupes. Eu é que estava preocupada que tivesses ido embora. Odeio chegar atrasada.
-Acontece, como o meu pai me diz “As mulheres chegam sempre atrasadas”.
-E tem razão. Mulher que é mulher chega atrasada, mas eu odeio chegar atrasada e são raras as ocasiões que chego….
-Gosto disso em si. Que quer beber?
-Já tenho um café…
-Não quer um cocktail ou uma caipirinha?
-David Luiz, estás a tentar embebedar-me?
-Não! De forma alguma! – Acho que fui demasiado convincente, David ficou novamente desesperado.
-Estou a brincar contigo… O que vais beber?
-Eu não posso beber álcool, por isso vou beber um cocktail de morango.
-Morango? Nesta época do ano?
-Sim, vêm do Brasil! – David ri-se e fiquei a olhar para ele. O rapaz era bonito, devia ser isso que deixava as raparigas malucas – vai beber um também?
-Sim, pode ser... – David levantou-se e foi à bancada pedir as bebidas. Quando menos esperava vejo duas caras conhecidas a entrar pelo bar. Não queria acreditar!