quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Queria ir mas será o correcto?"

Acordei com a minha mãe a meu lado, estava a descansar junto da cama do hospital. Tantas vezes que já tinha visto esta imagem mas algo que nunca tinha visto era o meu pai com uma mão nas costas de David, tentando dar um certo apoio a ele e David cabisbaixo. Quando David se apercebeu que eu tinha acordado, entrou dentro do quarto e agarrou na minha mão. A minha mãe acordou de seguida e quando ia para dizer algo, o meu pai interrompeu-a e saíram os dois do quarto depois da minha mãe acenar com a cabeça. Quando olhei para o David, os seus olhos estavam vermelhos, as mãos suadas e as olheiras demonstravam vários sinais de cansaço, tristeza e preocupação. Eu conhecia-o, muito bem.
-Maria… Me desculpa. Eu… Eu não sabia, eu não devia ter feito nada e agora…
-Pshíu..- Tentei acalma-lo, estava muito nervoso. – O que se passou?
-Maria, você caiu pelas escadas do meu prédio. Dois lances de escadas. Quando eu cheguei perto de você, sangrava da cabeça. Os médicos disseram que ia ficar bem, que tinha feito um traumatismo craniano e que… E que tinha perdido o bebé… - O mundo caiu a meus pés, David sabia de tudo e soube da pior maneira possível. Os meus olhos enchiam-se de água acabando por cair algumas lágrimas. David apertou a minha mão e limpou-me as lágrimas à medida que elas iam caído. – Não fica assim meu amor, tudo vai passar. Você está bem, isso é que importa. O… O bebé pode ficar para outra altura, nós voltamos a tentar.
-Não entendes… Eu não estou assim por causa do bebé. Não sentia nenhuma ligação, não sentia nada. Era apenas uma coisa dentro de mim. Não queria que… Não queria que soubesses desta maneira, não merecias. Desculpa. Eu sou tão… - David colocou-me um dedo em frente dos meus lábios.
-Não te preocupes com isso, amo-te muito Maria. Tive tanto medo de te perder, não queria isso. Não quero nunca te perder. Fazes parte da minha vida, és a minha vida. Por isso tomei uma decisão…
-O quê?
-Vou ficar em Portugal, aqui, com você.
-Não! – Respondi directamente a David – Tu não podes fazer isso. Eu não te posso impedir de ires atrás dos teus sonhos. Não posso. Tens de ir, tens de lutar por aquilo que queres.
-Eu não vou sem você.
-Ouve, nós somos jovens. Talvez até demais. Nada é seguro agora… É bom nós irmos com calma. Não me podes pedir para estar contigo, para mudar-me para Londres contigo… Tu sabes como eu sou… Eu quero tentar primeiro aqui em Portugal e depois lá fora.
-Então e nós? O que vai ser de nós dois quando eu for embora de Portugal?
O silencio predominou aquela sala. Eu não acreditava em relacionamentos à distância mas acreditava no nosso amor.
-Vamos com calma. Quando eu tiver férias de faculdade vou ter contigo e tu a mesma coisa.
-E o resto do ano?
-O resto do ano o nosso elo de ligação vai ser o telemóvel, o computador, o que quer que seja. Mas eu não te quero perder.
-Você sabe como isto vai terminar?
-Se terminar, cada um vai para seu lado e começa tudo do zero.
-Eu não quero que isto termine.
-Nem eu David, nem eu.
O médico pediu licença para entrar, atrás vinha a minha mãe e o meu pai. Explicou que iria sair no dia seguinte, que o traumatismo tinha sido leve mas que precisava de descansar durante uma semana. David ofereceu-se logo para cuidar de mim, pediu todas as indicações sobre o que deveria de fazer. Depois de toda a exaltação de David e do meu pai a pedir conselhos ao médico, a minha mãe numa indirecta subtil sugeriu a David para ir-se embora. “David, não queres ir comigo buscar um café? Não sei onde fica o bar.”. Algo normal, o problema é que a minha mãe não gostava de café. Sabia o que vinha dali, o meu pai queria falar comigo. David acompanhou, pensando que a minha mãe gostava mesmo de café. O meu pai ficou em silêncio durante uns momentos, parecia que queria que fosse eu a iniciar a conversa. Visto que fiquei calada, começou o seu testemunho.
-Lembro-me de ti com dez anos, andavas as cavalitas do teu irmão. Davam-se tão mal e ao mesmo tempo… Tão bem. Nunca tivemos férias melhores do que essas, em Porto Covo. Vocês deram-se estranhamente bem. Queria que o tempo parasse e que ficassem assim para sempre. Sabia que vocês, mais tarde ou mais cedo iam querer liberdade, iam ter namorados e iam sair de casa. O teu irmão nunca foi o meu maior dos problemas, mas tu… Sempre te vi como a minha menina, a menina que eu não podia largar. Eras frágil e com o tempo mais frágil ficaste. Vi-te crescer, a ficar adulta, vi-te adoecer, a ficar agarrada a uma cama do hospital e com muito orgulho vi-te erguer. Lutas-te contra tudo e contra todos e mostraste-me que não eras frágil mas muito forte. Quando te vi a sofrer pelo Diogo, não queria que sofresses mais e logo a seguir apareces com mais um namorado que é futebolista. Sou teu pai e tirei uma conclusão precipitada, como qualquer um pai poderia tirar. Irias sofrer novamente.  Fui duro, demasiado duro. Injusto talvez, não só para ti como para o David. Este fim-de-semana fez me ver que muitas coisas filha. Maria, o David ama-te como nunca nenhum homem te amou. Passou o fim-de-semana inteiro a falar de ti e quando vieste para o hospital desesperou até ao fim. Parecia doido, perguntava a todos os médicos como estavas, colocou-te no melhor hospital da zona e nunca saiu daqui. Dormiu naquele sofá minúsculo e esperou até acordares. O desespero dele era tal que mesmo assim, perto de ti, não conseguiu descansar sem saber uma boa novidade. Filha, ele é um excelente rapaz e tenho que admitir que tinhas razão e eu estava errado. Ele pode ser futebolista, ele pode ser brasileiro mas não deixa de ser uma excelente pessoa.
-Desculpa pai… Eu devia de ter dito mais cedo mas tinha medo. Tinha medo por tudo aquilo que disseste, eu não sabia que a minha relação com o David era segura ou não mas hoje tenho a certeza. É este homem que eu amo e é este homem com quem eu quero ficar. Eu amo-o imenso, de facto, nunca me senti tão ligada a alguém. Ele pode não ser perfeito mas eu amo todos os defeitos dele que às vezes fazem-me endoidecer. Era terrível saber que eras contra o meu relacionamento com ele. Nós gostamos mesmo muito um do outro e contigo contra… Era como um sonho tornado em pesadelo. Ele não me vai desiludir pai, eu sei que não.
Fez-se um pouco de silêncio no quarto. O meu pai, por fim abraçou-me e sorriu-me. Entendi que havia uma mensagem por de trás daquele sorriso. Talvez um “Adoro-te imenso”. David, chegou pouco depois mais a minha mãe. A festa da minha mãe era incrível. Agarrou-me, deu-me beijinhos e mais avisos. “Tem cuidado com o que fazes! A tua mãe já está a ficar velha, não tenho coração para isto!”. David estava encostado num canto da sala, o seu olhar deixava-me preocupada. David estava triste, deprimido… Não sei bem. Estava distante, não o sentia ali. Precisava de falar com ele, precisava de senti-lo só meu, outra vez.

-Bem, você tem que descansar. – David tinha-me levado ao colo até ao seu quarto. A sua casa estava igual desde da última vez que aqui tinha estado. Eu olhava para David, a sua tristeza perturbava-me. – Você quer alguma coisa para comer?
-Não. Quero que me digas o que tens.
-Eu não tenho nada. Estou preocupado com você.
-David, conheço-te muito melhor do que isso e tu sabes muito bem isso. – David não respondeu. Começava-me a irritar o seu silêncio. – David! Por amor de Deus! Diz-me o que se passa!!
David suspirou e percebi que iria falar e que o assunto não me iria agradar. – Há uma proposta do Chelsea… Maria, eu preciso disto. Eu preciso de aceitar esta proposta. Preciso de crescer como jogador mas eu não consigo estar longe de você…  Por favor, se tudo se der por bem, vem comigo…
Senti um nó na garganta. A verdade é que, se fosse só pelo David eu ia com ele. Ficava com ele e ia atrás dele… Mas tinha coisas a prenderem-me a Portugal. Queria completar o meu curso e tinha família aqui.
-Eu… Eu não posso fazer isso David.
-Porque não pode? Eu tive a ver, e você podia ir para a Universidade de Londres, “London School of Economics”. É uma universidade muito importante em Londres e você fala muito bem Inglês, a língua não seria um problema para você.
-David… Eu não posso tomar esta decisão assim. Eu tenho família em Portugal, tenho tudo aqui.
-Eu também deixei o Brasil, vim para Portugal atrás do meu sonho.
-E o que te leva a crer que o meu sonho é ir para Londres?
-A Matilde disse-me que você amou estar na cidade… Eu sei que o seu sonho é conseguir vingar em Portugal mas… você podia estudar em Londres e depois voltar para cá.
-David…
-Maria, por favor, não peço que tome alguma decisão agora mas pensa no assunto, vai? Agora, vou fazer uma tosta daquelas grandes que você gosta para depois você poder descansar com a barriguinha cheia, está bom?
-Claro meu amor. – Não soube responder, a não ser “Claro meu amor”. Sorri-lhe e viu-o desaparecer, deixando o quarto. Virei-me para o lado esquerdo e reparei que a sua cama já tinha duas almofadas, a minha e a dele. O lado direito pertencia-me e o lado esquerdo da cama era dele. Na sua almofada estava um caracol do seu cabelo. Comecei-me a rir, lembrei-me das suas conversas comigo.

-Você sabe, daqui a uns anos vou ser careca! Depois as meninas já não vão querer autógrafos nem fotos comigo…
-Humm… Podes ficar careca agora?
-Como é?
-Não gosto de ver tantas mulheres a desejar o meu homem… Ainda por cima muitas delas são bem bonitas.
-Pois são… Mulher portuguesa é bonita! No ano passado conheci uma bem jeitosa, Mariana Monteiro. Você sabe, a actriz. Simpática a moça…
-Olha! Vê lá se não queres ir ter com ela! Dás beijinhos, abraços, carinhos. Estás à vontade!!
-Sabe o que a mulher portuguesa também é? Ciumenta! Muito ciumenta!
-Espero bem que não seja uma indirecta para mim.
-Como é que eu me poderia interessar por outra mulher se só tenho olhos para você?

Fez-me recordar alguns momentos com David. Estava tão apaixonada por aquele homem, era dependente dele. Sentia-me dividida, por um lado queria ir, por outro queria ficar.
-David, amor, quando puderes traz-me o computador, se faz favor.
-Vou já meu anjo. – E por incrível que pareça, ele cumpria. Ao fim de pouco tempo, tinha o computador no meu colo. Procurei pela tal universidade e fiquei espantada com o que vi. Em Londres, na cidade mais maravilhosa que já tinha visitado, uma das mais conceituadas universidades de Ciências Politicas do mundo.  Fui interrompida nos meus pensamentos por David, com uma grande tosta na mão. – Ora, aqui está o prometido, uma grande tosta para a minha donzela.
-E que o meu príncipe vai-me ajudar a comê-la, pois é mesmo muito grande.
-Mas isso é óbvio, minha doce princesa. O que estavas a ver? – Dizia enquanto dava a sua primeira dentada na sua tosta.
-A London Schools of Economics.
-Maria, você não precisa de tomar a decisão agora. Para além disso, nós podíamos fazer as coisas de maneira diferente. Você ia visitar-me aos fins-de-semana e depois as férias vinha visitar-me e assim… Não era preciso mudar-se, eu posso…
-Podes-te calar? Tenho uma coisa para dizer-te!




Olá meninas, peço imensa desculpa pela demora mas tenho tido muito por fazer. A escola ocupa-me muito tempo, com trabalhos, testes e outros. Agora, numa nova iniciativa vocês podem decidir o rumo a dar a história. Deixem um comentário com a vossa opinião sobre o que deverá acontecer a Maria, se deverá ficar em Portugal ou se deverá ir com David para Londres. Mais uma vez, peço desculpa. Beijinhos, Cat*