quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"O teu sorriso..."

David olhava para mim enquanto eu contava a história do meu pai, ele sabia pouco da história e sabia que depois de lhe contar isto, ele iria dizer o que achava. Matilde expressa o quanto contente estava, deu-me um braço que eu ia quase sufocando. David esboçava pela primeira vez um sorriso. Ele ficava feliz com a felicidade das outras pessoas. Uma parte de mim queria amar aquele homem, por tudo o que ele tinha me mostrado até agora. Outra parte, dizia que amava o Diogo e que David era jogador de futebol, nunca iria resultar. Matilde voltava a sentar-se e voltava a ser a mesma Matilde, com as mesmas perguntas pertinentes.
-Então e vocês? – David desmanchou o sorriso e eu olhei para ela com “quatro olhos”.
-O que queres dizer com isso?
-Então, estavam aqui os dois, sozinhos…
-Matilde…
-Matilde – David tinha interrompido o que eu ia para dizer – entre nós não há nada. Somos bons amigos e isso vai continuar assim. A Maria é uma muito boa pessoa e uma amiga ainda melhor e eu prezo isso.
-Só há isso? – Matilde olhava para mim. Os meus olhos estavam fixados em David, naquele momento só via “David” e não “David Luiz”. A estrondosa pessoa que ele era, e o quanto ele se tinha tornado importante. Um grande amigo. Nunca tinha dado tanta confiança a uma pessoa que conhecia há tão pouco.
-Sim, só isso.
-Acho que a Maria acha algo diferente. – Não tinha ouvido nada, os meus olhos continuavam fixados na cara de David, nos caracóis cor de mel dele, nos olhos esverdeados e nos dentes brancos e sorriso maravilhoso. De repente, ele virou-se para mim e ficou cara-a-cara, olhos-nos-olhos comigo. Um arrepio invadiu-me, percorreu todo o corpo em menos de um segundo.
-Hã? Desculpem, estava no mundo da lua. Concordo com o que o David disse. – David sorriu, o arrepio voltou.
-Você está com frio?
-Não, não. Estou apenas a sentir-me estranha. Bem, querem alguma coisa para comer? Estou a ficar com fome.

*Amo-te Maria*

Depois de um lanche, David despediu-se e foi-se embora da casa de Matilde. Como já era habitual, Matilde fez o seu interrogatório mas as minhas respostas eram sempre iguais, para desagrado de Matilde. Infelizmente ainda sofria por Diogo e o meu pensamento era só dele. Falei-lhe da ideia de David e pusemo-nos a caminho do estádio da Luz para ver o que arranjava. Depois de entregar o currículo, disseram que entravam em contacto comigo. Com sorte ia acontecer o mesmo que aconteceu no bar. Visto que pouco faltava para comer, decidimos ir ao Colombo, o Natal estava a chegar e ainda não tinha prendas para ninguém. Adorava comprar prendas. Na minha família fazíamos troca de prendas, como éramos muitos (visto que ainda vinham os irmãos dos meus pais que traziam os filhos, uma grande família). Este ano tinha ficado com o Tiago.
-O que vais oferecer ao teu irmão?
-Não sei, estava a pensar oferecer-lhe uns boxers do Sporting. Que achas?
-Acho que ele ia adorar. Já lhe contaste quem é o David?
-Ele sabe quem é o David.
-Mas não lhe contaste o resto…
-Matilde, o David é uma pessoa como as outras. É jogador de Futebol, ok. Mas é a sua profissão. Onde está o problema?
-Só acho que lhe devias dizer. Duvido que ele vá gostar de saber que o cunhado é jogador do Benfica.
-Lá estás tu outra vez! Já chega! Mas olha, falando de prendas, o que oferecemos ao Zeca?
-Não sei. Mas antes vamos falar de outra coisa, foste almoçar com a Vera?
-Sim, fui.
-Tu já sabes a minha opinião sobre ela.
-E tu já sabes o que vou dizer sobre ela. É uma óptima pessoa, um pouco tresloucada mas estrondosa. Eu adoro-a.
-Aí, até dói. E a ela, o que vais dar?
-Umas cuequinhas cor-de-rosa, daquelas grandes com folhos sabes?
-Sem dúvida, original… E para mim?
-É surpresa minha querida. – Matilde odiava esperar mas a verdade é que já tinha a prenda dela desde Novembro. Ganhei uma viagem, nem sei bem como, para ir para um Hotel à minha escolha em Portugal até dia 31 de Março, para quatro pessoas. Inicialmente era para mim, para ela, para o Diogo e para o Zeca. Agora, precisávamos da quarta companhia.
-Odeio esperar, sabes bem disso.
-Pois sei, vamos lá à procura das prendas. – Apressei-me para entrar numa loja de desporto para procurar os boxers mas Matilde agarrou-me.
-Então e para o David?
-Achas que deva oferecer-lhe alguma coisa? Conheço-o há 2 semanas.
-Mas tem sido tão simpático para ti.
-Sim, é verdade. Talvez lhe ofereça qualquer coisa. Uns chocolates, talvez.
-Acho que a melhor prenda que lhe podias dar… - Não ouvi o resto, já sabia o que daí iria sair. Feitas as compras fomos para casa. Para Zeca, compramos uma correia para a sua guitarra. A sua já estava a ficar velha. Em casa, Zeca já tinha chegado e tinha a companhia de Leonor, a sua namorada. Fui para a varanda com o meu cházinho a ver a vista magnífica, que não era assim tão magnífica. O telemóvel tremeu, era uma mensagem.
“Já foi ver algum jogo do Benfica?”
Pergunta óbvia, resposta ainda mais óbvia e fácil.
“Claro que sim David, achas que não? (:”
A resposta veio logo a seguir.
"Então e quer ir ver um jogo do Benfica?
Acho que já devo ter dito umas cem vezes, mas David era uma excelente pessoa. Merecia mesmo uma prenda de Natal, agora tinha a certeza. Embora a resposta que lhe dei não fosse sim, nem não, não deixava de ser um acto extremamente simpático da parte dele.
“Obrigada David, mas eu tenho o Red Pass. Como estava melhor, resolvi comprar este ano. Muito obrigada na mesma David. Ah, é verdade, já fui entregar o meu currículo. Agora espero pela resposta. Até estou nervosa :P”
Bebi o meu chá e voltei para dentro, estava a começar a chover e estava muito frio, não me queria constipar. Sentei-me no sofá na companhia de Matilde e Zeca e começamos a ver um filme, uma comédia. Encostei-me ao braço do sofá e as rizadas eram em cinco em cinco minutos. O telemóvel, que estava em cima da mesa tremeu. Agarrei-o e voltei para o meu sitio.
-É o David? – perguntava Matilde.
-Sim, é. Como sabias?
-O teu sorriso.
-Eu não sorri.
-Aí sorriste sim. Zeca, ela não sorriu?
-Não vi, não tenho nada a ver com isso, não me metam nesses assuntos. – Zeca tentava escapar-se da conversa.
-Está bem, mas vi eu. O que disse ele?
-Nada de especial.
-Maria… Conta! Quero saber!
-Vocês importam-se? Estou a tentar ver o filme! – Obviamente chateado connosco e com o nosso barulho, Zeca começava a demonstrar o seu desagrado.
-Desculpa Zeca.  – Ele voltou à sua posição e continuou a comer as pipocas que tinha a seu colo. Matilde que estava sentada no cadeirão veio para meu lado.
-Tu estás a gostar dele.
-Não, mas ele é uma pessoa incrível e eu não vou responder-lhe mal.
-Maria…
-Matilde…!
-Já percebi que não chego a lado nenhum.  
-Olha, no Sábado vens ver o jogo comigo?
-Eu? Com este frio? Não…
-Que Benfiquista que tu me saíste. Eu vou…
-Por causa do David?
-Não, por causa do Benfica e dos 100€ que gastei no inicio de Agosto.
-Pronto, pronto. E depois vais ter com ele?
-Não, achas? Ele deve estar cansado, já para não falar que eu venho directamente para casa. Escuro, frio e de metro? Não me parece que me atrase muito…
-Pronto, está bem. Amanhã tens ensaio não é?
-Sim, não queres ir ver? Fazias-me companhia…
-Por mim. É  a que horas?
-Lá para as sete.
-Fogo, vocês não comem?
-Depois, lá para as nove. Vá, não sejas assim e vem comigo.
-Só se me contares tudo do David sempre que eu te perguntar.
-Fica em casa.
-Idiota.

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