domingo, 23 de janeiro de 2011

Prenda de Natal - Parte II

-Entrei este ano para a Nova Lisboa, estou a tirar engenharia Biomédica.
-Ainda nem te dei os parabéns como deve ser Joana! Parabéns!
-Eu entrei para Engenharia Informática, na Técnica.
-O mais bem colocado, não Fred?
-Nem imaginas, já recebi três propostas de trabalho e só agora entrei na faculdade. Uma delas era para ir trabalhar para o Estado.
-Impressionante! Quer dizer, eu sabia que ias conseguir. Os meus primos são todos brilhantes.
-Obrigado Maninha.
-Primos, Tiago, primos! Não irmãos.
-Vê lá! Diz lá que eu não sou brilhante?
-Nem por isso.
O resto do jantar correu normalmente, chegou a parte favorita do meu irmão. A sobremesa. Era compreensível visto que de sobremesa tinha a mousse de chocolate da minha Tia Fausta, o semifrio de bolacha da minha mãe, o tronco da tia Maria, o bolo de chocolate delicioso da tia Chica e o bolo de bolacha delicioso da Tia Carolina. Depois ainda tínhamos as coisas vindas de fora, Molotof, bolo de cenoura (da vizinha Josefina do 3º Direito, uma maravilha), Bolo de Milho, o tradicional Bolo de Rei e filhoses! Muitas filhoses para eu comer e engordar. Sem dúvida, melhor altura que o Natal não existia. Faltava pouco mais que uma hora para a meia noite, uns estavam sentados na mesa, outros no sofá, outros no chão e algumas pessoas já lavavam os pratos. Tiago ainda estava de roda dos doces.
-Rapaz larga essas coisas que ainda ficas com diabetes!
-Pai, não te preocupes, está tudo controlado. Eu também só como assim uma vez por ano.
-Aí maninho, não me digas que os teus anos só têm um dia!
-Aí a pirralha já manda piadas! Olha anda cá que eu já te digo!
Sai dali a correr, fui directa para a cozinha.
-Mãe! Mãe! Olha o Tiago! Vê lá o que ele quer fazer!
-“Mãe! Mãe! Olha o Tiago” – ele citava-me tentando imitar-me – sempre foste uma queixinhas pá. Anda cá!
-Vá já chega, parecem duas crianças!
-Mas ó mãe, tu é que disseste que já sentias falta de nós a corrermos pela casa!
-Quando tinham 7/8 anos, não quando um tem 30 e outra 23!
-É parecido, a diferença é pouca. Anda cá pirralha! – Estava escondida atrás da minha mãe e ele tentava-me agarrar. As tias riam à gargalhada com a nossa brincadeira. Num ápice ele agarrou-me e colocou-me ao colo, como se fosse um saco de batatas.
-Tiago! Tiago tu larga-me!!!
-Então pirralha, o que queres? Agora sabes o que te vai acontecer?
-Olha que a noite de Natal vai correr mal! – eu tentava-me soltar, mexia as pernas e os braços mas nada. Tiago tinha um metro e noventa, era muito alto. Podia fazer o que quisesse que não dava para soltar-me.
-Pai, dá-me aí um bocado de semi-frio. Pequeno! Não pudemos desperdiçar.
-O que vais fazer?
-Vou comê-lo pai. Vá, daí. – o meu pai deu o bocado de semi-frio e pôs num prato.
-Pai! Não o ajudes.
-Desculpa filha mas até está a ser engraçado. – Toda a gente estava na sala assistir àquela triste figura. Todos se riam.
-Saí daí puto. – Disse para João Miguel ou Miguel João, não sei bem. De cabeça ao contrário era complicado diferencia-los. Mandou-me para cima do sofá e de seguida espetou o bocado de semi-frio na minha cara. Desatei a gritar e a tirar o semi-frio que conseguia retirar. Era alvo de chacota por parte de todos os familiares. Tiago ria-se que nem um perdido.
-Seu idiota! Olha para mim! – A minha mãe passou-me um lenço para a mão. – Eu não acredito! Se eu tenho o cabelo sujo! Eu esgano-te Tiago Filipe! Que raiva!! – Sai da sala e fui à casa de banho lavar-me. O cabelo tinha-se safado.
-Vá, anda cá maninha. Desculpa. - dizia Tiago à porta da casa de banho. Saí de lá e fui directamente para a varanda.
-Maninha, anda cá. - Tiago veio atrás de mim com carinha de anjinho.
-Já chateaste a tua irmã. Está bonito está. – Dizia o meu pai. Abri a porta da varanda e entrei lá para dentro. Tiago veio atrás de mim.
-Escusas de ficar assim toda ofendida. Já te fiz bem pior.
-Otário – dei-lhe um murro no peito e deitei-lhe a língua fora – Achas que depois de tudo o que tu já me fizeste eu ficava chateada com isto? És doido.
-Ah, pronto. Estava a ver.
-Olha, mas eu puxei-te para aqui por causa de outra coisa.
-Uí… O que vem daí. Diz lá pirralha.
-Quem era a rapariga que estavas a falar?
-Eu? Rapariga? Hã? Deves estar a sonhar! – Tiago mandou uma das famosas gargalhadas dele. Só apareciam quando estava nervoso.
-Então, vais dizer ou vou ter que saber por mim.
-Não há nada pá. Estás parva.
-Tiago, conheço-te à 23 anos. Achas que eu não te conheço super bem?
-Aí miúda, só me dás trabalho. Ok, eu admito. Sim, é uma rapariga. Mas!
-Mas?
-Ela é de Coimbra.
-De Coimbra?
-Sim, ela é amiga da tua amiga Sara.
-Hã?!
-Sim, tu até conheces. A Beatriz.
-A Beatriz?! Ó Meu Deus! – sentei-me numa cadeira, estava chocada com o que ele me acabara de dizer. A Beatriz era uma estudante de medicina, pacata, muito sossegada e completamente o oposto do meu irmão. – Afinal é verdade, os opostos realmente atraem-se.
-Sim, ao que parece. O pior é que… Ela recebeu uma proposta para vir trabalhar para aqui.
-E? Isso é o pior?
-Sim, é. Não queria que ela deixa-se tudo para vir ter comigo. Quer dizer, ela… Ela não tem que abandonar tudo e vir para aqui não é…
-Isso já está assim tão avançado?
-Sim, eu tento passar todas as sextas e sábados com ela.
-Uau…
-Uau mesmo… Acho que é muito mau ela vir para Lisboa.
-Ó meu grandessíssimo tosco, e achas que ela vinha só por ti? É óbvio que vinha também por ti mas Lisboa tem melhores oportunidades de trabalho, mais hospitais, mais clínicas, mais tudo. Aproveita! Apoia-a ao máximo e depois logo se vê.
-Obrigada Maria. – deu-me um abraço, não estava mesmo à espera – És a melhor irmã do mundo. 

-Sou a única que tens também.
-És sempre a mesma coisa! Mesmo com elogios ficas chateada! Chiça!
-Sabes como sou.
-Então e o David?
-Tiago…
-Maria… Vá, eu contei-te. Como vão as coisas?
Não resisti em contar-lhe tudo sobre nós. Já tinha uma vontade de falar com alguém da família sobre isto e o Tiago era a pessoa certa.
-Ele é maravilhoso, ele surpreende-me em cada dia Tiago! Ele é totalmente diferente do Diogo, é uma pessoa simples! Ele faz-me sentir como se fosse a única mulher no mundo.
-Tenho que conhecer esse David… Se ele faz-te feliz e põe-te com um sorriso, eu vou gostar dele. Até ao dia…
-Esse dia não vai chegar. E duvido que gostes dele.
-Porquê?
-Meninos, vamos abrir as prendas. Vá, venham.
-Ok, tia! – E mais uma vez a minha tia Carolina a salvar-me. Adorava aquela mulher.
Na sala, cada um agarrou no seu presente e deu à pessoa com quem tinha ficado. Pedi ao Tiago para abrir logo. Quando ele abriu fez a questão de mostrar os seus boxers a toda a gente e começou a cantar o hino do Sporting. Coitado, era o único Sportinguista da família, como a minha tia Chica diz “este saiu ao avesso”. O meu pai veio entregar o meu, era muito grande e pelo formato percebi que era um quadro. Rasguei o papel que trazia embrulhado, quando vi a  foto as lágrimas vieram-me aos olhos. Não resisti em chorar, apoiei o quadro junto das minhas pernas e abracei o meu pai.
-Obrigada Pai, obrigada. Nem sabes o quanto isto significa para mim!
Os olhares estavam concentrados em nós. A foto era muito, muito velha. Eu tinha uns três anos nessa altura. Era uma foto de família, eu, o meu pai, a minha mãe e o meu irmão. Eu estava ao colo do meu pai, o meu irmão estava na frente com o sorriso mais parvo que poderia fazer, a minha mãe estava linda com um vestido antigo e o cabelo pelo ombro e com muito volume, o seu sorriso era maravilhoso e o meu pai parecia um pai babado agarrar-me.
-Ainda bem que gostaste filha.
-Gostar? Adorei! Está maravilhoso! Não me podias dar melhor prenda! Amo-te pai!
-Eu também te amo Maria.
Sabia tão bem estar ali agarrada ao meu pai, finalmente estava tudo bem. Naquele momento agradecia a Deus tudo, ter-me dado uma segunda oportunidade de vida, de me ter dado uma família assim, ao facto de ter retirado Diogo da minha vida e de ter posto o David. Não me sentia assim há muito tempo. O resto da família também distribui presentes, aquela casa era uma alegria. Quando tudo acalmou lembrei-me da prenda de David. Agarrei na minha mala e procurei a pequena caixa, quando a encontrei fui para a varanda abri-la.
-Ó Meu Deus! Ele só pode estar a gozar comigo! – Dentro da caixa estava um fio lindíssimo que parecia daqueles que as famosas de Hollywood usam. – Eu ofereci-lhe uma tretazinha e ele vai-me oferecer isto? Só pode estar a gozar! Não, não posso aceitar isso.

 -Ele deu-te isso?! Fogo, o rapaz ou é um Zuca rico ou então está doido de amores por ti. – disse Tiago que tinha percebido que a minha deslocação para a varanda.
-É o Zuca mais doido e maravilhoso que eu alguma vez conheci. – Coloquei o colar ao pescoço e virei-me para Tiago – então, como fica?
-Maravilhoso. Mas sabes o que eu gosto mais?
-Do quê?
-Do brilho dos teus olhos. Tu gostas mesmo desse tipo?
-Cada dia mais Tiago, cada dia mais.

4 comentários:

  1. Oh que lindo *.*

    O David foi mesmo querido ao oferecer o colar, mas o que será que ela lhe ofereceu?

    Quero mais ;D

    Beijinho*

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  2. Humm, que fOfiinhOs!!

    A cena dela e dO TiagO, fazem-me lembrar a miim e O meu iirmãO, também sOmOs assiim.. =DD

    COntiinua..

    BjnhOo

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  3. ohh que prenda linda +.+
    Continua minha linda, está maravilhoso!
    Beijão

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