quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Reencontro - Parte I

Era nestes momentos que eu tinha certezas. David nunca poderia sair à rua sem ser incomodado por um adepto ou por um jornalista. Estava no aeroporto à sua espera, queria abraça-lo, sentir-lhe mais uma vez. O voo tinha-se atrasado, já faziam quatro horas desde que estava no aeroporto. Passava pouco mais das duas da manhã quando ele sai por aquela porta, os meus olhos brilhavam, sentia uma vontade de correr abraça-lo. O pé direito saltou para a frente, que foi pelo coração, mas o esquerdo num acto de controlo, parou. Quando desceu pela rampa, ele sorria para mim mas foi depressa encurralado por jornalistas. Nem eu sabia como é que eles estavam ali, não me tinha apercebido que naquele aeroporto estavam assim tantos. Recuei e sai do aeroporto, não me iria expor desta forma. Não queria andar em capas de revista, nem agora, nem nunca. Mandei uma mensagem do David a explicar a situação, ele compreendeu mas mostrou a sua tristeza face ao sucedido. Começamos numa troca de mensagens às duas da manhã. Quase como se tivéssemos a falar a sete mil quilómetros de distância.
Maria:  “Queria tanto abraçar-te. Sinto mesmo a tua falta. Já chorei por causa disto e tudo. Amanhã quero-te ver David, sem falta.”
David: “Eu quero ver você agora. Posso ir ter aí?”
Maria: “Não pode ser David, a Matilde já está a dormir. Amanhã vamos passear os dois.”
David: “Não sei se aguento até amanhã”
Maria: “Vais ter que aguentar. Vou dormir, amanhã tenho que acordar cedo para ir trabalhar. Beijo, adoro-te David”
David: “Adoro-te Maria, amanhã de manhã vou ter com você ao Estádio. Quero dar-lhe um grande beijo!”
Pensei em responder mas estava demasiado cansada. Deitei-me debaixo dos lençóis e adormeci pouco tempo depois.


*Amo-te Maria*
 
-Então menina Maria, seja bem aparecida. Como foi o Natal? – perguntava Eunice entusiasmada logo no inicio da manhã. Comigo passava-se exactamente o contrário.
-Correu bem, e o teu, como foi? Muitas prendinhas?
-Correu bem, que dizer, melhor não podia ter corrido. Aí recebi um telemóvel novo, roupa, uma viagem ao Dubai e uma proposta de trabalho no Sporting SAD.
-Como é? Sporting? - Até já tinha o habito de David dizer "Como é?", estava-se a tornar grave.
-Sim, e pagam muito melhor do que aqui. Estou mesmo a pensar em ir para lá.
-E o que vais fazer lá?
-Nada, a mesma coisa que algumas raparigas daqui fazem na SAD. Causar boa impressão.
-Como assim?
-Puxei uns cordelinhos e pronto, apareceu a proposta de trabalho.
-E… Desculpa perguntar-te mas, no Sporting? Eu não conseguia. Que clube.
-Nem por quatro mil e quinhentos euros mensais?
-Nem por dez mil minha querida amiga. Há coisas que não se vendem. O amor é uma delas.
-Hmm… Por falar em amor, como está a minha cara conhecida do David Luiz?
-Amor e David Luiz na mesma frase? Uí… Deixamos de falar para tua informação, Eunice. – se a mentira matasse...
-Deixaram? Como assim?
-Falamos assim, casualmente. Ele desejou-me um bom Natal e eu desejei-lhe um óptimo Natal. Pronto, é assim. Eu não acredito que tu acreditavas que eu e ele…
-Não! Eu não acreditava nisso! Eras demasiado inteligente para namorares com aquele tipo. Embora eles sejam bonitos, nós sabemos como é que eles são… Para eles, o amor é como um negócio. É mais lucrativo com uma TOP Model.
Ouvir aquilo sobre David deixava-me enraivecida. Não gostava que falassem mal das pessoas quanto mais quando falavam de uma pessoa de quem eu gostava. Parte de mim queria dizer “Olha lá ó, vê lá que não sabes do que estás a falar!” mas outra parte pensava “Tem calma Maria, respira fundo. Não podes dizer nada. Vá, agora sorri e concorda com a ideia”. Fiz isso mesmo, concordei com a ideia e sorri. Lá no fundo mas bem no fundo eu queria contar e com o maior dos sorrisos, mas como tudo na vida, haveria um senão. A conversa ia-se espalhar e todas as pessoas iriam ficar a saber algo que não cabia nem fazia sentido na minha cabeça. Quando começou a visita das onze, recebi uma chamada de David que não lhe pude atender. Numa pequena pausa durante a visita resolvi telefonar-lhe.
-David?
“Maria! Porque não me atendeu o telemóvel?”
-Estou a trabalhar, David!
“Ah, sim. É verdade. Olha, tenho treino hoje às cinco por isso até às quatro horas sou todo seu”
-É uma pena que eu tenha que vir trabalhar às duas e meia.
“Então quando é que eu vou estar com você?”
-Vem ter comigo ao meio dia e quarenta.
“Aí ao estádio?”
-Não, não… Combinamos assim, vem ter aqui as mediações do Estádio e quando chegares liga-me e diz o sítio, ok?
“Sim, está bem. Como você quiser meu anjo. Até já então”
-Até já, David. Beijo grande.
“Beijo grande para você também.”
Preparava-me para afastar o telemóvel do ouvido e desligar mas voltei atrás. – David?!
“Sim?”
-Adoro-te. – Desliguei logo de seguida, tinha que me despachar e não queria ouvir o que tinha ele para dizer. Despachei a visita e voltei para à porta 18 ter com Eunice. – Aí Eunice, Eunice. É tão bom trabalhar neste Estádio.
-Ainda bem que falas em trabalho.
-Então?
-Aceitei o trabalho na SAD do Sporting! Preciso de mudar de ares, de conhecer outras pessoas. É a escolha perfeita.
-Então e quando é que te vais embora?
-Estive agora a fazer a minha carta de demissão e já falei com as pessoas lá de cima, amanhã já só devo vir cá de manhã.
-Como?! Então e eu?! Como faço isto tudo sozinha!?
-Tem calma… Já encontraram substituto para mim.
-Já?! Tão rápido?
-É, ao que parece tinham uma menina sem fazer nada então colocaram-na no meu lugar.
-Calma, que menina?
-Uma daquelas que tem as unhas afiadas sabes? O David até deve conhece-la. Ela tem o número dele e acho que já falaram algumas vezes.
“Pode ter o número dele e David não falar com ela.” pensava a minha pobre cabeça. Naquele momento estava a entrar num estado crítico. Afinal de contas, elas eram as típicas “tias venenosas” e isso metia-me medo. Trabalhar com elas, ou sem elas, era a mesma coisa que o Benfica jogar com o Felipe Menezes, jogar com menos um.
-Qual delas é? Era alguma daquelas que estava no restaurante quando lá fomos almoçar?
-Sim, era uma das loiras. Chama-se Raquel. É simpática mas tem cuidado, se ela não gostar de ti é uma víbora do pior.
-Não acredito que me vais abandonar. Ainda por cima vais para o Sporting. Que horror. Se fosse noutros tempos considerava traição.
-E agora, não consideras?
-A vida está difícil, às vezes não podemos ter tudo o que queremos.
-Ora bem…
Fiz a minha última visita e fechei a porta do nosso escritório. Eunice já se tinha ido embora. Toda aquela conversa tinha-me deixado arrepiada. Conhecer uma rapariga que tinha as “unhas afiadas pelo David” não fazia parte dos meus planos. David ligou-me e disse que estava num jardim perto do Estádio, só me lembrei de um e tentei nesse mesmo. David estava sentado num banco, quando eu estava já perto dele uma rapariga, de catorze ou quinze anos chegou-se ao pé dele. Pediu para tirar uma foto e um autógrafo. Eu assistia àquilo escondida atrás de uma árvore. Quando a rapariga se foi embora, fui ter com ele. Como estava sentado num banco, ele não se apercebeu que tinha chegado por trás então pus as minhas mãos nos olhos dele.
-Mãos lindas e geladas, hmm… - retirou as minhas mãos da sua e levantou-se ficando de frente para mim. – Minha Maria! – Não me beijou, ficou simplesmente a olhar para mim. Nunca largou as minhas mãos. Ao contrário das minhas as suas estava quentes. – Vem cá, não quero nenhum banco a servir de obstáculo! – Dei uma volta pelo banco e fiquei frente-a-frente com o David. Ainda não tinha dito nada, estava com demasiadas saudades para falar, e se falasse ia-me atrapalhar. Abracei-o. Saudade, é um sentimento que não cabe no coração, escorre pelos olhos e naquele momento eu tentava matar aquela saudade. Um simples abraço podia ter tanto significado e ser tão importante. – Está tão linda. Olha bem para você! Que saudades!
-Senti tantas saudades tuas David. – David faz cara de desconfiado - A sério que senti! Nem imaginas quantas!
-Você está usando o colar que eu dei para você?
-Estou sim! Como podia não utilizar? É tão perfeito! Agora, quanto gastaste nisto?!
-Foi uma prenda, não vou dizer. – David aproximava-se de mim para me dar um beijo. Cheguei-me para trás.
-David, depois do que eu vi ontem, beijos em público não.
-Não está aqui ninguém…
-Eles escondem-se! Ontem também não estava ninguém lá e viu-se.
-Porquê tanto receio? Se nos apanharem paciência.
-Ó David, por tanta coisa. Primeiro porque nós não namoramos ainda, segundo porque ainda não estou preparada para assumir uma coisa destas perante os meus pais, terceiro porque não quero que eles saibam por uma revista e em último porque não quero que as pessoas pensem que estou contigo para chegar a algum lado, porque não estou.
-E eu sei que não está.
-Sim, mas às vezes muitas pessoas a baterem na mesma tecla… Pode causar alguma inquietação. Percebes?
-Sim, eu sei. Mas, agora falando sério. Já disse que tenho uma namorada com muito estilo? Olha para você!
Dei uma pequena volta para ele. A maneira como ele sorria. Como aquele homem me deixava feliz.


-Esmerei-me um pouco. Tinha que estar bonita para ti! Agora, namorada?
-Quer que eu chame de você o quê?
-Não sei. Mas namorados? Acho que ainda não é altura certa. 

-Então o que somos?
-Somos... Umas pessoas que têm um relacionamento.
-E isso é o quê?
-Então... É um relacionamento.
-E quando é a altura certa para poder chamar de você de namorada?
-Não sei. Não sou eu que decido. É o coração. Agora, onde vamos comer? - Tentava mudar de assunto, via uma certa tristeza nos olhos de David.
-Não sei, você tem alguma ideia?
-Sabes, há muito tempo que não vou à minha tia Isabel. Gostava de lá ir.
-Onde? 
-Ao Isabelinha! 
-Ah... Claro! Podemos lá ir! Não me importo nada! 
David agarrou na minha mão mas eu depressa larguei-a. Ele fez uma cara de chateado e eu pedi desculpas. Arrisquei e agarrei na mão dele, mas quando te dão a mão, às vezes agarras o braço todo. Eu não resisti e agarrei-me a David. Ele colocou o seu braço sobre os meus ombros e andamos assim até ao carro. Estar com ele ao meu lado é que me deixava feliz e por mim, fazia o resto do meu caminho ao lado daquele homem.

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