segunda-feira, 27 de junho de 2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chuva...



-Olá… David.
-Maria… Você está bem?
Há minha frente estava David, o homem mais perfeito que eu alguma vez já tinha conhecido, o homem que eu amava. Aquele olhar meigo, os lábios rosa, as olheiras que ele costumava ter, os caracóis loiros. Continuava tudo igual, tudo como eu costumava ver todos os dias. Fiquei um pouco sem reacção ao vê-lo e acho que ele também. Ficamos ali apenas a olhar um para o outro. Sabia que ainda o amava mas também sabia que ele era feliz, com outra. A voz de Matilde e Rúben ao telemóvel fez-me despertar.
-Estou óptima. Desculpa, estava cheia de pressa. - conseguia-se ouvir as vozes de Matilde e Rúben que vinham do meu telemóvel - É a Matilde e o Rúben, sabes como é... – Voltei a colocar o telemóvel ao ouvido. Ele continuava à minha frente.
“Isso é a voz do David pá! Que se passa aí? Hey!!”. Conseguia ouvir a voz de Rúben aos berros no telemóvel.
-Rúben, Matilde, eu já vos ligo. Até já. – desliguei o telemóvel. Fiquei a olhar para ele. Por mais que quisesse não conseguia desligar o meu olhar do dele, o momento era tão intenso. – Então, voltaste…
-Sim, voltei. Sentia falta do Benfica, é o meu clube e eu estou muito agradecido por tudo aquilo que me deram aqui… Você sabe.
-Sei, claro que sei. Bem, eu tenho que voltar a trabalhar.
-Claro, claro. Eu tenho que ir falar com o Sr. Henrique.
-Então, adeus…
-Adeus, Maria. – voltei ao meu caminho e senti o telemóvel a tremer. David permanecia no mesmo sitio.
-Sim?
“O eu se passou aí?” – Percebi pelo som que o telemóvel dava, que estava em altifalante.
-Fui contra o David, tivemos uma conversa estúpida e cada um voltou ao seu caminho.
“Fogo e não o convidaste para tomar um café?”
-Rúben, ele tem namorada e…
“Amigos não existem? Eu já fui tomar cafés contigo antes! Não quer dizer que nós tivéssemos um caso! Maria Duarte volta atrás e convida-o para sair”
“O Rúben tem razão, é um café! Não vai acontecer nada de mal. Convida-o Maria!”
-Não vou nada fazer isso.
Maria, já!” – Rúben estava irritado até e percebia que não iria parar de me chatear até eu convidar o David para um café.
-David? – Para ser sincera, até eu queria estar com o David. Ele virou-se e olhou para mim, enquanto eu encaminhava-me para perto dele. – Tu… Ah… Queres ir tomar um café? Não sei, agora, depois, ou quando poderes. Se calhar até não queres não é? Pois também pensei que podias não querer, é melhor…
-Sim. Daqui a quinze minutos, pode ser? – David sorriu-me, era como se o meu dia tivesse iluminado o meu dia.
-Claro, eu estou lá em baixo à tua espera então. – Voltei as costas e coloquei o telemóvel outra vez no ouvido. – Rúben Amorim, Matilde dos Santos, ele aceitou. Ó meu Deus, o que vou fazer!! O que fui fazer!
 “Ele aceitou? Eu disse!! Eu disse!” – Do outro lada da linha, Matilde e Rúben festejavam.
-Rúben… Eu não…
“Tu vais tomar um café com ele. Tens que ficar pelo menos amiga dele, explicar-lhe tudo e pedir-lhe desculpas.”
-Mas…
“Mas nada! É melhor ter a amizade dele do eu nada, não achas?”
“O Rúben tem razão… Faz isso, pelo menos pela vossa amizade.”
-E é tudo o que eu quero dele. Vou desligar, tenho que ir andado.
Boa sorte, Maria!” – Ambos torciam que a saída com David desse bem.
         Mentalizei-me. Era só um café entre amigos, nada mais. Perdi-me em pensamentos que torturavam a minha cabeça. Tinha tomado aquela decisão impulsivamente, não a queria tomar. Sabia que naqueles minutos em que estaríamos à conversa, eu ia sentir uma angústia constante. Um aperto no coração tão grande, capaz de me deixar sem reacção, sem palavras. Senti um toque no ombro, virei-me para trás e lá estava ele.
-David, se tu não quiseres…
-Vamos tomar o café ou não? Você paga! – Arrepiei-me com as palavras de David. Eram falsas, não tinham sentimento algum e sabia que ele estava pronto para me julgar.
-Claro.
Pedi-lhe para irmos a um sitio tranquilo, foi então que David se lembrou dos “Carvalhos”, um café perto da antiga casa dele onde íamos tomar o pequeno-almoço várias vezes.
-Maria e David, juntos de novo! Sempre disse que era para casamento! – Disso o senhor José, dono do estabelecimento. Eu corei, cabisbaixa e com os olhos vermelhos, quase a chorar. “juntos de novo”, ouvi as palavras que quase me destruíram por dentro.
-Não senhor José, nada disso. Amigos apenas. Não deu certo, somos pessoas diferentes mas bons amigos.
-Ah, claro rapaz. Então o que vão querer?
-Para mim um sumo de laranja e um mil-folhas. E você Maria, que vai querer? – Recompus-me e olhei para cima com um sorriso na cara.
-Um café com adoçante, se faz favor. – David olhou para mim e sorriu para o lado. Sentia algum cinismo da parte dele. Agarramos nas nossas coisas e sentamo-nos numa mesa refugiada a um canto. Permanecemos calados, enquanto eu bebia o meu café e David se deliciava com um mil-folhas. Mas por pouco tempo.
-Estás mais magra.
-Não estou.
-Agora só bebe café. Vai-me dizer que também fuma?
-Viste aqui para me julgar?
-Então sempre fuma.
-É claro que não! Quem é que pensas que sou!?
-Não sei, não a conheço. Nunca a conheci.
-Como podes dizer isso? – Não senti nada, não sei porquê. Não senti dor, não senti raiva, nada. – Eu não tenho que ouvir isto. – Levantei-me da minha cadeira e preparava-me para sair até que David fez a pergunta. A pergunta que não queria explicar.
-Porque é que você se foi embora? Porque me deixou?
Respirei, virei-me para trás e voltei a sentar-me no mesmo lugar onde estava constantemente a ser julgada. Porquê? Porque amava aquele homem e queria passar com ele todos os segundos que pudesse. Não o queria esquecer, sabia que tinha de explicar a razão que se sobrepôs ao nosso amor.
-Porque precisava de viver David, sentir-me viva. Precisava de ter poder. Não queria ser a namorada do David. Queria ser a Maria Duarte. Eu tinha que ir…
-É essa a sua explicação? Rescindiu de mim, do nosso amor, por causa de poder?
-Sim David, foi essa a razão. – Tentava fazer-me de forte mas ao mesmo tempo que o fazia, os pensamentos que me ocorriam pertenciam a David. Quando o seu toque era meu, os seus lábios tocavam nos meus e quando nos transformávamos num só. – Não quis perder o meu sonho. – Fiz uma leve pausa, queria explicar-lhe tudo de forma esclarecedora e calma. – Era muita pressão, David. Tu tinhas um sonho David, ser jogador de futebol. Agora, imagina que algo te impedia de o concretizar? O que fazias?
-Lutava! Foi isso que eu fiz!
-Mas no meu caso é diferente! Eu não sou como tu! Sou mais fraca, mais …
-Não! Não é! Você é forte, corajosa… Foi por isso que eu me apaixonei por você!
-Eu sei mas… Eu desisti! Eu desisti de ti, de mim e principalmente de nós. Eu não queria, porque eu amava-te. Eu amava-te tanto David… E no final desisti. Pensei que não pudesse ter as duas coisas e acabei por desistir daquela que me deixava mais feliz. Desculpa… Eu sei que nunca me vais perdoar mas…
-Pensei que desse um pouco de luta, sabe? Que agora, quando nos encontramos outra vez, que você viesse para lutar, para ficarmos juntos, para… Para constituirmos família. Mas tudo o que você me diz é “Me desculpe, eu te amava”. E agora não? Não?!
-É óbvio que eu continuo a amar-te, eu amo-te. És a pessoa que mais amo no mundo.
-Perdeste-me. – Senti uma revolta dentro de mim, já sabia o que ia acontecer. Ia ser radical.
-O que posso fazer para te ter de volta David? Diz-me! O que posso fazer?
Ficamos ambos em silêncio. David não olhava nos meus olhos e eu, tentava acalmar-me apertando as mãos. Finalmente, David levantou-se.
-Eu vou ser pai. Ela está grávida. Não há nada o que possas fazer.
E foi-se embora. Assim mesmo, sem dizer mais uma palavra. Fiquei estática, as mãos já não se mexiam e sem querer, senti uma lágrima a escorrer-me pela cara. Não sabia o que se passava naquele momento. Parecia uma espécie de transe que estava envolvida. Não me mexia, nem conseguia. As lágrimas caiam e inspirava o ar de forma violenta e irregular. Quando a última imagem cercou a minha cabeça, respirei mais uma vez, desta vez bem forte e esperei que alguém me tirasse a vida, me tirasse o poder, o sucesso, o dinheiro. Mas nada. Afinal, já não tinha vida. David, esse homem que um dia tinha entregado o meu coração, levou-o. Já não era ninguém. Apenas mais um corpo humano no mundo, como tantos que havia. Não tinha objectivo de vida, não tinha amor, não tinha sentimentos.
Sai do café, olhei para o meu carro novo, o que me valia? O que me valia um carro novo, se não tinha ninguém para transportar? Se nem o GPS naquele momento me conseguia guiar? Fui a pé para casa, era perto. Naquele momento, perto ou longe nada me importava. 
Estava a ficar tarde, ainda não tinha almoçado. Só tinha um café no estômago. Na verdade, já tinha estado em casa mas não tive coragem para entrar. Voltei a dar uma volta, entrei no metro e estava na Baixa. Por incrível que parecesse, o dia que tinha começado radiante, estava agora enublado. Um vento aparecia e tornava o meu cabelo rebelde, mas também não queria saber, nada me importava. Andava pelas ruas de Lisboa com os phones nos ouvidos, tentando parecer normal. Rúben, Matilde e Tiago já me tinham ligado mas tinha sempre ignorado as chamadas. Pensei que não pudesse piorar, mas piorou. Em pleno Junho, começou a chover em Lisboa mas aconteceu algo extraordinário. Pela primeira vez, senti-me bem. Estava no Terreiro do Paço, olhei para cima e senti a chuva a cair. Primeiro eram poucas pingas mas passado pouco tempo, uma valente carga de água caiu sobre mim. Era como se leva-se as minhas mágoas consigo.
-És doida? Sai da chuva!
Ele agarrou-me e levou-me para baixo do arco da Rua Augusta.
-Por favor, larga-me. Queres dinheiro? Leva tudo. Telemóvel, carteira… Tudo. – Voltei para a chuva mas ele insistia. Queria-me ali. – Larga-me! Estas-me a magoar. O que queres de mim?!
-Moça! Fica aqui! Tem calma!
Olhei para ele. Tinha um sorriso perfeito.
-Quem és tu?
-Eu sou o Pedro. E tu?-Eu o quê?-O teu nome.
-Maria.
-Maria, por favor, podes sair da chuva?
-O que queres de mim?
-Quero-te aqui.





Peço desculpa pela demora. Este capítulo estava a demorar. Espero que gostem :)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Muito obrigada!



"Boa noite autora do blog Maria, eu amo-te:                 

Talvez não seja uma boa altura, seja fora de horas, até nem é dia útil e os correios estão encerrados. Mas, felizmente, estamos na era da tecnologia e como se costuma dizer á distância de um click.
Nos últimos tempos tenho sofrido de um problema, cujo nome desconheço, que me leva a ficar num estado de pasmo depois e durante a leitura da tua história. Chego a ficar incrédula não só pelo rumo da narrativa mas também, e sobretudo, pela forma como transmites o enredo. Gostava mesmo de entender como é que tens a capacidade de utilizar exemplos super caricatos da vida comum para explicar um determinado sentimento da personagem? Como é que, no último capítulo que li, foste buscar o Chico para mostrar o quanto ela estava deprimida? É fantástico, quem diz o Chico, diz a mãe, o pai, o irmão… Unindo a um toque irónico, torna a história um assombro para todas as outras.
É certo que leio poucas, mas duvido que exista melhor história do que a tua. Considero-te o Obikwelu das fanfic’s, rápida e eficaz. Gosto como movimentas o espaço e o tempo. Não gosto que tenhas as minhas ideias do que eu. Gosto que ela não goste do Chelsea. Não gosto de como desvalorizas o Benfica. Gosto que não seja tudo perfeito. Não gosto de muita gósmia e tu não pões  J
O meu problema é mesmo no fim, quando espantada pelo que acabo de ler penso em comentar e nada sai. Como diria o poeta “as palavras estão gastas” e facilmente desisto. Apesar de saber que é importante o acto de juntar umas palavras de forma a mostrar o agrado por tal passagem para quem a escreve. 
Desejo sinceramente que tenhas as orelhas bem vermelhas , pelos elogios que reservo á tua arte. E já agora que saibas que sinto inveja pelo teu talento. Espero que tenhas 20 a Português.
E olha, boa vida, boa imaginação, boa escrita… Muito sucesso!
Mariana (alguém que até gosta do teu trabalho)
P.S: Desculpa o abuso, mas devido a um motivo que não conheço, não consigo deixar comentários e senti necessidade de elogiar a tua história, optando assim pelo e-mail."

Depois de ler este comentário senti-me tão pequena. Faço isto por diversão. Não porque tenho a necessidade. Apenas porque sim. Nunca quis incomodar ninguém e peço imensa desculpa se o fiz. E peço desculpa às pessoas que lêem a minha fanfic. Peço desculpa porque vocês merecem mais, e mais, e mais. Queria-vos dar uma história mais elaborada, com mais sentimento, com mais emoção mas não consigo. Não tenho o talento de muitas pessoas, nem tempo e muito menos paciência para estar duas horas a escrever intensamente. No final, recebo comentários como o da Mariana e só consigo pensar "Bolas, porque não posso ser realmente boa a escrever para agradecer a todas estas palavras? Para justificar todas estas frases?".
Não sou perfeita, tenho montes de defeitos. Não sou uma menina grande, sou uma criança. Mas hoje, compreendo que nada é perfeito e que poucas coisas são para sempre. Tento transmitir isso na história mas que por mais feias que as coisas estejam, há sempre uma luzinha para nos ajudar, seja um amor, amigo ou um familiar.
Mais uma vez, peço desculpa se às vezes digo "Deixem a vossa opinião, o vosso comentário". Não necessito disso, nem quero que se sintam obrigadas a fazê-lo mas se eu pudesse, era em vocês, minhas leitoras que punha o comentário ou até um gosto à moda do facebook.
Obrigada por tudo, muito obrigada Mariana, não tenho palavras para te agradecer e obrigada as minhas outras leitoras.
PS: Mariana, peço desculpa se não querias que publicasse a tua mensagem. Mas esta mensagem é tipo "a minha menina de olhos verdes". Muito, muito, muito obrigada.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Parabéns! - Parte II


(como eu ri quando vi esta imagem ahah)

-Tens que me contar porque tomas-te aquela decisão repentina! – Rúben tentava repreender-me, eu sabia que tinha de contar-lhe todos os meus motivos e razões.
-Rúben… Eu estou bêbeda, exausta e quase a viver um pesadelo. Não queiras que eu te conte isto agora.
-Não. Quero que me contes isto agora! Já chega de mentiras. Bolas! O David andava que nem um perdido! Não sabes como o deixaste!
-E eu!? Achas que foi fácil? Eu tomei a decisão, eu não sofri só por mim como também por ele! Ou achas que eu nunca o amei? Ou que ainda não amo!? Diz-me!! Achas que ele foi o único a sentir alguma coisa naquela relação?!
-Não, não acho isso. E baixa o tom de voz, ninguém precisa de saber do que estamos a falar. – Olhei em redor para ver se ninguém estava a olhar. Rúben tinha razão, ninguém precisava de saber do que estávamos a falar.
-Eu segui o meu sonho Rúben, ninguém me pode acusar de nada. O David também lutou pelo seu sonho, porque não podia lutar pelo meu?
-Ninguém está a dizer…
-Shiúú. Ninguém está a dizer mas todos estão a pensar. Desde pequena ouvia a minha mãe a contar todos os cêntimos que havia, a contar-me que não podíamos ter férias porque não havia dinheiro. O meu natal era feito com a família e apenas com uma prenda para cada um e já achávamos uma grande sorte. Tínhamos o privilégio de ter uma prenda. Num Natal, fiquei responsável pela prenda do meu pai. A única coisa que lhe dei foi um beijo e um recado – fiz uma pequena pausa e respirei fundo - “Daqui a uns anos vou ter dinheiro para te comprar uma prenda a sério”. O que eu mais queria era dar essa prenda ao meu pai e nem sabes o quanto radiante fiquei quando há dois anos a trás pude fazer a restauração do apartamento dos meus pais e mudar-lhes tudo. Eles mereciam aquilo, mais do que ninguém. Tu deves saber disso, a tua história não é diferente da minha. A verdade é que se pudesse voltar atrás mudava tanta coisa. Acho que já não tinha coragem para rescindir da única coisa que estava segura na minha vida, o David. Mas fiz e sabes uma coisa? Não me arrependo. Aprendi tantas coisas neste trajecto. As pessoas deste mundo onde vivemos podem ser falsas e dissimuladas. Tive que aprender a comportar-me como elas para ganhar o meu espaço mas sem nunca perder a verdadeira Maria. A Maria que gosta de festas, que gosta de se divertir, que ama os amigos e a família e essencialmente, que ama o David. Ele está feliz agora, tem namorada e tudo parece estar encaminhado. Espero que corra tudo bem com ele, que seja muito feliz e eu sei que vai ser. Vai ter uns cinco filhos e ajudar outros mais aos quais ele não se vai importar de chamar de “filho”. É isso que faz dele uma pessoa tão especial, a sua humildade.
         Rúben permaneceu em silêncio a ouvir-me, acho que ainda era uma bêbeda responsável ou então daquelas pessoas que até fala da economia Finlandesa enquanto está bêbeda.
-Vais comer a última bifana?
-Não, não vou.
-Óptimo. Estou com uma fome. – Rúben preparava-se para agarrar nos molhos.
-Ouve lá, isso não te deixava enjoado?
-Quando se está comer, deixa tudo menos enjoado.

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Fiquei a dormir na casa do Rúben e da Matilde. Sabia que não estava em condições de conduzir, muito menos de aparecer em casa dos meus pais alcoolicamente alegre. Já tinha vinte e nove anos, idade para ter juízo.


**

“Continuas achar que a Maria mudou? Está quentinha e a comer bifanas cheias de molhos. Para muitas mulheres seria o drama da vida delas… Ela diz que vai correr amanhã para queimar.”

Rúben, enquanto Maria explicava porque tinha ido embora, mandava a foto de Maria a comer a bifana cheia de molhos.

“Sabe qual o maior defeito dessa mulher? Ser linda…”

**

-Maria… Maria… - Matilde tentava acordar-me com leves abanões mas eu queria dormir, a ressaca pesa.
-Achas que isso vai resultar? Queres ver como ela vai acordar? – Ouvi os passos de Rúben mas pouco me importei, aconcheguei-me outra vez na colcha para dormir mais um pouco. – Acorda labrega! Acorda!! – Gritava Rúben, ao mesmo tempo que batia com duas panelas, uma na outra.
-Aí Rúben! Pára! Estás a gozar!!
-Filmaste?!
-E se não filmei amor! Está aqui! Lindo!
-Eu não acredito que vocês filmaram isso! – Tentei que levantar-me mas doía-me as costas e sentia a cabeça muito pesada. – Aí a minha cabeça… Que horror.
-Qualquer dia, quando precisar de um favor teu, eu juro que utilizo este vídeo!
-Até parece que necessitas do vídeo, Matilde!
-Não, mas assim sinto-me mais confiante. Que horas são? Eu preciso de ir trabalhar…
-São, dez e um quarto.
-O quê?! Eu entrei à quinze minutos! Aí meu Deus! – Levantei-me rapidamente mas que num dia normal seria a um ritmo lento até. – Eu não acredito que vou trabalhar a cheirar a álcool! Eu vou ter que tomar banho. – Olhei para trás, Rúben e Matilde olhavam para mim. Fiz um beicinho e juntei as mãos como se fosse rezar. – Por favor, deixam-me tomar um banhinho? – dizia enquanto fazia olhinhos e voz de bebé. É claro que não resistiram. Matilde até me emprestou roupa. Quando finalmente sai da casa de Matilde eram dez horas e cinquenta minutos. Fiquei impressionada com a minha rapidez. A casa de Matilde, era próxima do centro de estágio mas um pouco longe do estádio. Um pouco… Bem, tinha que dar a volta a quase toda a Lisboa. Cheguei ao estádio perto das onze e quarenta e cinco, mesmo às onze horas o transito em Lisboa era terrível.
-Bom dia… Desculpa esqueci-me do teu nome, podes-me dizer outra vez?
-Joana. Joana Maurício.
-Peço imensa desculpa. Eu aqui não devia de ter um assistente?
-Eu sou a assistente.
-Pensava que eras a recepcionista. – Talvez a ressaca tivesse-me afectar ainda mais do que esperava.
-Faço um pouco dos dois.
-Ah… Multi-funções. – Joana olhou para mim, com cara de quem não gostou da brincadeira nem um bocadinho. Podia estar com a ressaca mas uma coisa era certa, estava alegre. – Desculpa.
-Estão à tua espera.
-Mais uma reunião? Aqui vocês não param?
-É sobre…
-Deixa-me adivinhar! David Luiz!
-Não… É sobre o Hugo Sobreiro.
-Hugo quem? – Definitivamente, não estava bem. Na última noite devia de ter lido os relatórios sobre os jogadores que o Benfica estava interessado.
-Sobreiro, Sra. Maria.
-Joana... Posso-te chamar Joana? – Ela confirmou – Chama-me de Maria. És mais velha que eu pá! Onde é a sala?
-A mesma da outra vez.
-Claro… - Fiz uma breve pausa e fiquei no meu sitio. Joana olhava para mim. Tentei fazer com que ela percebesse que eu me tinha esquecido da sala. Finalmente ela bufou, entendi que ia dizer onde era a sala.
-É a terceira à esquerda.
-Obrigada, és uma querida. Vai-me buscar dois cappucinos, está bem?
-Dois?
-Sim. Um para mim e outro para ti, ou vais ficar a olhar para o meu? Vai, despacha-te!
Corri um pouco para a sala, lá encontrei as mesmas pessoas da outra vez.
-Bom dia, peço imensa desculpa pelo atraso mas o filho do meu irmão sentiu-se doente e eu tive que o levar ao Hospital. – Que Deus me perdoe e que eles acreditem nesta mentira.
-Bom dia, Maria. Não se preocupe, veja lá se não quer voltar para perto do seu sobrinho.
-Quem? – Tinha-me esquecido totalmente que o futuro filho do meu irmão era meu sobrinho. – Ah, o José. Peço imensa desculpa, eu hoje irei trabalhar a 50%. O José, o meu sobrinho, passou a noite a vomitar e ainda por cima eu estava encarregado dele. Ao que parece mais dois miúdos da escolinha dele também estiveram assim, bem… Sanidade das escolas em Portugal, nas últimas não é? Tal e qual como o nosso estado mas passando a negócios… Bom dia, deves ser o Rúben Sobreiro.
-Hugo.
-Hugo Sobreiro... Volto a pedir imensas desculpas. – Que inferno de dia, hoje nada me ia correr bem, definitivamente. O Sr. Henrique, o director desportivo, entregou-me um relatório onde dizia as informações. Sentei-me na minha cadeira, Joana chegou com o meu cappucino, abri o relatório e saltou-me à vista o preço pelo jogador. Eu, que já estava a beber o cappucino, senti o liquido até a sair pelo nariz. – Pósha pá! Deves ser o próximo Cristiano Ronaldo! Treze Milhões de Euros!? De onde é que tu vens? – Jorge Mendes, o empresário do rapaz que também era o de David tentava não se rir com uma mão a tapar a boca.
-Sra. Maria – disse o presidente. Devia vir desculpa. – O Hugo é um jovem promissor.
-Um jovem?! Tem vinte e cinco anos! Mais quatro e está como eu!
-Por favor, Maria, se não entende de futebol…
-Posso não entender de futebol mas entendo de finanças e segundo as minhas contas não há dinheiro para pagar este jogador sem vender o nosso melhor! – Nesta altura, o melhor jogador era o defesa central Roderick Miranda. Entendi rapidamente o plano. – Não! Não, não e não! Não se vai vender o Roderick, nem se vai comprar este rapaz! Peço imensa desculpa mas este negócio não vai para a frente. Boa sorte no teu futuro mas nem pensar! De onde vens? – O rapaz meio intimidado respondeu tão baixo que nem pude ouvir. – Onde?
-Sporting.
-Ah! Era o que mais faltava dar treze milhões aos lagartos por este aqui! Nem pensar! Jamais! Nem que fosse o Figo 2! – Levantei-me com a minha caneca da cappucino e preparava-me para sair da sala. – Meus senhores… - Lembrei-me de subíto do Rúben. – Para além disso, o Rúben Amorim é o capitão desta equipa e será na próxima época. Joana, prepara os papéis de renovação.
-Mas quem é que a menina pensa que é!?
-Maria Duarte, prazer. – respondi ao presidente visivelmente irritado.
-A menina não me desafie!
-Oiça – agora irritada estava eu. – Eu vim de Cleveland, um dos melhores clubes da NBA para o Benfica. Fiz um contrato de cinco anos. Se quiser pode-me despedir neste preciso momento mas para isso terá de pagar-me cinco milhões de euros. Decida-se. Se eu não quero contratar este jogador não o vamos contratar. O Benfica tem possibilidades de ser uma óptima equipa de futebol mas não pode vender os melhores jogadores. Era tudo, uma óptima tarde.
-Eu gosto dela. Tem raça, nota-se que é Benfiquista! – dizia o Sr. Augusto.
-Olha eu cá acho que cometemos um grande erro em contrata-la. – completava o presidente.
-A rapariga tem dupla personalidade? – Jorge incrédulo com o que se tinha passado, parecia perdido mas não tanto como eu estava naquele momento.

**
-Estou morta. Acabei de gritar com o presidente do Benfica.
“Estás a brincar? Fizeste o quê? Ó Rúben, vem cá ouvir esta!”
-
Não estou nada a brincar. Achas que eu brinco com isto?
“Que se passa? – ouvia o Rúben a dizer. – A Maria gritou com o presidente vê lá! Mas, porque gritaste com ele?”
-Eles queriam comprar um Hugo Sobreiro de vinte e cinco anos do Sporting! Por treze milhões! Eu passei-me! E ainda disse que íamos renovar com o Rúben Amorim! A ver se não!
“Epá, o Hugo Sobreiro? Esse gajo é tão fraquinho. Treze milhões? Só te digo uma coisa «Avé Maria!».
-
Amén! Bem, mas ficou tudo resolvido. A ver se não me chateiam mais com o Hugo… Hey! Não olhas para a frente!? Vê lá se não queres levar-me à frente.. - Tinham-me acabado de "atropelar" no meio dos corredores da SAD. O mundo estava perdido, todos concentrados na sua vidinha que já nem olhavam para a frente - Opá… Está complicado isto hoje…
- “Maria? Maria? Maria, estás bem?!”

  
Deixo-vos uma música incrível dos Radiohead, umas das melhores bandas do mundo. Beijinhos e espero que tenham gostado. Lá para amanhã ou depois edito a parte 3. Obrigada por todos os comentários!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Que mázinha que sou!


Ora bem, o capítulo está pronto mas só amanhã o irei postar. Até lá ficam aqui com um cheirinho de como irá ser.
Ah, para animar as coisas, a partir de agora todos os capítulos irão incluir uma música. Desta vez calhou a uma das minhas bandas favoritas. Conseguem adivinhar quem são? Uma pista, o nome da banda começa com R!
Boa sorte e beijinhos!

Parabéns! - Parte I


-Bom dia, Maria.
-Bom dia mãe.
-Sabes que dia é hoje?
-É o dia em que estou um ano mais velha…
-Pois minha filha, parabéns! Como as coisas são… Há uns anos eras tão pequenina, tão reguila. Andavas só a brincar pela casa mais o teu irmão e agora… A tua mão já é maior do que a minha.
-Mãe, não vais começar a chorar pois não?
-Não, é claro que não!
-Ah, ainda bem… Eu tenho que me despachar, tratar dos papéis da casa.
-Mas vens comer cá a casa?
-Não sei mãe. Mas hoje à noite há jantar fora, quero festejar bem os meus anos.
-Então, filha, e o bolo?
-Eu compro, não te preocupes. Relaxa mãe, é só um jantar.

Vinte e nove anos, apercebi-me que estava a ficar realmente velha. O meu telemóvel não parava. Mensagens escritas em inglês, em português e já tinha recebido uma em francês à qual não entendi nada.
Tentava não me lembrar do que se tinha passado ontem, mas não dava. A imagem de David entrava nos meus pensamentos sem pedir licença.

**

Tinha escolhido um restaurante perto da nossa zona, a “Isabelinha” tinha fechado e a casa, vendida. O negócio estava cada vez pior segundo a mãe de Matilde e preferia vender e ficar com algum dinheiro do que criar dívidas.
-Maria! Parabéns! Estás tão linda! – Estava vestida com um simples vestido cor de salmão. Era o meu aniversário, nada demais. 

-Obrigada Matilde. Como estás Rúben? Há tanto tempo que não te via.
-Estou óptimo, como não haveria de estar. – dizia ao mesmo tempo que abraçava Matilde. - Digo-te o mesmo! Como vais?
-Tudo perfeito, cada vez mais velha mas pronto…
-Não digas isso que eu sou dois anos mais velho que tu!
-Trinta e um, não é?
-Daqui a uns mesinhos, mas ainda é trinta!
-Vê lá é se te casas, já está na altura não achas Rúben?
-Diz isso à tua amiga. Este feitio é complicado… “Casar? Então e isso implicaria experimentar vários vestidos de noiva? Convidar montes de pessoas? Passar um dia cheia de dores de pés?”. – Rúben tentava imitar a voz de Matilde e as suas queixas persistentes. Não é que Matilde não pensasse em casar mas também não pensava em fazê-lo tão cedo. – Mas um dia vou conseguir demove-la.
-Acho que já estiveste mais longe. – Sai perto do casal maravilha e fui ter com Vera e o seu namorado (não me perguntem como é possível). Ela mais uma vez estava maravilhosa. Vestido sem alças branca e uma pochete clássica preta. Simples, mas elegante.
-Sempre linda de morrer. Acho que te saiu a sorte grande. – disse ao rapaz. Ele era lindo, um metro e oitenta à vontade, cabelo encaracolado e preto. Os olhos dele notavam-se ao longe por serem claros e pela sua pele ser morena.
-Tu sabes como é, eu sou a femme fatale.
-Completamente. – Embora Deus tenha dotado o rapaz com boniteza não o tinha dotado com uma qualidade que Vera adorava, inteligência. Percebi que aquilo não era um namoro dito “normal” mas sabia que nem valia a pena perder tempo com perguntas. Vera não era uma pessoa normal.
O meu pai estava reunido com a família num canto da sala a falar com a Dona Isabel e a Dona Ana (mãe do Rúben). Impressionante como elas se tinham dado tão bem, logo desde do inicio. Depois de falar a toda a gente, sentamo-nos todos à volta de uma mesa não me grande.
-Isto ao menos correu bem para teu lado, nunca pensei estar a comer neste restaurante com um grupo tão grande! Melhor, nunca pensei estar a comer neste restaurante! – disse Tiago, sempre na galhofa. A primeira coisa que pensei foi mesmo “O dinheiro não trás felicidade”. Acabei por reflectir no que ia dizer.
-Com algum esforço tudo se consegue.
-Então, mas conta aqui à gente como foi a vida em Cleveland… - Perguntava Rúben. A verdade é que nunca falei muito disso, nem mesmo à Matilde. Apenas dizia que era gestora de uma grande empresa e que a vida estava a correr bem.
-A vida em Cleveland é muito diferente daqui. Eu acordava às cinco da manhã para ir correr, às sete saia de casa para ir trabalhar e as três estava despachada.
-Ora isso é que é vida maninha! Tempo para ir correr, sair às três…
-Sim, mas lá a vida é diferente. Raramente almoçava. Comia sempre o dito brunch americano que é uma junção do pequeno-almoço com o almoço e jantava sempre as cinco da tarde, logo é diferente.
-Então mas trabalhavas onde?
-Cleveland Cavaliers. – Um súbito “Hã” invadiu aquela mesa de jantar.
-Filha, o pai não vê muito disso mas… Não é uma equipa de Basquetebol Norte Americano da Liga Norte América de Basquetebol? – Achei graça à maneira como o meu pai colocou todas as palavrinhas para descrever o meu local de trabalho.
-Sim pai, é isso mesmo.
-Ok, estou espantado maninha. Estou espantado.

**
No final do jantar e depois de uma longa conversa sobre a minha vida em Cleveland, a minha família despediu-se ficando só no grupo os mais novos. Prometi a Tiago que lhe arranjava uma camisola do Lebron James, que tinha voltado a Cleveland. Já Rúben queria uma camisola dos Celtics. "Não me importo de quem seja. Desde que tenha as assinaturas e a camisola, tudo bem!"
-Bem, e onde vamos sair?!
-Sair?
-Querida amiga, aproveita agora porque os próximos anos vão ser complicados. A época dos “30” não é fácil.
Nunca tinha entendido a diferença. Uma pessoa que tem 29 anos não é muito mais nova que uma pessoa que tem 30. Para quê tanto alarido? Talvez quando chegasse lá entendesse. Matilde continuava a discutir com Tiago sobre o sitio a ir enquanto Vera despedia-se de mim.
-Tem cuidado com o que fazes e com aquilo que contas. – Vera sabia bastante bem como era a minha vida em Cleveland. Parecidíssima com o que tinha contado mas à noite as companhias não era de gestores ou algo do género. Preferia jogadores de basquete.
-Ainda confio neles mas não tenho muito para contar.
Vera despediu-se enquanto o namorado olhava para nós confuso. Ou era burrinho de todo ou então nós conseguíamos falar muito bem em código.
-Então, vamos para onde afinal?
-Bairro Alto! – Gritaram os dois em conjunto.
-Então mas se vocês estão os dois de acordo porque raio é que ainda estão a discutir?
-Pergunta ao teu irmão!
-Pergunta à tua amiga!
-A burra sou eu, por ainda fazer esta pergunta idiota.
-Maria, eles foram sempre assim?
-Desde que aprenderam a falar… - Disse ao Rúben que se ria disfarçadamente.
         Acabamos por ir ao bairro alto e ficar num bar ao qual íamos em miúdos. Já sentia tantas saudades, fez-me recordar a minha juventude passada com o meu irmão e Matilde. Sempre foram os meus melhores amigos e mais que nunca sabia que nunca o iriam deixar de ser. Mas naquele momento o que eu não sabia é que outro grande amigo meu também estava a fazer das suas…

“Ela continua a mesma de sempre”

Rúben tinha passado a noite toda a mandar mensagens a David, a contar-lhe como tinha sido a minha vida em Cleveland, se mudei de atitudes… Sucintamente se estava uma mulher diferente. Uma mulher diferente àquela que David se tinha apaixonado.

“Não, ela está diferente. Ela não é a mesma pessoa. Não a reconheci quando estive com ela. Havia uma Maria diferente ali!”

“Vais-me dizer que sabes mais do que eu? Meu, ela está aqui à minha frente. A única coisa que mudou nela sabes o que foi? A idade! Ela continua a mesma só por dizer que coloca uma máscara para enfrentar os papões. Acredita, a Maria é a mesma de sempre. Frágil, bonita, inteligente… Mas desta vez, ela tem poder em certas decisões. De certa maneira está frágil e forte ao mesmo tempo.”

“Eu vi-a, eu olhei-a nos olhos meu irmão… Aquela não era a Maria. Mas eu não tenho culpa, nós seguimos em frente com as nossas vidas. Ela decidiu a carreira profissional e eu tive que encontrar outro alguém. Uma coisa é certa, ela já não me ama e eu o mesmo… Acabou. Foi o único «para sempre» na nossa relação”

“Queres que te conte uma coisa? É mentira todas as palavras que dizes. Tu ainda amas a Maria, mais do que tu pensas. Ela foi, é e será o amor da tua vida tal como tu és o dela.
Ela ontem, depois de ter assinado os papéis do teu regresso foi para a Caparica mas fez tudo menos divertir-se e apanhar banhos de sol.
Mano, vou ver se me divirto um pouco. Acredita em mim, ela não mudou.”

-Vá lá Rúben, sai desse sofá! Anda lá dançar!! Só se faz vinte e nove anos uma vez na vida!
-Maria, estás um pouco bêbeda, não estas?
-Um pouco? Não… Um bocado grande, talvez!
-O que andaste a beber?
-Então, tens que contar, está bem? – Rúben acenou com a cabeça. – Dois safari-cola, um gold strike, dois moscatéis e uma vodka redbull.
-Muito bem menina Maria, tu estás oficialmente bêbeda!
-Não tenho culpa. Sabes, aquele moreno que está ao balcão? Conheci-o quando tinha dezasseis anos. Ele naquela altura era lindo! Tinha dezoito anos! Nós namorávamos assim às escondidas porque… Porque sei lá! Éramos miúdos e não tínhamos nada na cabeça mas depois ele foi estudar para Aveiro… Agora reencontramo-nos e ele disse-me “Maria, tu fazes anos não é?”. Eu claro que fiquei toda contente por ele ainda se lembrar e disse-lhe que sim. Desde aí ele tem me oferecido as bebidas.
-Tens a noção que ele quer levar-te para a cama, não tens?
-Só se for para a dele porque neste momento não tenho casa!
-Tu não estás nada bem.
-Estou sim. Só preciso de uma bifana.
-Onde anda a Matilde?
-Foi buscar as bifanas.
-As bifanas? Eu não acredito… - Nesse momento, Matilde chega com um prato cheio de bifanas.
-Ora aqui estão elas. Tu vais comer duas!
-As que quiseres Mattie. Já tinha saudades das nossas saídas.
-E eu já tinha saudades das tuas bebedeiras. Onde anda o teu irmão?
-Ele foi-se embora. A Beatriz estava-se a sentir um pouco mal disposta. – respondeu Rúben.
-Ó que fofo! Estou a fazer de vela. – Embora estivesse bêbeda, recordava-me sempre do que fazia. Era como se fosse uma bêbeda ciente do que fazia.
-Matilde?! Matilde, ó meu Deus!
-Joana!! – Matilde encontrava pela segunda vez na noite uma amiga da faculdade. – Eu já venho, tenho mesmo que ir ali. Toma conta dela!
-Claro amor. – Eu continuava a encher a minha bifana cheia de mostarda. Rúben ria-se das minhas figuras. – Vais comer isso?
-Assim? Não. Passa-me a maionese e já agora o Ketchup. – E Rúben assim o fez, com uma cara um pouco enjoada. Senti um flash sobre mim. – Hey! – disse de boca cheia. Rúben tinha acabado de tirar uma foto das minhas pobres figuras.
-Amanhã vais-te rir disto.
-Não… Amanhã vou ter que queimar isto. Tantas calorias… O meu colesterol vai subir!
-És uma besta pá.
-Deixa estar, todos nós necessitamos destes momentos.
-Que momentos Maria? Tu tens noção do que fizeste?
Sabia o que me esperava agora. Chegara o momento de ter uma conversa sobre o meu passado, de enfrentar os meus medos e de desabafar um vez por todas, talvez com a mais inesperada das pessoas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Regresso com final feliz?



-Matilde! Matilde!!! Tu não vais acreditar! Vou voltar para Portugal! Eu vou voltar!
Afastei o telemóvel um pouco do ouvido. Matilde estava a gritar de euforia. “Não acredito! Tu vais voltar! Ó meu Deus! Rúben!!! Rúben! A Maria vai voltar!!”
Tinham passado seis anos, agora os meus vinte e oito anos já pesavam e estava a uma semana dos vinte e nove. Quando sai de Londres, regressei a Portugal durante uma semana e quando pude mudei-me para Cleveland. A cidade é gelada, seja de inverno ou de verão. Não estava habituada a este clima. Embora fria, Cleveland é um sitio maravilhoso, as pessoas são civilizadas e simpáticas. Completei o meu mestrado em dois anos e já trabalhava  há quatro no clube Cleveland Cavaliers. Tinha começado a estagiar lá mas rapidamente subi para postos melhores. Agora era Gestora do desporto nos Cavaliers.
         A minha vida tinha sofrido diversas alterações. Só ia a Portugal no Natal e no Verão. Embora a distância não perdi contacto com ninguém, ou quase ninguém. Diogo começou aproximar-se de mim quando estive em Portugal, percebi que a sua obcessão tinha ultrapassado todos os limites e que tinha sido ele a divulgar o meu namoro com… David.
         Não, nunca o esqueci. Permaneceu sempre na minha memória mas tive que seguir em frente na vida. Tornei-me um pouco como Vera, fria e calculista. Envolvi-me com vários homens, muitos do campeonato norte americano de basquete mas nenhum deles me fazia feliz como David fazia. Depois de estar com David, a relação mais longa que tinha tido foi de um mês. Continuava a ama-lo. Pensava nele todos os dias, sentia a sua falta todos os dias e tentava procurar novidades sobre ele, até o dia que entendi que ele também tinha seguido em frente com a sua vida. Mas isso não interessa para nada, a boa notícia é que iria voltar a Portugal e tinha conseguido o melhor emprego do mundo. Administradora Executiva do Sport Lisboa e Benfica. Não ia receber nem metade do que ganho em Cleveland mas a vontade de voltar a Portugal e de trabalhar no clube do meu coração fazia valer a pena.
-Peço imensa desculpa, mas tem que acordar. Daqui a cinco minutos vamos aterrar.
-Obrigada. – Estava ansiosa para ver a minha família, amigos... O meu irmão estava de casamento marcado e julgo que a Matilde estivesse muito próxima de ter data marcada também. Rúben já lhe tinha pedido em casamento. Estavam juntos há tanto tempo que só faltava o pedido.
-Maria!! Maninha feia!
-Meu querido Tiago! Como estás? Onde está o pai?
-Ficou em casa, está a fazer uma festa surpresa para ti.
-Então Tiago! Assim já não é surpresa!
-Se mentisse, irias saber que estava a mentir. Depois ias atordoar-me o caminho até casa… Assim ao menos vamos falando sobre coisas mais sérias. – Agarrou na minha mala e encaminhamo-nos para o seu carro. Em Cleveland o meu carro era um humilde Bentley Continental GT Speed. Infelizmente, tive que o vender. Estava a definir uma boa prenda de casamento para o meu irmão, talvez um Audi Q5. Agora o dinheiro não fazia falta e depois do que lhe tinham feito ao carro, ele merecia algo assim e o seu Peugeot 208 estava a dar as últimas.
-Calma aí, conversa séria? Maninho, acabei de vir de Cleveland, daquela cidade gelada e do meu querido apartamento T2. O que eu preciso agora é de desfrutar toda a beleza de Portugal. Necessito de praia!
-Pois, mas antes de desfrutares toda a beleza de Portugal, vamos para casa.
-Claro. Estou mortinha de saudades da mãe, do pai, da Matilde…

**

Já tinham passado duas semanas desde que tinha chegado a Portugal. As férias estavam acabar, só tinha mais uma semana e depois ia começar a trabalhar. Estava nervosa, ia ser uma nova experiência e tinha que ter muito cuidado com as decisões que iria tomar. Qualquer uma precipitada podia influenciar o Benfica não só financeiramente como desportivamente.
         Andava por Lisboa à procura de um apartamento perto do Estádio. Tinha ficado os últimos dias na casa dos meus pais, não tinha tido ainda muito tempo para procurar casas. Matilde disponibilizou-se para procurar apartamentos comigo. Começamos pelos belos apartamentos em Telheiras. Fiquei apaixonada logo pela primeira casa. Grandes janelas, uma área extensa e a casa muito modernizada. Matilde concordou que a casa era magnífica. O T2 no centro da cidade e perto do Estádio era caro mas valia a pena. Retrocedi na minha intenção de compra quando olhei para a paisagem da minha varanda. Mesmo em frente, conseguia-se ver o prédio onde tinha sido muito feliz uma vez.
-Estava a pensar, perto do estádio estavam a construir uns prédios… Podemos visita-los?
-Claro, mas essa zona é caótica quando há jogos de futebol. – Disse-me o senhor da imobiliária.
-Sim, mas eu não me preocupo com isso.
Matilde percebeu que algo me tinha deixado incomodada.
-Que se passa? Não estavas a gostar da casa?
-Vê-se o antigo prédio do David. Não quero viver aqui. – Estava segura disso, não queria viver junto de recordações. Matilde acenou com a cabeça. Fomos ver outro prédio, em frente ao estádio. A vista da varanda da sala era maravilhosa, conseguia-se ver todo o estádio e as suas imediações. Nem reparei muito na casa em si, mais na sua vista esplendorosa.
-É um T2 grande, muito amplo. Os dois quartos têm casa de banho e roupeiro. Já vem equipado e com equipamentos da LG. Tem óptimos acessos para…
-Ok. É meu.
-Diga? – Acho que o senhor ficou embasbacado com o que disse. Ainda nem tinha apresentado a casa, só a sala e eu já lhe tinha respondido afirmativamente.
-Eu compro, quanto é?
-É 210 mil euros mas se você quiser podemos negociar com o proprietário.
-Não necessito disso, obrigada. – o meu telemóvel tocava, como tinha vários toques para várias pessoas sabia que aquele era do trabalho. – Com lincença. Sim?
-Boa tarde, peço imensa desculpa estar a incomoda-la neste momento visto que só vem trabalhar daqui a uns dias mas o Sr. Presidente necessita da sua ajuda e pedia que viesse trabalhar mais cedo.
-Mais cedo? Como assim mais cedo?
-Agora. Era sobre a contratação de um jogador. Só falta a sua assinatura para a contratação estar concluída, como Administradora Executiva.
Sinceramente não me apetecia nada ir à SAD. Sei como funcionava, ia lá para assinar o papel e depois tinha que ser apresentada a todos presidentes, vice-presidentes, directores, funcionários… Ao mesmo tempo, não podia recusar prestar um serviço ao clube. Suspirei fundo para perceberem que não estava satisfeita com a decisão.
-Muito bem, eu vou. Mais quinze minutos e estarei aí.
-Obrigada.
-Não vais acreditar? Agora tenho que ir à SAD assinar uns papéis. Peço imensa desculpa mas trataremos das coisas amanhã?
-Claro, as horas que lhe der jeito.
-Pode ser às nove então?
-Claro, como a senhor quiser.
-Obrigada. – despedi-me do senhor. Matilde andava pela casa encantada com os seus recantos. – Matilde, despacha-te!
-Posso vir morar contigo?

*
-Tens a certeza que não queres vir comigo?
-Querida Maria, dispenso ouvir as lamechices do teu novo patrão e conhecer todos os seus ignorantes e ignóbeis sócios.
-Tem calma, eu resolvo a situação do Rúben quando começar a trabalhar. Quem sabe, pudera ser já amanhã.
-A animação da tua voz deixa qualquer pessoa felicíssima e contente mas confio em ti. Boa sorte para o trabalho.
-Obrigada Matilde, até logo.
Rúben tinha sido uma das preocupações de Matilde. Rúben tinha uma boa proposta não só para ele mas também para o clube mas Rúben adora o Benfica, logo decidiu ficar. Dirigentes e pessoas com poder do Benfica viraram-se contra ele e querem-no embora do Benfica. Assim que pudesse, era o primeiro assunto que iria resolver.
-Boa tarde. – disse à recepcionista – sou a Maria…
-Duarte. Um prazer conhece-la pessoalmente. Sou a Joana Mauricio, recepcionista da SAD. O presidente está à sua espera.
-É claro. Se me puder acompanhar até à sala.
-Claro.
Os escritórios eram enormes, estava desejosa de ver o meu. Entramos no elevador e subimos ao terceiro andar e percorremos mais uns corredores até entrarmos numa sala de reuniões. Lá encontrei vários homens que me olharam com um sorriso e de alto a baixo. Ressabiados.
-Boa tarde meus senhores, eu sou a Maria Duarte. Pedia que alguém me entregasse um relatório para me pôr a par da situação.
Joana entregou-me logo um mas quando o ia para abrir.
-Antes de mais senhora Duarte.
-Chame-me Maria.
-Maria… Eu sou o presidente, Luís Filipe Vieira. Este é o vice-presidente da secção de futebol, Augusto Silva e à sua esquerda tem o nosso director desportivo Henrique Fonseca. – Lembrei-me de quando o nosso director desportivo ainda era o Rui Costa. Tanto mudou este clube. – Estamos aqui hoje para finalmente concluir a transferência de um óptimo jogador. Este aqui é o director desportivo do Real Madrid e este o empresário do jogador em questão, Jorge Mendes, que deve já conhecer.
-De facto, não. Mas é prazer conhece-los a todos meus senhores. – Voltei a sentar-me para ler o relatório. O Sr. Augusto veio interromper-me.
-Sabe, eu sou contra este negócio. Vamos pagar nove milhões e meio de euros por um jogador que não é novo, não tem margem de progressão. É claro que ele tem muita garra, mas é defesa central e nove milhões mais dois jogadores dos nossos parece-me um pouco exagerado, não acha Sra. Maria?
-Nove milhões? Dois jogadores? Por um defesa central? Desculpe mas este negócio parece-me surreal. Como vão contratar este jogador?
-Sra. Maria, passo-lhe a explicar. Ultimamente o Benfica nem tem estado muito mal financeiramente. - Claro que não estava mal… Apenas alguns anos sem serem campeões, com contas esquisitas, pagamentos de juros elevadíssimos e todas as contas com números muito redondos, se é que me entendem. – mas os adeptos têm se manifestado e não podemos deixar que as coisas caiam mal. Por isso, trazemos um jogador que todos gostam e pronto, caso resolvido.
-Desculpe mas isso só irá resultar com uma quantidade de Benfiquistas. A outra nem quer saber disso, quer o Benfica campeão. A não ser que claro, este jogador seja o Eusébio ou o Sr. Mário Coluna. – Ouvi algumas das pessoas presentes a rirem-se. – Vamos lá a ver, quem é este bem dito jogador, salvador do Benfica pela sua garra e mística gloria?
-Maria?
O relatório caiu no chão, um arrepio percorreu o meu corpo e senti a vibração da sua voz junto do meu ouvido. Era ele, eu sabia que era ele. Não consegui virar-me para trás, permaneci no meu sitio, sentada.
-Impressionante, não me digam que se conhecem! – dizia o presidente surpreendido. – David, rapaz, como estás? – Finalmente levantei-me e olhei para ele acompanho por ela, a sua nova namorada já de longa data.
-Encontrei este Sr. no café lá em baixo. Um prazer em tê-lo aqui connosco. – dei-lhe um aperto de mão e de seguida à sua namorada.
-Sim, foi isso. Estou óptimo senhor presidente. Não cheguei atrasado pois não?
-Nada disso. Que coincidência, há coisas… Bem, sentem-se e vamos assinar finalmente os papéis. Só falta a assinatura da Sra. Maria e a sua.
Mantive-me a olhar para ele, continuava igual. Cabelo comprido aos caracóis, o seu nariz grande, as pequenas marcas. Tinha umas falhas no cabelo maiores, sempre disse que o ia acontecer cedo. Os seus olhos estavam fixos nos meus, nenhum de nós sabia como agir, o que fazer, o que dizer.
-Sra. Maria, quando puder ler e assinar…
-Claro. Eu gosto das coisas rápidas, o contrato é tal e qual como me transmitiram certo?
-Sim, sim.
-Então, mostre-me onde é os sítios para assinar. – Lá a Joana me mostrou os lugares e depressa assinei. – Meus senhores, peço imensa desculpa mas terei que sair. Com licença e até dia 22.
Abandonei a sala a mil, com a pulsação descompensada, respiração apressada e num nervosismo tal que ia a tremer. Quando cheguei ao carro, não conseguia encaixar a chave. As lágrimas queriam rebentar dos olhos mas eu não deixava, aguentava a pressão durante mais um pouco. Finalmente consegui ligar o carro e desapareci dali, sem rumo, apenas à espera que me dessem um lugar para estar, um sitio para descansar, para o cérebro repousar.

Quatro horas depois, Praia do Pescador, Costa da Caparica.

-Maria! Finalmente atendes, estava tão preocupada contigo. Já soube o que se passou, onde estás?
-Matilde, lembraste quando o Chico morreu? – O Chico era um amigo do meu irmão, também nosso amigo. Quando eu tinha 16 anos, o Chico faleceu atropelado por um carro. – Ficamos todos devastados. O Tiago levou-nos à praia do pescador, para ouvir as ondas do mar mas no final…
-Ficamos no carro a chorar que nem crianças. Recordamos os bons momentos que vivemos com o Chico e sentimos, no final, uma felicidade imensa.
-Eu não sinto isso, eu estou nesta porra de carro à três horas a chorar e não sinto felicidade nenhuma! Apenas tristeza, o coração apertadinho, vontade de desaparecer, ciúmes, inveja. Porquê? Tudo já passou, eu tinha metido isso na cabeça! Ele seguiu com a sua vida e eu com a minha! Porque raio estou assim?! Diz-me! Diz-me!
-Porque ao contrário do Chico, o David está bem vivo e ainda mais vivo e rico está o teu amor por ele.
-Eu lembro-me de tudo, tudo. Os bons momentos, os maus momentos. Os nossos beijos, as vezes em que ele dizia que amava-me, aqueles momentos só nossos, únicos. Parecem cicatrizes que nunca vão desaparecer! É como se eu fosse feita de cicatrizes, que por mais que queira esquecer, elas estão marcadas no meu corpo!
-Maria, tem calma. Vou-te aí buscar.
-Não necessito disso. Já estou mais calma. Amanhã é um novo dia.
-Tens a certeza?
-Absoluta. Vou agora ligar o carro, quando chegar a casa mando-te uma mensagem.
-Mas não te esqueças! Beijo grande!
Liguei o carro e parti para casa. Tentei dormir mas o pensamento era sempre o mesmo, David, David, David.