domingo, 30 de janeiro de 2011

"Feliz 2010, David" - Parte III

-É quase meia-noite.

-Quero passar a passagem de ano com você. Nós os dois como um só.

Envolvi-me em beijos com ele outra vez, faltavam pouco mais que dez minutos para a meia-noite. David agarrou em mim e levou-me ao colo até ao quarto. Eu olhava para ele, sentia-me pequena em seu colo. Abracei-me a ele, não sei bem o que tinha, ambos já nos tínhamos visto sem roupa mas aquele momento… Não havia efeito do álcool, nem tentação perante os nossos corpos, apenas um momento de paixão. Colocou-me no chão lentamente e beijou-me novamente. Entreguei-me de corpo e alma a David. Os beijos de David… Era como se estivessem a falar comigo e a cada palavra, a cada toque, a cada movimento de nossas línguas estivessem-me a convencer amar aquele homem. David dava pequenas passadas até me encurralar entre a cama e ele. Sentei-me na cama e esperei por David, que tirava a gravata lentamente. Ele deitou-se em cima de mim, sentia o seu peso que me deixava quente e apertada. Ele continuou com os beijos e eu tentava aos poucos e poucos desabotoar a sua camisa.Com todos os botões desabotoados, retiramos a sua camisa lentamente. Desta vez não havia pressas, todos os movimentos eram vagorosos e o desejo aumentava a cada segundo que passava. Os beijos continuavam, as línguas bailavam uma com a outra e o toque sedoso e suave de David percorria as minhas pernas e as minhas costas, tentando procurar o fecho do vestido. Assim que o encontrou, abriu-o. Senti a pressão que o seu corpo exercia em mim a desaparecer e as suas mãos a irem ao encontro do fim do vestido, retirou-o sem pressas, devagar e quando já não tinha vestido, senti os seus lábios a tocar na minha barriga. Deu-se um arrepio em mim, senti os pêlos dos meus braços a eriçarem-se. O calor apoderava-se de mim, a loucura do cérebro, e o prazer do meu corpo, o amor tratava do meu pequeno coração que era do tamanho do meu punho mas que sentia-o cada vez mais pequeno, visto que David teimava a ocupa-lo. Cheirei o perfume de David enquanto lhe dava um beijo no pescoço, era o que lhe tinha oferecido, o one million. Senti-me feliz por ele gostar do perfume que lhe tinha oferecido. As minhas mãos desceram no seu corpo e foram ao encontro do seu cinto. Retirei-o e desapertei as suas calças, David tirou-as depressa e voltou para cima do meu corpo mas os seus beijos cessaram e David olhou para mim com os seus grandes olhos.
-Você tem a certeza que quer isto?
-Quero isto e muito mais. Quero ser só tua, quero que nós sejamos um só.
-Não é um acto de loucura apenas pois não?
-Não David, eu adoro-te.
-Maria...
David sorriu e enterrou a sua cara no meu pescoço, não entendi a expressão que utilizou, disse o meu nome como se fosse um desabafo. Senti que ia dizer algo mais mas que se tinha arrependido. As suas mãos empurravam o meu corpo para cima, tentando chegar ao feche do meu caicai. Retirou-o gentilmente e cobriu-me os seios de carícias, tinha arrepios sucessivos e já não conseguia esconder o prazer que estava a sentir com os meus suspiros e gemidos. Puxei um pouco dos seus boxers e David fez o resto. Só faltava o meu fio-dental para o ciclo ficar completo e começar outro ainda mais mágico, ainda mais intenso e mais cheio de prazer. David retirou-as com gentileza e delicadeza, quando olhei para David, vi que já estava erecto e fiquei com medo de alguma loucura cometida por causa do desejo do momento.
-David… Preservativo?
David subiu no meu corpo com beijos por todo ele, os seus lábios beijavam as minhas pernas, a minha barriga, os meus seios, o meu pescoço e finalmente a minha boca. Senti umas das suas mãos a largar as minhas pernas que estavam enroladas a seu corpo. Não vi o que fazia mas ouvi uma gaveta abrir e a fechar. David parava de me beijar e colocava o preservativo na sua boca para o abrir.
-Estás doido? Podes rompê-lo. Dá cá isso. – Levantei o meu corpo e agarrei no preservativo, rasguei a bolsa e coloquei-lhe o preservativo, ouvi David gemer. Não tinha medo de o fazer, já tinha uma grande intimidade com David e preferia isso do que alguma consequência inesperada. Eu, estava sentada da mesma posição como ele me tinha deixado. Deitou-se em cima de mim e as minhas pernas voltaram a rodear o seu corpo. Ouvimos uns gritos, deviam de ser os vizinhos a fazer a contagem final até à passagem do novo ano, David beijava-me e pouco depois encaminhou-o para dentro de mim. Penetrou-me e ouvi o primeiro disparo de fogo-de-artifício. Ele começou num movimento vaivém lento, sentia-o dentro de mim. O calor era cada vez maior e sentia-me molhada de suor. Os gemidos eram cada vez mais forte, David beijava-me e saboreava o momento. Não era sexo. Quando havia sexo só sentíamos o gozo, o desejo, usávamos os nossos corpos para obter prazer mas aquilo era muito mais que sexo, era amor. Sentia paixão em cada movimento, desejava-o cada vez mais e saboreava aquele momento muito mais do que num simples momento de prazer. A palavra sexo era banal para caracterizar aquele momento. As minhas mãos agarravam as suas costas, o auge chegava aos poucos e poucos. Senti as minhas costas arquearem-se e não resisti em gritar. David gemia e dizia algumas palavras que muitas vezes não eram palavras mas sim gritos de prazer e desejo. Senti finalmente o ponto mais alto daquele jogo de sedução, amor e fantasia: o orgasmo. Todo o meu corpo sentia arrepios, eu gemia e sentia que o meu corpo estava a ganhar vida própria, os meus gritos de prazer ocupavam todo o quarto, era como se um choque eléctrico tivesse passado por todo o meu corpo. David continuava no seu vaivém cada vez mais rápido. Ouvia também os seus gritos, ele também estava a desfrutar do momento tanto quanto eu, sentia-o e via-o nos seus olhos. Senti o calor a ficar cada vez  mais intenso, o coração batia de forma rápida como se tivesse arritmia. Voltava a encarar David, a cara dele era de prazer. Voltava-me a beijar. As minhas mãos agarravam as suas costas, a sua cara e permitiam-me puxa-lo para dar-lhe pequenos beijos, para ele saber o quanto o adorava enquanto as suas mãos faziam movimentos por todo o seu corpo, apertavam as minhas pernas, aconchegavam os meus seios e passeavam pela minha cintura e corpo. Cada movimento das tuas mãos deixava-me louca. A cada momento que passava, sentia o meu sentimento por David aumentar, sentia as minhas mãos a percorrer as sua pele suave, o meu corpo transpirava, seria isto o amor? Nunca o tinha sentido de tal forma, era muito forte. Os beijos eram sucessivos, há maneira que os movimentos deixavam de o ser. Quando tudo começou a cessar e os beijos a ficarem mais regulares. Senti a transformar-me numa pessoa só novamente, naquele momento estavam duas pessoas na cama e não apenas uma como há poucos segundos atrás. As minhas mãos subiram até há sua cara que estava cheia de suor, parecia que tínhamos acabado de correr a maratona de Lisboa. Olhei-o nos olhos que brilhavam, na sua cara estava um sorriso estampado, a felicidade carimbava aquele momento. Não sabia as horas, mas os foguetes já tinham parado há muito.

-Feliz 2010 David.

-Feliz 2010, Maria. Espero que esteja sempre a meu lado.

-Vou estar.

Ele deitou-se a meu lado e eu aninhei-me no meu seu corpo e ele abraçou-me. Ficamos os dois, nus, deitados um ao lado do outro. Deixei-me dormir pouco depois, com a cabeça encostada a seu ombro. Haveria momento mais singelo do que aquele? 

sábado, 29 de janeiro de 2011

"Feliz 2010, David" - Parte II

Fiquei surpreendida por me mandar subir. Era a primeira vez que ia entrar na casa de David, não estava à espera. Pensei que fossemos jantar a um sítio qualquer mas na casa do David era muito melhor. Quando lá cheguei, a porta estava entreaberta, empurrei-a. No chão estava uma carta. “Segue as velas”, estava lá escrito. Por todo o Hall havia pequenas velas acesas no chão. Segui-as até entrar dentro da sala. Fiquei pasmada ao olhar para a sala. Estava cheia de velas e tinha uma mesa no centro, com um castiçal no meio. As únicas coisas que iluminavam a casa de David eram aquelas velas. Como tinha o cabelo apanhado, uma trança que Matilde me tinha feito, senti as umas mãos frias e grandes nas minhas costas e depois no meu pescoço. Virei-me e David ali estava. De camisa, gravata e casaco preto. Vestido como se fosse a uma gala. Estava quase da altura de David, os sapatos davam-me mais dez centímetros de altura. Ele beijou-me, não me disse mais nada. Os nossos lábios faziam movimentos conjuntos e combinados, apenas perfeitos. Os corpos juntavam-se e as mãos procuravam a posição perfeita no corpo de cada um. Senti o coração de David quando coloquei a minha mão lá, batia depressa e forte.
-Estás nervoso?
-Não, porquê?
-O teu coração… Está acelerado.
-É normal, com uma bomba destas a meu lado! Você está linda, Maria!
-Obrigada, tu também não estás nada atrás. – Permanecemos em silêncio, ele agarrou na minha mão e levou-me até à mesa. Puxou-me a cadeira e pediu-me para sentar como se fosse meu mordomo e ajustou-a de seguida. Foi à cozinha e voltou com um tabuleiro enorme.
-O que é isto?!
-Então, do lado esquerdo temos perna de porco com ananás à bimby e na direita temos bacalhau com Espinafres à Dona Anabela.
-Dona Anabela?
-A mãe do Rúben. Esse aí de certeza que está delicioso, agora o outro…
-Ao menos não se morre à fome.
Começamos pelo bacalhau. De facto estava delicioso, talvez o melhor bacalhau com Espinafres que alguma vez comi. Acompanhar, David trouxe um vinho de reserva. Depois, comemos a perna de porco que estava muito saborosa. “Eu bem disse que a Bimby cozinhava bem!” dizia David, consagrando-se e à bimby. O jantar foi feito de conversas sobre o passado e sobre momentos marcantes de 2009.
-Diz-me lá qual foi o momento que mais te marcou este ano!
-Não digo se não você fica toda vaidosa.
-É comigo?
-Sim, claro que é consigo. Eu já disse para você que foi a melhor coisa que aconteceu este ano. Você e o ano ter começado tão bem para o Benfica!
-Então diz-me lá, qual foi?
-O jantar que tivemos em sua casa.
-O jantar? Que horror David! Estávamos bêbedos e fomos apanhados!
-Sim, mas foi a primeira vez que eu beijei você! E qual foi o seu momento mais marcante?
-Tive quatro. Quando acordei a primeira vez sem Diogo a meu lado, quando me separei dele, quando o meu pai voltou a falar comigo e o almoço no Barbas.
-O almoço no Barbas? Esse é que não faz sentido não! – David ria-se ao ouvir os meus momentos mais marcantes.
-É verdade, lá apercebi-me de certas coisas.
-Como por exemplo…
-Que eras muito importante para mim e eu não te podia tratar assim.
-Era?
-Sim, eras.
-Como assim, era?
-Então tolinho, agora és muito mais! – Desfizemo-nos em gargalhadas. David levantou-se e ligou o “Sound-sistem”e colocou um CD a tocar.
-Conheces esta música?
-Fur Elise, de Beethoven. Adoro, das minhas favoritas dele.
-Sabe quem era Elise?
-A mulher que Beethoven amava, era como uma musa que inspirava-o nas suas composições. Ela era tão importante para ele que até lhe fez uma música. Adorava ter um homem assim.
-É assim, eu não sei tocar piano, tenho uma guitarra mas só sei tocar um pouco. Posso dedicar-lhe um golo se quiser?
-Um?! Quer dizer, Beethoven dedica uma das suas melhores composições à sua amada e eu só tenho direito a um golo?
-Pronto, fazemos assim, todos os golos que eu marcar até ao final da época são para você.
-Hum… Não sei se isso é suficiente.
-Então?!
-Um Central nunca marca muitos golos por isso… Gostava mais que fossem todos meus até ao final da tua carreira.
-Você? Me dizendo isso?
-Sim, o que tem?
-Eu é que fui a pessoa que andei sempre a insistir nesta relação. Você não queria isto e agora já está a fazer planos a longo prazo?
-Agora tenho certezas.
-Pode-me dizer uma delas?
-Quero ser tua.
David, que estava na outra ponta da sala ao pé do Soundsistem, encaminhou-se até mim. Pediu a minha mão, como se fossemos dançar. Entreguei-me a David e ele agarrou-me, íamos mesmo dançar.
-Eu não…
-Pshíu… Apenas ouve a música e tenta acompanhar…
Seguia David nos passos e no seu olhar fulminoso, adorava aquele homem era certo mas parte de mim já o queria amar. Queria saber o que significava amar alguém que nos ama também. David continuava a dançar e sem avisar, parou. Agarrou-se à minha cintura e puxou-me ligeiramente para perto dele. “Eu quero que você seja a mulher da minha vida.” Disse-me ao ouvido, o meu corpo estremeceu e a minha cara ficou pálida. Nem Diogo, ao fim de três anos de namoro, me tinha dito tal coisa. Fiquei estática durante alguns segundos e depois voltei a reagir perante a situação, beijei-o. Beijei-o como nunca tinha beijado ninguém, aquele momento, era o melhor. A melhor maneira de acabar o ano junto do melhor homem que poderia ter conhecido. Beijei-o de saudade, com amor e carinho, desejava-o mais que tudo naquele momento. Beijei-o com toda a intensidade do momento. As nossas respirações começaram a ser apertadas e os beijos ofegantes. Sentia o toque de David, nas minhas costas, nas minhas pernas, na minha cara. Faziam pequenas viagens pelo meu corpo, até que parei.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Feliz 2010, David" - Parte I

Antes de mais queria avisar de uma coisa que me tenho vindo a esquecer. O David e a Maria conhecem-se no final de Novembro de 2009. Peço desculpa por só avisar agora. Beijinhos e muito obrigada por lerem!



-Como achas que estou?
-Linda, Maria! Eu disse que esse meu vestido ia-te ficar a matar!
Não queria ser convencida mas, o vestido ficava-me mesmo bem. Era perfeito, maravilhoso. Queria ficar assim para David, sabia que ele estava a preparar uma surpresa e queria aparecer de uma boa forma, não de qualquer maneira. Para além do vestido, ia usar um casaco preto e uns sapatos cremes às tiras com pequenos brilhantes.


-Maria… Quero-te perguntar uma coisa…
-Pergunta Matilde. – Já sabia que vinha alguma pergunta disparatada a caminho.
-Tens andado a tomar a pílula? É só em caso de…
Desta vez não respondi de forma efusiva mas mais calma. Relações entre nós era uma coisa que realmente poderia acontecer, agora se estava pronta… Não sei responder a isso.
-Matilde, eu não posso usar a pílula, é muito forte para o meu sistema.
-Mas aquilo já foi há tanto tempo.
-Vai fazer para o mês que vem um ano. Um ano sem células cancerígenas no meu corpo.
-Temos que festejar então! Uma grande festa!
-Sabes que não sou fã dessas coisas. - Festas, confusão, caos, eram palavras que detestava. Sempre fui assim, nunca dei grande importância a festas ou discotecas. Gostava muito de estar com os meus num sítio mais sossegado.
-Então ao menos eu faço um bolo para nós comermos. Ah, é claro, e tu podes convidar o David!
-Eu duvido que ele venha.
-Porquê?
-Acho que não quer morrer de envenenamento.
-Aí que gracinha! Então pronto, eu peço à minha mãe para fazer.
-Sendo assim eu acho que ele vem. É verdade, nunca mais falamos sobre isto, – fiz curta pausa – Nunca mais falaste com o João? – João, o rapaz que Matilde tinha abandonado por mim. Sim, por mim. Ela passava tantas horas a meu lado e a cuidar de mim que João terminou tudo com ela. Matilde era a melhor amiga que podia ter, disse-me sempre que eu era mais importante que um simples namorado mas vi-a sofrer por ter perdido aquele “simples namorado”.
-Faz parte do passado. Nunca mais falei com ele desde... Bem, desde Setembro.
-Amiga, devias procurar alguém que te fizesse feliz. És tão perfeita. Tu és a melhor amiga que eu algum dia poderia ter – abracei-a, os abraços eram assim. Diziam mais que as palavras.
-Sim, eu também acho mas quero levar as coisas com calma.
-Espera. – Notei algo na conversa de Matilde. “Quero levar as coisas com calma”. Isso é conversa de… De uma pessoa que está apaixonada! – “Levar com calma” o quê?
-Não sabes?
-Não sei do quê?
-Pensei que sabias...
-Saber o quê!?!
-Bem, é que… Eu e o Rúben… Nós… Quer dizer… Nós nada. – disse com uma voz esganiçada - Mas andamos a falar imenso e eu estou perdidamente apaixonada por aquele homem mas ainda não tive coragem para dizer! – disse-me rapidamente, atropelando as palavras e fazendo imperceptíveis algumas dessas palavras.
-Uau… Agora com calma está bem?
-Ó Maria, foi o que disse. Nós temos almoçado fora, às vezes eu vou ter com ele e ele comigo. Falamos muito ao telemóvel, devo gastar umas quinhentas mensagens por semana só com ele… Aí Maria, a sério… Ele é fascinante. Tem um coração de ouro. Está sempre preocupado e… - Fez uma interrupção no seu discurso. – Espera aí… Como é que tu não sabias de nada? O Rúben contou certamente ao David, eles são melhores amigos.
-Olha, se calhar não contou nada! Se calhar, pensava que eu já tinha dito a ele porque pensava que tu já me tinhas contado a mim, tal e qual como aconteceu contigo. Mas espera que eu hoje à noite já lhe conto! Tudinho!
-Não! Tudo não! Ele não pode saber que eu… Bem… Eu…
-Sim, eu não conto essa parte. – Sem querer desmanchei-me a rir com toda a situação. Matilde ficou confusa com a minha reacção.
-Que se passa?
-Tens a noção que tivemos muita sorte? Tu pelo Rúben e eu pelo David. Duas pessoas estrondosas. Imagina que nos calhava dois trambolhos novamente?
-Arre Satanás! Não digas muito se não ele vem arruinar as coisas.
-Aí Matilde, não és tu que dizes que “O destino já está escrito e nada o pode alterar”?
-Sim…
-Então não te preocupes. O que te dizem as cartas?
-Aí… Ainda não tive coragem para ver.
-Como assim?
-Então, não tive coragem. O que queres que te diga!?
-Quer dizer, tu lês a mim e tens medo de ler a ti.
-É diferente. Para além disso, eu não posso ler a mim.
-Então vai à Maya ou ao Professor Mambo! Sei lá!
-Que gracinha. Goza, goza, mas o que as cartas te disseram está realmente acontecer.
-Aí está, talvez devas reformular a tua frase. Nada está acontecer que é muito diferente.
-Amanhã falamos e contas-me se nada está acontecer.
-Está bem, agora tenho que me despachar. Já estou atrasada.
-Vais como? E para onde?
-Ele deu-me esta morada e pronto, eu vou para lá, de táxi.
-Podia ter sido simpático e vir-te buscar.
-Ela já é demasiado simpático. – Pisquei-lhe o olho e dei-lhe um pequeno beijo na testa. O táxi já me esperava e tinha que me despachar. Um pouco de gloss e saí da porta fora apressada. Quando cheguei ao sítio combinado, não vi restaurantes nem nada parecido mas uma zona residencial. Dirigi-me à porta 67 como dizia no papel. Fiquei surpreendida com o papel que estava colado à porta do prédio. “Manda mensagem para mim”. Qualquer pessoa podia ver aquele papel poderia ficar confusa mas eu sabia muito bem do que se tratava. Não tardei a mandar-lhe uma mensagem.
“Olá Mon Chéri. Já cheguei. Para onde tenho que ir?”
Embora achasse um pouco estranho chamar nomes carinhosos ao David, fui-me habituando e agora já lhe chamava muitas coisas. “Mon Chéri, meu anjo, meu bicho, minha coisa linda”. Achava engraçado como usava sempre o pronome “meu”. De facto, parte dele já fazia parte de mim.
“Maria, meu amor, vou abrir a porta. Depois você sobe até ao quinto direito, ok? Beijo”


Continua...

Reencontro - Parte II

O Isabelinha não ficava muito longe dali. Eram quinze minutos de carro. Quando lá chegamos pedi à dona Isabel para irmos para o piso de cima, para não haver muitos olhos vidrados em nós. Ela aceitou com um sorriso. É óbvio que não lhe falei que David era o meu… “Companheiro de relacionamento” mas disse “Dona Isabel, estar aqui com o David é o mesmo que estar numa fila da Segurança Social, mete nojo. Aqui é porque irei ter toda a gente a olhar. Ainda por cima, precisava de falar com o pobre rapaz. Anda com azar no amor, a namorada deixou-o.”. David claro, não estava a facilitar as coisas, estava afastado de mim, a um canto perto da entrada e quando inventei toda esta história dona Isabel olhou para ele. Reacção de David: acenar com um sorriso de todo o tamanho. “Filha, o rapaz é normal? Não me parece muito triste” disse ela. Que embrulhada onde me estava a meter. Já estava farta de mentir. Custava-me tanto fazê-lo. O meu pai sempre disse que era um acto vergonhoso e agora estava a fazer. No caso do meu pai até estava a desobedecer a dois dos seus pedidos. Primeiro de não mentir e o segundo de estar com um rapaz. “Dona Isabel, sabe, tem razão. Ele sofre de um problema. É obsessivo-compulsivo e às vezes tem estes comportamentos. Acha que posso ir lá para cima? Eu venho cá buscar a comida.” expliquei, tentando despachar a conversa, até já estava a inventar doenças. Que Deus me perdoasse um dia por tantas calúnias que estava a fazer. “Não é preciso filha, vai, vai que eu já mando a comida e bebidas pelo elevador. Só tens que me dizer o que queres”. Senti-me mais aliviada pela Dona Isabel ter acreditado em tudo aquilo. Ambos pedimos Robalo assado e fomos para o 1º piso. Quando lá chegamos David apercebeu-se que estavamos sozinhos.
-Isto tudo, só para a gente?
-Sim, é só para nós. – Agarrei-me a ele e puxei a sua camisa pelos colarinhos – No parque ias fazer uma coisa que não deixei… Queres tentar agora?
-Você dá-me licença?
-Dou sim.
David puxou-me para perto dele agarrando a minha cintura. Embora estivesse um dia frio, qualquer pessoa aquecia ao lado de David. Queria que ele me beijasse, me desse um beijo longo e simples, suave e carinhoso, como fora na primeira vez. Um beijo verdadeiro. Queria que ele me fizesse feliz e sentida e parecia que ele sabia que eu queria isso mesmo. “Quero que sejas minha” disse. Sentia-me arrepiada, a vontade com que David tinha dito tal coisa, o sentimento. “Quero ser tua” respondi. Ele deu-me um beijo lento e que se transformou voraz. Ambos necessitávamos daquele beijo, embora nenhum de nós dissesse, os nossos beijos afirmavam, estávamos apaixonados um por o outro. Não havia palavras para explicar aquele momento. David subia as suas mãos para minha cara e fazia pequenas carícias com elas, sentia os lábios suaves e a ternura nos movimentos de David. Aquele beijo representava as saudades, a paixão, afecto, carinho. O beijo não era cinematográfico, era sentido, era… amado. Conseguia descobrir David apenas e só com um beijo, com um simples mas tão importante beijo.
-David… - afastei-me um pouco dele – Nunca tenhas dúvidas.
-Do quê?
-Que és importante para mim.
David mais nada disse, voltou a beijar-me. Parei com tudo, pus as minhas mãos em seu peito, sabia que não ia aguentar muito mais tempo. Era demasiado tentador e não podia acontecer.
-David… Por favor, aqui não.
David roubou-me um beijo e abraçou-me. Sentia sua falta, dos seus carinhos, dos nossos passeios. O resto do almoço foi feito em carícias, beijos e brincadeiras. Embora houvesse dois pratos, David retirava comida do meu. Eu, por minha vez, tinha as minhas pernas em cima das delas. As nossas cadeiras estavam quase juntas e da grande mesa só se aproveitava um bocadinho.
-Maria, o que vai levar para a passagem de ano?
-Um vestido… Espera aí, não te vou dizer.
-Porquê?
-Porque sim. É surpresa e não, não há nada que possas dizer ou fazer para mudar de ideias.
-Pronto, pronto. Ah, já me esquecia. Você vai ao jogo com o Nacional?
-Não, não vou. – fiz uma pequena paragem, sentia-me com vergonha de não ir apoiar a equipa – Os bilhetes são caros e eu não estou a nadar em dinheiro.
David sorria para mim, com um ar um pouco tolo mas eu sabia o que ele queria dizer. Estava satisfeitíssimo com a minha resposta embora tivesse sido negativa.
-Então ainda bem, você vai ver o jogo no camarote das famílias.
-David… Nem penses! Eu aí não entro.
-Porquê é assim? Eu tenho a certeza que você ia adorar conhecer a Daniela. Ela é o género de uma Matilde.
-Não é por causa disso David. É porque… Bem… Eu não me sinto bem ao lado daquela gente rica e chique e… Eu não me sei comportar de forma chique num jogo do Benfica. Imagina que o árbitro começa a roubar e eu sem querer mando uma asneirada das grandes. Já imaginaste a vergonha?
-Maria, ouve-me uma vez na vida e faz esse favor para mim, vai ver o jogo ao camarote, ok?
-Ok, ok. Chato. Ao menos posso ir de camisola e cachecol?
-Claro que sim.
-E ténis da all-star?
-Sim Maria, você vai como quer.
-Ok, pronto, eu vou então… Ah, mas só vou com uma condição.
-Qual?
-Marcas um golo para mim.
-Isso já é motivação extra e tudo!
-Então pronto, se não marcares nunca mais vou para lá!
-É… Isso não vale. Fazemos assim, se eu não marcar nos próximos 5 jogos, você não volta a pôr lá os pés.
-Combinado. – David estendeu-me a mão para o acordo estar zelado. Apertei-lhe a mão.
-Na Luz… - segredou.
-Hã?
-Próximos 5 jogos, na Luz.
-Espera aí, isso não vale!
-Vale sim.
-Aí é? Então olha, era bem-feita que só marcasses nos jogos fora.
-Você é mazinha viu? Quando for ao camarote nunca mais vai querer sair de lá. Bancos fofinhos, bar privado, ar condicionado…
-Aí está. Qual é a graça de ir ver um jogo de futebol sem brigar por uma cerveja, sem apanhar chuva ou sem ficar com as pernas doridas por não se sentar em todo o jogo por causa do nervosismo?
-Você é doida, já lhe tinha dito?
-Acho que sim, ou uma coisa parecida..
-Pronto… Maria! Posso dizer-lhe uma coisa?
-Sim David…
-São duas horas e cinco minutos.
-São quê?! Ó Meu Deus, a Eunice vai-me matar!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Reencontro - Parte I

Era nestes momentos que eu tinha certezas. David nunca poderia sair à rua sem ser incomodado por um adepto ou por um jornalista. Estava no aeroporto à sua espera, queria abraça-lo, sentir-lhe mais uma vez. O voo tinha-se atrasado, já faziam quatro horas desde que estava no aeroporto. Passava pouco mais das duas da manhã quando ele sai por aquela porta, os meus olhos brilhavam, sentia uma vontade de correr abraça-lo. O pé direito saltou para a frente, que foi pelo coração, mas o esquerdo num acto de controlo, parou. Quando desceu pela rampa, ele sorria para mim mas foi depressa encurralado por jornalistas. Nem eu sabia como é que eles estavam ali, não me tinha apercebido que naquele aeroporto estavam assim tantos. Recuei e sai do aeroporto, não me iria expor desta forma. Não queria andar em capas de revista, nem agora, nem nunca. Mandei uma mensagem do David a explicar a situação, ele compreendeu mas mostrou a sua tristeza face ao sucedido. Começamos numa troca de mensagens às duas da manhã. Quase como se tivéssemos a falar a sete mil quilómetros de distância.
Maria:  “Queria tanto abraçar-te. Sinto mesmo a tua falta. Já chorei por causa disto e tudo. Amanhã quero-te ver David, sem falta.”
David: “Eu quero ver você agora. Posso ir ter aí?”
Maria: “Não pode ser David, a Matilde já está a dormir. Amanhã vamos passear os dois.”
David: “Não sei se aguento até amanhã”
Maria: “Vais ter que aguentar. Vou dormir, amanhã tenho que acordar cedo para ir trabalhar. Beijo, adoro-te David”
David: “Adoro-te Maria, amanhã de manhã vou ter com você ao Estádio. Quero dar-lhe um grande beijo!”
Pensei em responder mas estava demasiado cansada. Deitei-me debaixo dos lençóis e adormeci pouco tempo depois.


*Amo-te Maria*
 
-Então menina Maria, seja bem aparecida. Como foi o Natal? – perguntava Eunice entusiasmada logo no inicio da manhã. Comigo passava-se exactamente o contrário.
-Correu bem, e o teu, como foi? Muitas prendinhas?
-Correu bem, que dizer, melhor não podia ter corrido. Aí recebi um telemóvel novo, roupa, uma viagem ao Dubai e uma proposta de trabalho no Sporting SAD.
-Como é? Sporting? - Até já tinha o habito de David dizer "Como é?", estava-se a tornar grave.
-Sim, e pagam muito melhor do que aqui. Estou mesmo a pensar em ir para lá.
-E o que vais fazer lá?
-Nada, a mesma coisa que algumas raparigas daqui fazem na SAD. Causar boa impressão.
-Como assim?
-Puxei uns cordelinhos e pronto, apareceu a proposta de trabalho.
-E… Desculpa perguntar-te mas, no Sporting? Eu não conseguia. Que clube.
-Nem por quatro mil e quinhentos euros mensais?
-Nem por dez mil minha querida amiga. Há coisas que não se vendem. O amor é uma delas.
-Hmm… Por falar em amor, como está a minha cara conhecida do David Luiz?
-Amor e David Luiz na mesma frase? Uí… Deixamos de falar para tua informação, Eunice. – se a mentira matasse...
-Deixaram? Como assim?
-Falamos assim, casualmente. Ele desejou-me um bom Natal e eu desejei-lhe um óptimo Natal. Pronto, é assim. Eu não acredito que tu acreditavas que eu e ele…
-Não! Eu não acreditava nisso! Eras demasiado inteligente para namorares com aquele tipo. Embora eles sejam bonitos, nós sabemos como é que eles são… Para eles, o amor é como um negócio. É mais lucrativo com uma TOP Model.
Ouvir aquilo sobre David deixava-me enraivecida. Não gostava que falassem mal das pessoas quanto mais quando falavam de uma pessoa de quem eu gostava. Parte de mim queria dizer “Olha lá ó, vê lá que não sabes do que estás a falar!” mas outra parte pensava “Tem calma Maria, respira fundo. Não podes dizer nada. Vá, agora sorri e concorda com a ideia”. Fiz isso mesmo, concordei com a ideia e sorri. Lá no fundo mas bem no fundo eu queria contar e com o maior dos sorrisos, mas como tudo na vida, haveria um senão. A conversa ia-se espalhar e todas as pessoas iriam ficar a saber algo que não cabia nem fazia sentido na minha cabeça. Quando começou a visita das onze, recebi uma chamada de David que não lhe pude atender. Numa pequena pausa durante a visita resolvi telefonar-lhe.
-David?
“Maria! Porque não me atendeu o telemóvel?”
-Estou a trabalhar, David!
“Ah, sim. É verdade. Olha, tenho treino hoje às cinco por isso até às quatro horas sou todo seu”
-É uma pena que eu tenha que vir trabalhar às duas e meia.
“Então quando é que eu vou estar com você?”
-Vem ter comigo ao meio dia e quarenta.
“Aí ao estádio?”
-Não, não… Combinamos assim, vem ter aqui as mediações do Estádio e quando chegares liga-me e diz o sítio, ok?
“Sim, está bem. Como você quiser meu anjo. Até já então”
-Até já, David. Beijo grande.
“Beijo grande para você também.”
Preparava-me para afastar o telemóvel do ouvido e desligar mas voltei atrás. – David?!
“Sim?”
-Adoro-te. – Desliguei logo de seguida, tinha que me despachar e não queria ouvir o que tinha ele para dizer. Despachei a visita e voltei para à porta 18 ter com Eunice. – Aí Eunice, Eunice. É tão bom trabalhar neste Estádio.
-Ainda bem que falas em trabalho.
-Então?
-Aceitei o trabalho na SAD do Sporting! Preciso de mudar de ares, de conhecer outras pessoas. É a escolha perfeita.
-Então e quando é que te vais embora?
-Estive agora a fazer a minha carta de demissão e já falei com as pessoas lá de cima, amanhã já só devo vir cá de manhã.
-Como?! Então e eu?! Como faço isto tudo sozinha!?
-Tem calma… Já encontraram substituto para mim.
-Já?! Tão rápido?
-É, ao que parece tinham uma menina sem fazer nada então colocaram-na no meu lugar.
-Calma, que menina?
-Uma daquelas que tem as unhas afiadas sabes? O David até deve conhece-la. Ela tem o número dele e acho que já falaram algumas vezes.
“Pode ter o número dele e David não falar com ela.” pensava a minha pobre cabeça. Naquele momento estava a entrar num estado crítico. Afinal de contas, elas eram as típicas “tias venenosas” e isso metia-me medo. Trabalhar com elas, ou sem elas, era a mesma coisa que o Benfica jogar com o Felipe Menezes, jogar com menos um.
-Qual delas é? Era alguma daquelas que estava no restaurante quando lá fomos almoçar?
-Sim, era uma das loiras. Chama-se Raquel. É simpática mas tem cuidado, se ela não gostar de ti é uma víbora do pior.
-Não acredito que me vais abandonar. Ainda por cima vais para o Sporting. Que horror. Se fosse noutros tempos considerava traição.
-E agora, não consideras?
-A vida está difícil, às vezes não podemos ter tudo o que queremos.
-Ora bem…
Fiz a minha última visita e fechei a porta do nosso escritório. Eunice já se tinha ido embora. Toda aquela conversa tinha-me deixado arrepiada. Conhecer uma rapariga que tinha as “unhas afiadas pelo David” não fazia parte dos meus planos. David ligou-me e disse que estava num jardim perto do Estádio, só me lembrei de um e tentei nesse mesmo. David estava sentado num banco, quando eu estava já perto dele uma rapariga, de catorze ou quinze anos chegou-se ao pé dele. Pediu para tirar uma foto e um autógrafo. Eu assistia àquilo escondida atrás de uma árvore. Quando a rapariga se foi embora, fui ter com ele. Como estava sentado num banco, ele não se apercebeu que tinha chegado por trás então pus as minhas mãos nos olhos dele.
-Mãos lindas e geladas, hmm… - retirou as minhas mãos da sua e levantou-se ficando de frente para mim. – Minha Maria! – Não me beijou, ficou simplesmente a olhar para mim. Nunca largou as minhas mãos. Ao contrário das minhas as suas estava quentes. – Vem cá, não quero nenhum banco a servir de obstáculo! – Dei uma volta pelo banco e fiquei frente-a-frente com o David. Ainda não tinha dito nada, estava com demasiadas saudades para falar, e se falasse ia-me atrapalhar. Abracei-o. Saudade, é um sentimento que não cabe no coração, escorre pelos olhos e naquele momento eu tentava matar aquela saudade. Um simples abraço podia ter tanto significado e ser tão importante. – Está tão linda. Olha bem para você! Que saudades!
-Senti tantas saudades tuas David. – David faz cara de desconfiado - A sério que senti! Nem imaginas quantas!
-Você está usando o colar que eu dei para você?
-Estou sim! Como podia não utilizar? É tão perfeito! Agora, quanto gastaste nisto?!
-Foi uma prenda, não vou dizer. – David aproximava-se de mim para me dar um beijo. Cheguei-me para trás.
-David, depois do que eu vi ontem, beijos em público não.
-Não está aqui ninguém…
-Eles escondem-se! Ontem também não estava ninguém lá e viu-se.
-Porquê tanto receio? Se nos apanharem paciência.
-Ó David, por tanta coisa. Primeiro porque nós não namoramos ainda, segundo porque ainda não estou preparada para assumir uma coisa destas perante os meus pais, terceiro porque não quero que eles saibam por uma revista e em último porque não quero que as pessoas pensem que estou contigo para chegar a algum lado, porque não estou.
-E eu sei que não está.
-Sim, mas às vezes muitas pessoas a baterem na mesma tecla… Pode causar alguma inquietação. Percebes?
-Sim, eu sei. Mas, agora falando sério. Já disse que tenho uma namorada com muito estilo? Olha para você!
Dei uma pequena volta para ele. A maneira como ele sorria. Como aquele homem me deixava feliz.


-Esmerei-me um pouco. Tinha que estar bonita para ti! Agora, namorada?
-Quer que eu chame de você o quê?
-Não sei. Mas namorados? Acho que ainda não é altura certa. 

-Então o que somos?
-Somos... Umas pessoas que têm um relacionamento.
-E isso é o quê?
-Então... É um relacionamento.
-E quando é a altura certa para poder chamar de você de namorada?
-Não sei. Não sou eu que decido. É o coração. Agora, onde vamos comer? - Tentava mudar de assunto, via uma certa tristeza nos olhos de David.
-Não sei, você tem alguma ideia?
-Sabes, há muito tempo que não vou à minha tia Isabel. Gostava de lá ir.
-Onde? 
-Ao Isabelinha! 
-Ah... Claro! Podemos lá ir! Não me importo nada! 
David agarrou na minha mão mas eu depressa larguei-a. Ele fez uma cara de chateado e eu pedi desculpas. Arrisquei e agarrei na mão dele, mas quando te dão a mão, às vezes agarras o braço todo. Eu não resisti e agarrei-me a David. Ele colocou o seu braço sobre os meus ombros e andamos assim até ao carro. Estar com ele ao meu lado é que me deixava feliz e por mim, fazia o resto do meu caminho ao lado daquele homem.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Conversa ao telemóvel - Parte II

(Casa do David no Brasil)

- David! Para quem você está falando rapaz?
-Mãe? O que está fazendo aqui? Não bateu à porta?
-Bati sim meu filho, você é que não ouviu. Para quem estava falando?
-Eu? Para… Um amigo.
-Um amigo?
-Sim, mãe. Um amigo. – A mãe de David desconfiava de tudo, David por sua vez que estava deitado na cama sentia-se mal consigo próprio. Não gostava de mentir e pior quando era à sua mãe.
-David! – O pai de David chega por trás, a conversa tinha o chamado para o quarto.
-Que se passa aqui? – Perguntava.
-Nada pai, é só a mãe que está aqui só a perguntar como tinha dormido.
-É só isso? Pensei ouvir à sua mãe chamar o seu nome.
-Era para eu mandar um beijo para o meu amigo.
-E quem é o seu amigo?
-É o Rúben, Ladislau. Volta para a sala, não seja assim! – A Dona Regina, mãe de David, queria falar com ele a sós. Percebeu que não era “um amigo” mas sim “uma amiga”. Despachou Ladislau e ficou à espera de uma resposta de David. Ela sabia que nem era preciso fazer perguntas, conhecia o seu filho demasiado bem e ele também. Ambos sabiam o que iria acontecer por isso remeteram-se ao silêncio até que David resolveu explicar.
-Mãe, é assim, ela é só isso, uma amiga.
-Ó filho! Porque escondeu isso de nós?
-Porque não sabia se iria contar. Não é nada seguro, é apenas uma relação que eu gostava muito que evoluísse.
-Quem é a moça? Eu conheço?
-Não mãe, você não conhece. Eu conheci ela há um mês, por isso é que não queria contar nada a ninguém. Estamo-nos só conhecendo um ao outro.
-Há um mês meu filho? Não é muito rápido?
-Sim mãe, é. E ela acha isso também, é por isso que acho que não é demasiado rápido.
-Mas explica lá quem é a moça…

David, pegou no telemóvel e mostrou a foto que tinha no ecrã. Na imagem de fundo estava ele e Maria na praia, sentados e David a dar um beijo na cara de Maria.
-Ela é linda, não é mãe?
-É sim David, mas sabe que a beleza não é tudo.
-Pois não. Ela é muito bonita mas quando você conhecer ela vai ver que o ponto forte dela não é a beleza mas sim a personalidade dela.
-Então mas David, conhecer ela? Já está assim tão avançado?
-Não mãe, mas eu nunca a quero perder. Se não resultar pelo menos quero ela como amiga.
-Filho… Isso parece tudo tão bonito mas… Ela não está consigo só pelo dinheiro?
-Não mãe. Ela não é assim e eu sei quando as pessoas são assim.
-Aí sabe?
-A Patrícia era uma delas mãe, queria só estar comigo para ter sucesso. Só para você ver, ela já arranjou outro namorado.
-E você também arranjou uma namorada…
-Mas a minha namorada é uma pessoa que gosta de mim como eu sou, e não pela minha conta bancária. O dela é um jogador de uma equipa de Espanha. Já se mudou para a casa dele e tudo vê só.
-Meu filho, só espero que você tenha razão…
-Eu também espero isso.

(Casa da Matilde, Portugal)

Não tinha falado mais com David e essa espera deixava-me doida. Havia uma razão para ele desligar o telemóvel assim tão depressa e eu queria saber qual era. Estava num frenesim tal que decidi ligar-lhe. Não aguentava mais. Algo tinha acontecido e eu precisava de saber. Quando David atendeu, fiquei contente por ouvir a sua voz. “Oi minha doçura”. Nunca ninguém me tinha chamado tal coisa e isso tinha-me deixado radiante. Diogo tratava-me sempre pelo primeiro nome mas já nem valia a pena fazer comparações entre eles.
-Olá… David. – não fui capaz de dizer nenhum nome de carinho. – O que se passou para me desligares assim há bocado?
“Ah, Maria… Há uma coisa que tenho que contar para você”
-Conta! Estás à espera do quê?
“Bem, tive que contar à minha irmã e à minha mãe…”
-Ah… Só isso?! Pensava que fosse algo mais grave.
“Não está chateada?”
-Não, isso não é razão para estar chateada. Sabes, o Tiago também descobriu.
“Como assim, descobriu?”
-Então, descobriu. Ele começou a forçar e eu não fui capaz de mentir. Já me chega omitir isto para o resto da família. Não lhe podia mentir não achas!
“Sim, concordo plenamente. - David fez uma curta pausa - Precisamos de ter uma conversa séria.”
-O quê?
“Uma conversa. Não pode ser por telemóvel. Se for por telemóvel você nunca mais me fala.”
-David, agora vais ter que me contar. Não podes dizer que é uma conversa grave e depois calares-te!
“É só uma coisa que ficou matutando na minha cabeça. Eu sei que é mentira, que você não é assim mas preciso de ter a certeza absoluta.”
-Hã? Não percebo nada da tua conversa. Diz-me tudo já se não aí é que vou ficar chateada.
Ouvi David a suspirar, sabia que a conversa era mesmo grave. Talvez não quisesse ouvir o que David tinha para dizer mas agora a minha curiosidade falava mais alto.
“Maria… Você… Você… Você alguma vez esteve comigo só pelo dinheiro?”
-Estás parvo!? Ó David, só podes estar a brincar comigo! Como podes pensar nisso! – A conversa de David deixava-me profundamente irritada. Não podia acreditar que ele estava-me a perguntar isto. Foi uma coisa que eu deixei sempre bem assente na nossa relação, eu estava com ele não por causa do dinheiro mas sim por ele, pela pessoa que ele era. – Tu andas-te a beber? Desculpa lá mas eu não tenho paciência para isto! Interesseira?! Adeus David.
“Maria! Não…”
Ainda consegui ouvir isto. Desliguei o telemóvel de seguida, David insistiu. Ligou-me cinco vezes e eu não atendi. Finalmente cedeu e não ligou mais. Toda a conversa fez-me ir abaixo mas algo também me deixava cismada. Agarrei no telemóvel e liguei ao David. Nem deu tempo para dar o segundo toque.
“Desculpa Maria, eu sei que fiz besteira mas me perdoa. Não estava…”
-Cala-te David e responde-me a isto. Queres me só comer?
“O quê?!”
-Sim. Se no dia em que for para a cama contigo, tu vais-te embora no seguinte.
“Maria, você está zoando comigo só pode! Você acha? Eu adoro você! Não ia largar você assim não. Que raio de pergunta é essa?!”
-Era uma pergunta como a tua. Estamos quites. Se a minha te ofendeu, olha a tua.
“Acha que não foi pior do que a sua?!”
-Acho que foram as duas gravíssimas e que ambos não devíamos ter dúvidas sobre isso.
“Eu não tinha. Minha mãe é que me falou disso e eu tive que saber. Você é que tinha dúvidas!”
-Eu não tinha dúvidas nenhumas! O Tiago falou-me disto quando tive a falar com ele mas sabia que não eras assim. Não tinha quaisquer dúvidas!
“Então porque perguntou?”
-Pela mesma razão que tu perguntaste.
Fez silêncio nos telemóveis. A verdade é que durante esse silêncio senti várias coisas. Primeiro uma raiva incrível, comecei a pensar em tudo o que me vinha à cabeça, só asneiras e nomes para David. Depois quando arrefeci, voltei ao meu estado normal e pensei o quanto parva estava a ser. Tiago tinha-me imposto uma questão e eu tinha a certeza que era impossível mas mesmo assim, a vontade racional de saber se era verdade sobrepôs-se à emocional. Tal e qual como David. Perante esta grande confusão sorri, David do outro lado ouvia os meus risos.
“E você ainda se ri com isto tudo?!”
-Pois me riu! Já viste a nossa figura? A tua mãe disse-te isso e tu ficaste a pensar nisso mesmo. Comigo foi o Tiago que disse. Ambos tivemos a necessidade de perguntar embora soubéssemos a verdade e agora estávamos a brigar por uma estupidez. Tens que admitir, é engraçado. – Não ouvi nada da parte de David mas pouco depois um sorriso, percebi que ele tentava colocar o seu lado sério.
“Eu não acho graça nenhuma menina. Você é que é uma tonta!”
-Eu? Uma tonta? Não deves estar a falar para mim, ó tonto.
“Pronto, vá, um casal de tontos é suficiente para você?”
-Sim, um casal de tontos. Concordo. Mas tu és mais tonto que eu.
“Eu não acredito nisso, não.”
-Devias de acreditar David. Queres saber porquê?
“Porquê?”
-Porque uma tonta não tinha muitas saudades tuas.
“Não, vê, você está enganada. Só uma grande tonta tinha saudades minhas!”
-Pois, talvez tenhas razão. Então, quer dizer que não tens saudades minhas?
“Não, eu tenho muitas saudades suas, mas só um tonto não tinha saudades suas”
-Isso já não faz sentido. Porque é que tem que ser ao contrário?
“Porque é a verdade. Porque qualquer pessoa gosta de si e de mim não é bem assim”
-Estás com febre. Só pode. O melhor é ires-te deitar.
“Quer que vá já embora? E depois ainda diz que tem saudades minhas”
-E tenho, muitas! Olha, não queres vir mais cedo? Estou com tantas saudades tuas que até era capaz de pagar um bilhete de avião para ir ter contigo!
“Oi?! Como é? Maria, você andou a ingerir doces à mais. Você está falando comigo?”
-Sim, claro. Para quem mais estaria a falar? Não é o Brad Pitt?
“Brad Pitt?!”
-Aí, não me digas que liguei para a pessoa errada! Desculpa!
“Aí a gracinha da moça. Pois, eu devia era estar a falar a Joana Duarte. Sabe que conheço ela?”
-Olha eu conheço muitas parecidas a ela. Vou ao Intendente e olha, é às carradas.
“O que é isso?”
-Ó David… Olha, pergunta ao Rúben e ele responde-te logo.
“Mau… Você é mesmo má língua!”
-Não gosto que me tentem fazer ciúmes.
“Mas consegui fazer.”
-E porque é que não te vais lixar?
“Eu gosto tanto de ver você assim, chateada. Ah, tenho uma prenda para você!”
-Uma prenda? David… Eu já te disse que…
“Calma. Esta aqui foi baratinha e tenho a certeza que você vai adorar.”
-A prenda que eu queria tu não me dás.
“Qual era a prenda que você queria?”
-Um beijo, uma meiguice, um carinho teu, um abraço. – a minha voz tremia ao dizer aquilo – Preciso de ti aqui.
“Nem sabe o quanto você me faz feliz só de ouvir essas palavras”
-É, sabes, ainda estou em Espírito Natalício. Faz destas coisas.
“Que mazinha. Maria, vou ter que desligar. Vamos fazer um jogo aqui perto…”
-Vais-me trocar por uma bola de futebol, ainda dizes que tens saudades minhas.
“Nunca vou trocar você por uma bola de futebol, só por dizer que da que nada estão aqui me chateando à cabeça”
-Estou a brincar contigo David. Pelo menos sabes que, com a bola a aposta é segura.
“Não seja assim, está bem? Vá, beijo grande. Adoro você”
-Também te adoro, beijo.
Despedir-me de David tornava-se cada vez mais difícil, não queria acreditar que ao final de um mês apenas me sentia assim tão ligada a ele. A vida prega-nos várias partidas, só esperava que no final, esta fosse uma “boa” partida.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Conversa ao telemóvel - Parte I

Acordei tarde, era quase meio-dia. A primeira coisa que me veio à cabeça foi David e a sua reacção ao meu presente. Olhei para o lado e vi a prenda de David, aquele colar maravilhoso. Estava ansiosa por falar com ele. Não resisti e agarrei no meu telemóvel com esperanças de ele me atender. Um pib, dois pib’s, três pib’s e nada. Desliguei e desisti, mais tarde tentava. Fui tomar um banho, hoje que era dia de Natal tinha que me vestir de forma clássica, não de qualquer maneira. Obtei por um vestido preto cai-cai com folhos. O Tiago vinha-me buscar, por isso tinha que me despachar. Sequei o cabelo e estiquei-o o mais rápido que pude mas era complicado, o meu cabelo começava a ficar grande. Ouvi o telemóvel a tocar, de certeza que era Tiago que começava já a resmungar.
-Já vou Tiago, espera só mais cinco minutos!!
“Tiago? Você está falando para quem?”
-David? És tu?
“Sim, claro que sou. Tiago?!”
-Pensava que era o meu irmão…
“Ah, já estou mais descansado."
-Isso era tudo ciúmes senhor David?
“Claro que sim. Eu tenho ciúmes todos os dias, não sei o que você está fazendo em Portugal”
-Eu também não sei o que estás aí a fazer no Brasil… Não reclamo.
“Sim, é diferente. Eu tenho mais saudades de você do que você de mim”
-Isso é impossível. Eu estou cheia de saudades tuas!
“Oi?! Esta é nova. Está doente moça?!”
-Não, porquê?
“Você, dizendo isso. É estranho.”
-És um totó. Gostaste da minha prenda?
“Adorei, o perfume é muito bom mas não precisava de gastar dinheiro comigo. Bastava ter mandado à carta.”
-Estás a gozar? Tu ofereces-me um colar de prata e eu não te posso oferecer um perfume? Ah, e temos que conversar menino David. Quanto dinheiro gastaste com isto? Tu sabes que eu não gosto destas coisas assim!
“Maria, não vamos falar sobre isso não… Você gostou pelo menos?”
-Como não haveria de gostar David? É lindo. É maravilhoso. Se ao menos tu visses… Fica mesmo bem com o vestido que estou a usar hoje.
“Você está de vestido? Descreve-me ele para mim.”
-Então, é um vestido preto cai-cai, que tem uma espécie de cinto debaixo do peito e depois tem pequenos folhos preto. É curtinho mas muito querido.
“Curto?! Quanto curto?!”
-Um bocadinho…
“Até ao joelho?”
-David, isso não é um vestido curto! Isso é meio-comprido.
“Então como é esse seu vestido?”
-Está a meio mais ao menos.
“Mau! Estou vendo que vou ter que voltar para Portugal mais cedo!" Dizia com um tom de voz grave no início mas esganiçada no final da frase.
-Atreve-te. Não sabia que eras assim.
“Tenho que defender o que é meu!”
-Aí desculpa.
“Que foi?”
-Não sabia que o vestido era teu. Se quiseres eu posso voltar a despir.
“Hey! Sua tonta! Não estou falando do vestido não, mas da pessoa que está usando o vestido”
-Eu sou tua?
“Sim, desde do início de Dezembro.”
-Só te podes estar a passar!
“Eu tento ser querido para você e você responde dessa forma bruta, já viu?”
-Isso para mim não é ser querido. É ser um controlador.
“Eu adoro você e necessito de defender você. Você já faz parte de mim, por isso parte de você também é minha”
-Qual a parte de mim que gostavas que fosse tua?
“Com toda a minha sinceridade, eu preferia que você viesse inteira. É mais engraçada, dá para fazer mais coisas.” – não consegui evitar de rir. Este David… - “Mas por agora gostava que fosse o seu coração” – ouvi uma voz de fundo – “David! Para quem você está falando rapaz?” – David respondeu à pressa. – “Maria, já ligo à você. É a minha mãe! Beijo grande, tchau!
-Beijo… - tarde demais, David já tinha desligado. Era tão bom falar com David mas a maneira como ele desligou deixou-me preocupada. As conversas com David costumavam ser curtas, não queríamos que ninguém soubesse da nossa “relação” então falávamos mais por mensagens. Era mais discreto. Pouco depois Tiago ligou-me, pedindo para descer. Quando cheguei ao carro, Tiago estava com uma cara estranha. Esteve um tempo sem ligar o carro, algo tinha acontecido.
-Tiago, o que se passa?
-Maria, tu andas com o David Luiz?!
-Hã?
-Ouviste bem minha menina! O David Luiz!
-Eu? Deves estar doido! – estava farta de tanta mentira. Não gostava nada de o fazer mas neste caso tinha que ser. – Quem te disse tal barbaridade?
-Então, ontem vi a Matilde a chegar a casa da Dona Isabel e falamos sobre esse tal David. Eu disse-lhe que ele te tinha dado um colar que parecia ser muito caro e na brincadeira disse-lhe “Ainda a minha maninha está com David Luiz! O gajo tinha dinheiro para isso”. E ela começa-se a rir e diz “Estás a milhas Tiaguinho”. Maria, eu conheço aquela rapariga à 24 anos! Ela só diz “Estás a milhas” quando eu estou certo!
“Aquela Matilde! Não é capaz de estar calada!”, pensava. De facto Matilde certas vezes tinha a boca grande demais. Devia estar mais vezes caladinha.
-Estás doido! Ó Tiago, achas que eu andava com um jogador de futebol?
-Sei lá! Mas que bate tudo certo, bate! O dinheiro para comprar a jóia, o facto de ainda não teres dito nada a ninguém, de ele ter usado “você” na mensagem!
-Tu és doido! Só pode! És doido!
-Maria! Estou a começar a ficar irritado! – Tiago aumentava o tom de voz – Quem é esse David?!
Estava num beco sem saída, não era capaz de mentir mais a Tiago. Já chegava de mentiras. David era uma pessoa normal só com uma profissão diferente.
-Sim. – só fui capaz de dizer sim. Não sei porquê mas era a única coisa que tinha coragem de dizer.
-Sim o quê? É o David Luiz?
-Sim, é.
-Maria… Maria! Maria!! Maria!
-Eu posso explicar.
-Maria…
-Ele é uma óptima pessoa, tu vais adorar conhece-lo. Ele é carinhoso, simpático, preocupa-se comigo, gosta de mim..
-Maria…. Maria… - Tiago continua a dizer o meu nome em sentido de desabafo. Punha as suas mãos na cabeça enquanto eu continuava a explicar. Respirava com força, vi que ele ficou incomodado com a situação.
-Ele não é como os jogadores de futebol “tipo”. Não é garanhão, não me quer apenas comer, não quer nada disso. Ele é diferente, é Terra-a-terra, adora ajudar, sabe o que quer. Ele…
-Ele é um jogador de futebol! Não me venhas com essa cantiga! Ele vai-te comer como faz com todas as gajas e depois deita-te para o lixo! O normal!
-Não! Ele não é assim! E não julgues ele dessa maneira!
-Maria! Por amor de Deus! Diz-me, há quanto tempo conheces ele?
-Há um mês.
-Quantas vezes já foram para a cama?
-Nenhuma! E ele já me recusou uma vez! Por isso não venhas com as tuas teorias idiotas sobre ele se nem o conheces! Não tens o direito de falar sobre ele! Não tens! Nunca mais dirigias uma única palavra a cerca dele, ouviste Tiago?!
Tiago arrancou com o carro e não me disse mais uma única palavra. A verdade é que ambos tínhamos ultrapassado os limites, mas mais Tiago do que eu. Ele não podia falar assim de David, não podia. Passado o almoço e de várias perguntas do meu pai tentando formar assunto de conversa, Tiago voltou-me a levar a casa. Quando chegamos, trancou as portas para eu não sair.
-Tiago, abre as portas.
-Maria, primeiro temos que conversar.
-Vais voltar a falar do David? Então não me parece que tenhamos que conversar.
-Maria! Ouve-me caramba! – Tiago gritou e bateu no valente, fazendo com que houve-se uma valente apitadela. – Peço desculpa, ok? Só acho que estás a fazer um grande erro. Tu vês bem o que se diz nas revistas. Eles aproveitam-se e vão-se embora. Não quero que isso aconteça a ti.
-Não vai acontecer. O David é diferente. Quer dizer, ele não é diferente. Ele é igual a uma pessoa qualquer na rua, ele gosta disso, de ser normal. Só para tu veres, ele tem montes de fãs e adora as raparigas, é sempre super simpático para elas mas ele preferia puder andar na rua normalmente com as pessoas que gosta sem ser incomodado constantemente. O futebol é tudo o que ele sempre quis e lutou para chegar ali, ele sabia que iria perder parte da sua intimidade e que iria ficar mais exposto mas era o que ele realmente queria mas ele preferia não ter que perder nada disso!
Tiago ouviu-me e depois permaneceu calado, não sabia se não queria ouvir mais ou se afinal estava arrependido com o que tinha dito. Ao fim de um bocado olhou para mim com cara de chateado.
-Do Benfica, Maria? Sinceramente… Que coisa ranhosa.
-Tu não fales assim do meu clube ó lagarto!
-Mau… Eu até nem acho o rapaz grande jogador, faz o que eu faço. Dá uns toques na bola e tal…
-Estás a gozar certo?
-Não.
-Estás doido!
-E ainda dizem que o Benfica está a jogar muito e depois vão a Alvalade empatar.
-Foi um acidente de percurso.
-Foi um acidente de percurso foi… Não te ponhas com esperanças maninha, não vais ser campeã este ano.
-Ó maninho, eu não estou com esperanças. Isso é coisas de lagarto, tem a esperança de ser campeão um dia. Eu estou confiante de que vamos ser campeões e que vamos ganhar a vocês.
-Aí é? Então olha, quando o jogo for na Luz eu vou ver contigo! Aposto um jantar como o Sporting ganha ou empata na Luz.
-Está bem. E eu aposto que ganha!
-óptimo! Pode ser que aí eu conheça o tal David, todo aziado por sinal!
-Não o vais conhecer dessa forma, bro.

-Maria, olha, eu só quero que tu sejas feliz mas promete-me uma coisa.
-Diz.
-Vais ter cuidado…
-Sempre Tiago, sempre. Não te preocupes com isso.
-Ainda bem…

domingo, 23 de janeiro de 2011

Natal do Brasil


(Narração do David)

Gostou, não gostou. Iria ficar chateada pela prenda? Sabia como era Maria e aquilo podia deixar-lhe chateada. Não foi muito caro, ganho oitenta mil euros ao mês depois da recente renovação, ela não podia ficar chateada. Era uma pequena recordação de mim. O coração começou a ficar apertadinho para falar verdade. Precisava de falar com Maria mas já tinha andado todas as férias com o telemóvel na mão, não podia telefonar-lhe na noite de Natal. Tinha que ser mais tarde.
-Filho, vem, vamos jantar.
-Está bem pai, vou indo.
Já tinha saudades da vida no Brasil, do Terraço e da vista da casa da minha mãe. Se a Maria não tivesse aparecido na minha vida tenho a certeza que tudo seria mais complicado, possivelmente não teria vontade de voltar para Portugal. Só se fosse mesmo pelo Benfica e pelo ano estar correr tão bem. O nosso treinador tinha-se ligado a nós e de maneira fantástica, era sempre muito preocupado. Para além disso, o grupo estava muito unido. Já não sabíamos o que era perder há alguns jogos e isso ajudava imenso. Fui sentar-me na mesa que estava colocada cá fora, estava calor. Também sentia falta deste calor do Brasil, tinha que trazer a Maria cá, um dia.
A Ceia ia ser Peru, como era tradição no Brasil. Desde pequeno que era assim, sentávamo-nos à mesa e desfrutávamos do belo jantar. A família estava a crescer a cada ano que passava. Isabelle tinha trazido o marido, era um bom rapaz mas estareisempre de olho nele. Ele que nem pense em magoar a Belle, ela merece tudo de bom no mundo.
-Então Davi, ainda não me contaste para quem manda tanta mensagem.
-Eu? Belle, deve estar vendo mal.
-Por acaso também tenho reparado. – dizia o meu pai, não gostava de mentir ou ocultar nada a ele. – Para quem manda tanta mensagem?
-Deixa de ser assim pai, não é ninguém. São mensagens de Natal.
-Então e a sua namorada lá em Portugal?
-Não deu Belle.
-Aí meu filho, você está brincando?
-Não mãe. Ela só queria se aproveitar de mim. Não queria isso. O que eu quero é alguém que me ame pela pessoa que sou. Tenho a certeza que se falasse à Patrícia em “Acordo Nupcial” ela fugia em três tempos. Pelo menos assim eu acordei por mim.
-Estou tão feliz meu filho. Eu tentei te avisar.
-Eu sei mãe, peço desculpa por não ter ligado aos seus conselhos.
-E não há mesmo rapariga aí? – Perguntava-me outra vez o meu pai. Estava difícil.
-Não pai, não há nada.
-Nada mesmo?
-Pai, eu agora quero me concentrar no futebol. É o meu objectivo número 1, subir na carreira e ficar cada vez melhor.
-Já pensou em sair do Benfica?
-Não penso nisso. Eu adoro aquele clube pai. Os adeptos dão-me muito apoio e eu quero agradecer esse apoio e confiança que me têm dado. Não penso em sair.
-Meu filho, que orgulho eu tenho em si. Fez-se um homem o garoto, viu? – disse a minha mãe. Era a melhor mãe do mundo, sempre pronta a perceber, ajudar, a confiar. Era um anjo.
-Pois foi… - concordou Isabelle . Ela olhava para mim com cara de caso. Passava-se ali alguma coisa. No final do almoço fui brincar com o cadela, já sentia falta daquela feia. Belle veio ter comigo com dois copos de sumo na mão. Deu um para mim e encostou-se ao muro a beber o seu.
-Então maninho, vai contar para mim ou é preciso eu mandar você para dentro da piscina?
-Contar o quê? – Boa, já sabia que não me safava dali sem contar tudo à Belle.
-Quem é a moça que está a dar com você em doido?
-Moça? O que é isso… Que moça Belle?! Não existe ninguém!
-Aí não? Então para quem era aquelas mensagens todas?
-Conheço muitas pessoas Belle, tinha que desejar um Bom Natal a todos eles.
-David… Eu conheço você. Escusa de estar a mentir, conta para mim vai… E depressa antes que o pai se aperceba se não aí você vai ter que contar para todo o mundo.
-Você é chata Belle.
-Eu sei, mas você me adora por isso não há problema. Vai Davi, conta aí. Você vai mesmo para dentro da piscina moço!
-Pronto, eu conto para você. Mas promete… Não! Jura que não conta para ninguém!
-Mais que jurado meu irmão, olha aqui – fez um sinal com os dedos beijando-os – eu, Isabelle Marinho não vou contar a ninguém.
-Espero bem que não, se o pai sabe disto diz-me logo que estou a ser precipitado. Há uma moça sim. Ela é uma coisa de outro mundo sabe? Perfeita mesmo. Ela olha para mim como o David, não como o David Luiz. Ela fica chateada quando vamos jantar ou almoçar fora e sou eu a pagar a conta. Ela não gosta, fica mesmo irritada viu? Ela é muito independente e tem uma história de vida… Muito complicada.
-Complicada como David?
-Ela teve cancro da mama muito jovem, a sua sorte é que encontraram depressa o tumor e começaram logo com a Quimioterapia mas como ela uma moça atlética a Quimioterapia devastou com ela, chegou a ser mesmo internada durante muito tempo. Graças a Deus que ela agora está bem. Se você visse a força que ela tem. Você vai adorar conhecer ela.
-Pobre moça, e ela agora está bem de saúde?
-Sim, está. Mas o cancro pode voltar. O médico diz que, como foi encontrado muito depressa, há uma boa percentagem de nunca mais voltar mas há sempre aquela possibilidade de voltar.
-David, você tem a certeza no que se está a meter?
-Eu adoro aquela moça. Juro que adoro.
-Há quanto tempo conhece ela?
-Faz um mês.
-David… Não acha que é muito rápido.
-Não Belle, não é. Ela não quer nada. Só damos passeios e vamos jantar de vez em quando. Ela nem chegou a ir à minha casa Belle. E até mesmo nos passeios, ou são à noite para ninguém nos ver ou então são em sítios desertos, sem ninguém. No outro dia fomos à praia, estava um frio enorme mas ela quis ir porque não havia lá ninguém e podia estar comigo à vontade. Se você visse, apareceu um homem correndo no areal e ela puxou o meu capuz do casaco para me tapar a cara.
-Ela tem vergonha de você?
-Não Belle, nada disso. Ela acha que pode acontecer alguma coisa no meu trabalho, em relação ao clube e assim. Ela também não quer chamar atenção dos média. Eu acho que estou ficando muito apaixonado.
-David… Vai com calma viu?
-Sim Belle. Agora, não se esqueça do que jurou.
-Claro David. Mas não se esqueça dos meus conselhos, está bem?
Tinhamos jantado tarde e quando acabamos de comer já faltava pouco para a meia noite, como tinha estado a falar com a minha irmã já estava mesmo lá quase. A troca de prendas fez-se, comprei uma viagem de avião para a minha irmã e para o meu cunhado irem passar uns dias em Portugal, em estilo de Lua-de-mel mas com o pendura atrás. Ao meu pai ofereci umas botas da Timberland e à minha mãe um perfume.
-É delicioso meu filho, quem ajudou você a comprar este?
-Foi uma amiga minha de Portugal, mãe. Tem bom gosto, não tem?
-Óptimo gosto filho.
Os meus pais deram-me uma prenda especial, um quadro meu com uma foto grande minha, a jogar no Benfica, e quatro pequenas mais pessoais, com a família. A Belle e o Marido deram-me uma pulseira de prata muito bonita. Eram pequenas lembranças. Agora só faltava da prenda da Maria. Em Portugal já eram quase duas da manhã mas queria muito ligar a ela, queria saber o que ela tinha achado da minha prenda. Fui ao meu quarto procurar a prenda de Maria. Estava dentro de um saco pequeno. Abri e estava um perfume, One Million do Paco Rabane. Cheirei um pouco do perfume, era um estrondo. Ela de facto tinha mesmo jeito para perfumes mas o que me chamou mais atenção não foi o perfume mas o bilhete que estava dentro do saco. Comecei a ler o que lá estava escrito.

“Meu querido David, que tenhas um Feliz Natal com os teus pais e familiares. Não sabia o que te haveria de dar, escolhi o perfume pela tua ideia de quereres dar um perfume à tua mãe. Já agora, ela gostou do perfume? E do teu, gostaste? Mais cedo ou mais tarde vamos falar disto mas quando abrires a prenda já estarei a dormir por isso mandas-me uma mensagem com todas as informações. Quero saber tudo sobre o teu Natal. Agora a parte que verdadeiramente importa.
David, ao longo dos dias o meu carinho por ti tem crescido. Sinto-me bem quando estou contigo, feliz, realizada. Não queria acreditar no que estava acontecer, eu estava a ficar apaixonada muito rapidamente. Pensei estar frágil e confusa depois do final do relacionamento com Diogo mas hoje sei que é a ti quem eu quero. Não me importa se és jogador de futebol ou ensinas Matemática numa escola, não te vou amar pela profissão que tens ou pela quantidade de zeros que tens no teu banco, mas sim pela pessoa que és. É essa pessoa que eu adoro cada vez mais, e mais, e mais e mais. Passou um mês, um mês do dia em que tive a sorte de me cruzado contigo. Foste, sem dúvida alguma, a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Eu… Eu adoro-te David e quero que isto esteja sempre presente na tua cabeça, quero que fixes isto. Eu estou contigo, agora, aqui, para sempre. Prometo-te nunca te magoar, quero ficar a teu lado. Sei que já te pedi desculpa, mas volto a pedir. Peço desculpas por todos os meus comportamentos impróprios. Espero que tenhas gostado, não tenho jeitinho nenhum para estas coisas mas como disseste, é apenas uma lembrança que eu quero que te recordes para sempre.
Adoro-te David.”

-É uma carta? – dizia a minha irmã que estava ao pé da porta a olhar.
-Sim, a Maria mandou-me. Quer ler?
-Me deixa?
-Claro tonta, sabe bem que conto tudo para você.
Belle começou a ler a carta, até que chegou ao fim. Acho que ela estava mais emocionada do que eu.
-David, quando for à Portugal, você vai-me apresentar essa Maria.
-Com todo o prazer, Belle, com todo o prazer...




Espero que tenham gostado meninas pois não sei fazer melhor :b
Queria só deixar um recadinho a todas autoras de Fanfic's, sejam sobre o David, Rúben, Javi ou outra pessoa. Não fiquem esmorecidas por falta de comentários ou pelas visitas estarem a descer. Todas escrevem bem. É verdade que algumas melhor do que outras mas há histórias simplesmente fascinantes e eu espero que continuem com esta Saga de desgraça, comédia, drama, amor e afecto.
Beijinhos, Catarina.

Prenda de Natal - Parte II

-Entrei este ano para a Nova Lisboa, estou a tirar engenharia Biomédica.
-Ainda nem te dei os parabéns como deve ser Joana! Parabéns!
-Eu entrei para Engenharia Informática, na Técnica.
-O mais bem colocado, não Fred?
-Nem imaginas, já recebi três propostas de trabalho e só agora entrei na faculdade. Uma delas era para ir trabalhar para o Estado.
-Impressionante! Quer dizer, eu sabia que ias conseguir. Os meus primos são todos brilhantes.
-Obrigado Maninha.
-Primos, Tiago, primos! Não irmãos.
-Vê lá! Diz lá que eu não sou brilhante?
-Nem por isso.
O resto do jantar correu normalmente, chegou a parte favorita do meu irmão. A sobremesa. Era compreensível visto que de sobremesa tinha a mousse de chocolate da minha Tia Fausta, o semifrio de bolacha da minha mãe, o tronco da tia Maria, o bolo de chocolate delicioso da tia Chica e o bolo de bolacha delicioso da Tia Carolina. Depois ainda tínhamos as coisas vindas de fora, Molotof, bolo de cenoura (da vizinha Josefina do 3º Direito, uma maravilha), Bolo de Milho, o tradicional Bolo de Rei e filhoses! Muitas filhoses para eu comer e engordar. Sem dúvida, melhor altura que o Natal não existia. Faltava pouco mais que uma hora para a meia noite, uns estavam sentados na mesa, outros no sofá, outros no chão e algumas pessoas já lavavam os pratos. Tiago ainda estava de roda dos doces.
-Rapaz larga essas coisas que ainda ficas com diabetes!
-Pai, não te preocupes, está tudo controlado. Eu também só como assim uma vez por ano.
-Aí maninho, não me digas que os teus anos só têm um dia!
-Aí a pirralha já manda piadas! Olha anda cá que eu já te digo!
Sai dali a correr, fui directa para a cozinha.
-Mãe! Mãe! Olha o Tiago! Vê lá o que ele quer fazer!
-“Mãe! Mãe! Olha o Tiago” – ele citava-me tentando imitar-me – sempre foste uma queixinhas pá. Anda cá!
-Vá já chega, parecem duas crianças!
-Mas ó mãe, tu é que disseste que já sentias falta de nós a corrermos pela casa!
-Quando tinham 7/8 anos, não quando um tem 30 e outra 23!
-É parecido, a diferença é pouca. Anda cá pirralha! – Estava escondida atrás da minha mãe e ele tentava-me agarrar. As tias riam à gargalhada com a nossa brincadeira. Num ápice ele agarrou-me e colocou-me ao colo, como se fosse um saco de batatas.
-Tiago! Tiago tu larga-me!!!
-Então pirralha, o que queres? Agora sabes o que te vai acontecer?
-Olha que a noite de Natal vai correr mal! – eu tentava-me soltar, mexia as pernas e os braços mas nada. Tiago tinha um metro e noventa, era muito alto. Podia fazer o que quisesse que não dava para soltar-me.
-Pai, dá-me aí um bocado de semi-frio. Pequeno! Não pudemos desperdiçar.
-O que vais fazer?
-Vou comê-lo pai. Vá, daí. – o meu pai deu o bocado de semi-frio e pôs num prato.
-Pai! Não o ajudes.
-Desculpa filha mas até está a ser engraçado. – Toda a gente estava na sala assistir àquela triste figura. Todos se riam.
-Saí daí puto. – Disse para João Miguel ou Miguel João, não sei bem. De cabeça ao contrário era complicado diferencia-los. Mandou-me para cima do sofá e de seguida espetou o bocado de semi-frio na minha cara. Desatei a gritar e a tirar o semi-frio que conseguia retirar. Era alvo de chacota por parte de todos os familiares. Tiago ria-se que nem um perdido.
-Seu idiota! Olha para mim! – A minha mãe passou-me um lenço para a mão. – Eu não acredito! Se eu tenho o cabelo sujo! Eu esgano-te Tiago Filipe! Que raiva!! – Sai da sala e fui à casa de banho lavar-me. O cabelo tinha-se safado.
-Vá, anda cá maninha. Desculpa. - dizia Tiago à porta da casa de banho. Saí de lá e fui directamente para a varanda.
-Maninha, anda cá. - Tiago veio atrás de mim com carinha de anjinho.
-Já chateaste a tua irmã. Está bonito está. – Dizia o meu pai. Abri a porta da varanda e entrei lá para dentro. Tiago veio atrás de mim.
-Escusas de ficar assim toda ofendida. Já te fiz bem pior.
-Otário – dei-lhe um murro no peito e deitei-lhe a língua fora – Achas que depois de tudo o que tu já me fizeste eu ficava chateada com isto? És doido.
-Ah, pronto. Estava a ver.
-Olha, mas eu puxei-te para aqui por causa de outra coisa.
-Uí… O que vem daí. Diz lá pirralha.
-Quem era a rapariga que estavas a falar?
-Eu? Rapariga? Hã? Deves estar a sonhar! – Tiago mandou uma das famosas gargalhadas dele. Só apareciam quando estava nervoso.
-Então, vais dizer ou vou ter que saber por mim.
-Não há nada pá. Estás parva.
-Tiago, conheço-te à 23 anos. Achas que eu não te conheço super bem?
-Aí miúda, só me dás trabalho. Ok, eu admito. Sim, é uma rapariga. Mas!
-Mas?
-Ela é de Coimbra.
-De Coimbra?
-Sim, ela é amiga da tua amiga Sara.
-Hã?!
-Sim, tu até conheces. A Beatriz.
-A Beatriz?! Ó Meu Deus! – sentei-me numa cadeira, estava chocada com o que ele me acabara de dizer. A Beatriz era uma estudante de medicina, pacata, muito sossegada e completamente o oposto do meu irmão. – Afinal é verdade, os opostos realmente atraem-se.
-Sim, ao que parece. O pior é que… Ela recebeu uma proposta para vir trabalhar para aqui.
-E? Isso é o pior?
-Sim, é. Não queria que ela deixa-se tudo para vir ter comigo. Quer dizer, ela… Ela não tem que abandonar tudo e vir para aqui não é…
-Isso já está assim tão avançado?
-Sim, eu tento passar todas as sextas e sábados com ela.
-Uau…
-Uau mesmo… Acho que é muito mau ela vir para Lisboa.
-Ó meu grandessíssimo tosco, e achas que ela vinha só por ti? É óbvio que vinha também por ti mas Lisboa tem melhores oportunidades de trabalho, mais hospitais, mais clínicas, mais tudo. Aproveita! Apoia-a ao máximo e depois logo se vê.
-Obrigada Maria. – deu-me um abraço, não estava mesmo à espera – És a melhor irmã do mundo. 

-Sou a única que tens também.
-És sempre a mesma coisa! Mesmo com elogios ficas chateada! Chiça!
-Sabes como sou.
-Então e o David?
-Tiago…
-Maria… Vá, eu contei-te. Como vão as coisas?
Não resisti em contar-lhe tudo sobre nós. Já tinha uma vontade de falar com alguém da família sobre isto e o Tiago era a pessoa certa.
-Ele é maravilhoso, ele surpreende-me em cada dia Tiago! Ele é totalmente diferente do Diogo, é uma pessoa simples! Ele faz-me sentir como se fosse a única mulher no mundo.
-Tenho que conhecer esse David… Se ele faz-te feliz e põe-te com um sorriso, eu vou gostar dele. Até ao dia…
-Esse dia não vai chegar. E duvido que gostes dele.
-Porquê?
-Meninos, vamos abrir as prendas. Vá, venham.
-Ok, tia! – E mais uma vez a minha tia Carolina a salvar-me. Adorava aquela mulher.
Na sala, cada um agarrou no seu presente e deu à pessoa com quem tinha ficado. Pedi ao Tiago para abrir logo. Quando ele abriu fez a questão de mostrar os seus boxers a toda a gente e começou a cantar o hino do Sporting. Coitado, era o único Sportinguista da família, como a minha tia Chica diz “este saiu ao avesso”. O meu pai veio entregar o meu, era muito grande e pelo formato percebi que era um quadro. Rasguei o papel que trazia embrulhado, quando vi a  foto as lágrimas vieram-me aos olhos. Não resisti em chorar, apoiei o quadro junto das minhas pernas e abracei o meu pai.
-Obrigada Pai, obrigada. Nem sabes o quanto isto significa para mim!
Os olhares estavam concentrados em nós. A foto era muito, muito velha. Eu tinha uns três anos nessa altura. Era uma foto de família, eu, o meu pai, a minha mãe e o meu irmão. Eu estava ao colo do meu pai, o meu irmão estava na frente com o sorriso mais parvo que poderia fazer, a minha mãe estava linda com um vestido antigo e o cabelo pelo ombro e com muito volume, o seu sorriso era maravilhoso e o meu pai parecia um pai babado agarrar-me.
-Ainda bem que gostaste filha.
-Gostar? Adorei! Está maravilhoso! Não me podias dar melhor prenda! Amo-te pai!
-Eu também te amo Maria.
Sabia tão bem estar ali agarrada ao meu pai, finalmente estava tudo bem. Naquele momento agradecia a Deus tudo, ter-me dado uma segunda oportunidade de vida, de me ter dado uma família assim, ao facto de ter retirado Diogo da minha vida e de ter posto o David. Não me sentia assim há muito tempo. O resto da família também distribui presentes, aquela casa era uma alegria. Quando tudo acalmou lembrei-me da prenda de David. Agarrei na minha mala e procurei a pequena caixa, quando a encontrei fui para a varanda abri-la.
-Ó Meu Deus! Ele só pode estar a gozar comigo! – Dentro da caixa estava um fio lindíssimo que parecia daqueles que as famosas de Hollywood usam. – Eu ofereci-lhe uma tretazinha e ele vai-me oferecer isto? Só pode estar a gozar! Não, não posso aceitar isso.

 -Ele deu-te isso?! Fogo, o rapaz ou é um Zuca rico ou então está doido de amores por ti. – disse Tiago que tinha percebido que a minha deslocação para a varanda.
-É o Zuca mais doido e maravilhoso que eu alguma vez conheci. – Coloquei o colar ao pescoço e virei-me para Tiago – então, como fica?
-Maravilhoso. Mas sabes o que eu gosto mais?
-Do quê?
-Do brilho dos teus olhos. Tu gostas mesmo desse tipo?
-Cada dia mais Tiago, cada dia mais.