quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fevereiro - Parte I


 Um mês. Um mês, o que poderia acontecer num mês? Resposta simples, a minha paixão  por David aumentar. Se existe o homem perfeito? Não. Mas David aproxima-se muito ao homem perfeito. Flores, beijos, cenários românticos, noites apaixonadas e muito… amor? Seria essa a palavra que tanto me fazia feliz mas ao mesmo tempo que me atordoava todas as noites? Numa noite, na casa de David, ele disse-me “Te amo”. Não fui capaz de lhe retribuir as palavras. Não queria ser mentirosa perante o homem que adorava e David sabia disso. Quando chegasse o momento certo, o momento em que eu me sentirei confiante em dizer “Amo-te”, irei fazê-lo. Vezes e vezes sem conta. Nos últimos dias sentia David mais nervoso do que habitual. O facto de saber que grandes clubes estavam interessados nele fazia todo o meu corpo estremecer mas algo fazia-me acreditar no que David dizia. “Não quero sair sem ser campeão”, disse-me várias vezes e era isto que tornava David num jogador tão diferente. Ele não nasceu Benfiquista mas aprendeu a gostar do Benfica, gostava dos adeptos e tratava-os todos bem, sempre com um sorriso nos lábios. Que sabia cânticos e o hino quase de cor e que beijava o símbolo com orgulho e amor. Ele sentia o clube de forma incrível, às vezes até pensava que era mentira. Mas, o facto de ele dizer isso não em deixava tranquila mas sim, ainda mais inquieta. Como o ano estava a correr, Benfica tinha óptimas hipóteses de ser campeão. Significaria isso a saída eminente de David? Como ficaria a nossa relação? Já lhe tinha dito, mais que uma vez que não acreditava em relações à distância. Seria o fim? Não costumava ser uma mulher de presságios mas gostava de pensar no futuro e não tinha receio ao que poderá acontecer. No dia 2 fui ver o jogo do Nacional ao camarote, até me arrepiei num momento em que David ia marcando, isso significaria ficar ali durante os próximos jogos. Quando entrei dentro do Camarote, as pessoas eram tal e qual como eu tinha imaginado. Metade daquelas pessoas nem devia de saber “O que é o Benfica”. O árbitro Jorge Sousa fez a sua parte, conseguiu irritar-me profundamente. Ladroagem, o habitual em Portugal. A malta só queria fruta e viagens ao Brasil. Durante alguns dos seus erros de arbitragem dei uns gritos bem altos, Daniela, era de facto um amor de pessoa e em vez de ficar envergonhada ou até fugir, ria-se e gritava comigo. Estavamos mesmo na primeira fila e às vezes tinha medo de me levantar, as objectivas podiam encontrar-me, o que era de facto idiota da minha parte, pois ninguém sabia que eu era namorada de David.    O jogo ficou 1-0, achei pouco mas David depressa se desculpou. “Amor, foi das picanhas e dos bolos no Natal!”, explicava-me.
Hoje, ia sair com David e Rúben. Matilde vinha connosco. Uma ideia minha e do David para tentar juntar eles os dois. Rúben estava encantado com Matilde e Matilde estava apaixonada por Rúben, era a nossa vez, de justificarmos o nome de “grandes amigos”. Ia no carro de Matilde e Rúben no carro de David. Matilde, arranjou-se que nem uma princesa. Eu ia mais simples.
(vestidos)
Quando chegamos ao destino, num restaurante simples em Lisboa. As pessoas que lá estavam focadas numa mesa ao fundo da sala. David e Rúben estavam lá, um bom aspecto era este, encontrava-mos sempre as pessoas que queríamos facilmente mas às vezes podia ser um pouco oportuno.
-Olá! – Disse Matilde animada. Cumprimentei Rúben com um beijo na cara e David também da mesma maneira mas mais carinhoso. Sentei-me a seu lado enquanto Matilde sentava-se à minha frente. O jantar foi animado, David e eu ria-mos das figuras de Rúben e Matilde. Eles não conseguiam entender que gostavam um do outro mas os sorrisos e olhares cúmplices que faziam um ao outro davam para entender. Às vezes as coisas não se explicam, apenas sentem-se.
-Olha, estive a pensar e…
-Estiveste a pensar? Essa é nova.
-Não goza vai, é um assunto importante.
-Pronto, desculpa. Diz lá então o que é esse assunto importante.
-No dia 14, vocês festejam aqui o dia dos namorados, não é?
-Sim, é. Porquê?
-Nesse dia você vai estar comigo. Desmarca tudo para esse dia vai?
-Então… Mas não tens jogo.
-Sim, tenho… Mas depois do jogo você é minha.
-Como queiras chefe. Era este o assunto importante?
-Sim. É um assunto importante!
-Não é muito…
-Como assim não é muito?
-Não precisas de avisar-me quais são os dias em que vou ficar contigo ou não.
-Mas não deixa de ser importante.
-Está bem David. – Contra todos os meus princípios não resisti e dei-lhe um beijo. Era fácil dizer que não gostava de atenções, o difícil era resistir à pessoa que atraia as atenções. Parei imediatamente e os três começaram-se a rir. – Desculpa. Eu… Aí…
-Calma amor. É normal.
-Sim… Mas..
-Eu sei, eu sei. Não precisa de explicar nada. Ninguém viu, olha… - mostrava-me as pessoas que estava descontraídas a comer menos o empregado que tinha os olhos fixos em nós – Não olhes para aquele, é apenas estranho. – todos nós rimos com o que David dizia. David compreendia o meu receio, não queria que ninguém soubesse. Só quem tivesse que saber.
-Olha, e de sobremesa, o que vais comer?
-Estava a pensar numa mousse.
-Humm… Mousse… Feito! Para mim uma também! E vocês feios?
-Bem, eu vou pelo Doce da casa. – disse Rúben.
-Eu vou experimentar a Especialidade da casa.
-Então mas isso não é a mesma coisa Matilde?
-Não totó, olha aqui. – Disse apontado para a carta – há dois distintos. O doce e a especialidade.
-É… A especialidade da casa… - dizia a gozar com Matilde – está bem, mas divides comigo.
-Dividir? Só se tu dividires o teu comigo.
-Achas mesmo? Eu sou um homem de muito alimento.
-E eu sou uma mulher de muita comida! Às vezes és um pouco chato.
-Chatos são vocês os dois. Olha aí galera, discutindo até por causa de doces. Um dia ainda casam não acha Maria?
-Com certeza.
-Nós? Querido David, querida Maria, vocês é que estão apaixonados.
-Olé! Vês?! Esta miúda é um máximo – disse Rúben gozando com David – vá gordo, agora chama aí o empregado para pedirmos os doces.
Achava graça a relação de David com Rúben, era parecida à minha com Matilde. Qualquer coisa e sabíamos que eles estavam lá para nos apoiar. Vimos Rúben e Matilde a dividirem o doce e a sujarem a cara um ao outro. O sorriso de Matilde encantava-me. Quase como… Quase como se me revê-se naquelas imagens, mas em vez de Rúben estava David. O meu sorriso parvo foi interrompido por uma mensagem.
“Porque está olhando assim para eles?”
Incapaz de não rir perante a situação, olhei para o lado e chamei de tolo a David. Logo comecei a escrever.
“Porque descobri agora que sou capaz de gostar de ti mais do que imaginava.”
David sorriu ao ler a mensagem.
-Manz, vou ter que ir. Você leva à Matilde a casa? – fiquei confusa com a pergunta repentina de David.
-Hã? Meu, como é que eu levo a Matilde a casa se foste tu que trouxeste o carro?
-É Manz, não me lixa não…
-Eu tenho carro… - Dizia Matilde meio intimidada,
-Feito. Toma Manz – disse enquanto abriu a carteira e deu cinquenta euros para a mão de Rúben. Fiz o mesmo e dei-lhe vinte. – Você é doida?
-Não, estou a pagar a minha parte.
-Mas eu já dei cinquenta. Foi para pagar a nossa parte.
-Está bem. – Retirei os vinte euros da mão de Rúben e coloquei no bolso do David. – Se reclamas, vou de metro.
-Desde que vá para a minha casa. – Fiz-lhe um sorriso cínico e despedi-me de Rúben e Matilde – Vê lá o que fazes ó. – Ela deitou-me a língua de fora e eu fui saindo do restaurante. David ficou um pouco mais para trás, nem vi bem o que estava a fazer. Quando chegou, já estava eu ao pé do carro a tremer de frio.
-Tem frio amor?
-Maria…
-Hã?
-Estás-te sempre a esquecer que o meu nome é Maria.
-Não posso chamar de amor?
-Um dia, talvez… - Abriu o carro e pulei lá para dentro. A noite estava um gelo, o que me fez lembrar um pouco de Raquel, a minha nova “patroa”. Que gelo de rapariga, não tinha sentimentos apenas arrogância e frieza. Para ela, toda a vida era um jogo, no qual se perdia e ganhava-se algumas vezes mas ela deixou bem claro que odiava perder. Ao fim de um mês a trabalhar com ela, aprendi a ser uma óptima actriz. Raquel tinha uma paixão económica por David. Se fosse possível passava o tempo de trabalho a falar dele e da quantidade de dinheiro que ele poderia ganhar por mês… Se tivesse fora de Portugal. Nos primeiros dias que ela falava disso acho que as lágrimas enchiam os meus olhos, agora tentava suportar a dor. Não desaparecia, estava cada vez maior mas já me conseguia controlar melhor. Um dia, talvez já este verão, David podia sair.
-Quatro meses…
-Quatro meses, o quê?
-Nada… Estava a falar para os meus botões.
-Você não tem botões hoje…
-Não sejas assim.
-Mas vá, agora vai ter que dizer. Quatro meses… O que é quatro meses?
Respirei fundo e contei-lhe a verdade e só a verdade – Quatro meses… Posso só te ter na minha vida apenas mais quatro meses.
-Você é um bocado negativa, sabe?
-Eu sei… És tu que me fazes ficar assim.
-Sendo assim o melhor é eu ficar longe de você…
-Não digas isso, nem a brincar. Estou-me só a mentalizar, apenas isso.
-Está a sofrer por antecipação.
-Eu sei…
Um momento de silêncio fez-se, não sabia bem onde David me levava, talvez para sua casa.
-Onde vamos?
-Buscar a minha irmã.
-Hã?! Tu estás doido só pode!
-Não estou não, ela chega daqui a meia hora. Temos que a ir buscar.
-Aí David… Podias ter-me dito que ela vinha! Fogo! E agora?! O que vou dizer? “Olá, eu sou a Maria, a namorada do teu irmão”.
-Perfeito!
-David! Não me irrites mais!
-Você vai adorar conhecer a minha irmã. Ela é… Fantástica, sim é essa a palavra certa.
-Sim, não digo o contrário. Mas…
-Mas nada.
Quando chegamos ao aeroporto, David não me largou durante um segundo. Talvez estivesse com medo que eu pudesse fugir e a verdade é que isso realmente podia acontecer. Estava muito nervosa, talvez até demais. As pessoas passavam e olhavam para nós. Embora estivéssemos encostados a um poste num sítio resguardado as pessoas continuavam a olhar. Não resisti em pôr o meu capuz.
-O que está fazendo?
-Estou com frio na cabeça.
-Se quiser pode-se agarrar a mim…
-Entendeste bem porque é que eu pus o capuz.
Pouco tempo depois, já bem perto da meia noite, estava tão cansada que agarrei-me a David. Perguntei-lhe se faltava muito para a sua irmã chegar e ele respondeu que no painel estava a dizer que o avião estava atrasado e que deveria demorar mais meia hora. Estava cansadíssima do dia de trabalho. Coloquei a minha cabeça no seu peito enquanto ele abraçava-me. Acho que já estava meio a dormir e nem dei pelo tempo a passar, só quando senti David acordar-me daquele estado, é que despertei. Isabelle estava a sair da porta e eu estava mais nervosa que… Bem, que o David num jogo contra o Porto. Ela veio com um sorriso enorme, igual ao do David. Esbocei um também. Ao seu lado vinha um homem, deveria de ser o seu marido. Quando ela chegou, abraçou o David com um abraço enorme, eu fiquei a olhar para baixo sem saber o que haveria de dizer.
-Como é maninho? Como você está? Parece maior, pósha!
-É Belle, não seja assim. Estou igual. Como vai Pedro? – Deu um abraço ao suposto marido de Isabelle, seu cunhado.
-Vai tudo bem. Hey cara, obrigado por estes diazinhos aqui em Portugal. Vão saber mesmo bem.
-De nada! Vocês vão adorar isto aqui. Mas antes, eu queria apresentar alguém muito especial para mim. Belle, Pedro, esta é a Maria.
-Olá Maria! Como você está?! Já ouvi falar muito de você!! – Disse Belle. Sem dúvida, parecia ser uma rapariga fantástica. Cumprimentou-me com um sorriso enorme, parecia ter uma personalidade semelhante à de David.
-Olá Isabelle. Eu também já ouvi falar muito de vocês… De facto, o David adora falar da família.
-É, ele é um irmão babado sabe? Adora a sua irmã.
-Que convencida Belle! – Resmungava David – Já que a distância é alguma eu tinha que dar a conhecer vocês à Maria.
-Podia ter dado o nosso mail a ela, não moço?
-É cunhadinho, você também tem olho para estas coisas. Bem bonita, hein?
Ainda não tinha sido capaz de dizer nada e era bem possível que estivesse mais vermelha do que um tomate. David apercebeu-se desse meu desconforto e sorriu. Tinha que brincar com a situação.
-O mail? Para quê? Vocês estão fartos de falar e ela ainda só vos cumprimentou. Para que queria o mail? – David ria-se e olhava para mim.
-Olha, queres que diga o quê? Não sou assim!
-Uí, mau humor. Sabem o que isso significa? Que está na hora de nós irmos embora. A Maria está com sono.
-Ah-ah. Que gracinha menino David. Eu estou bem. – Bocejei no final que disse isto. Isabelle e Pedro não resistiram em rir.
 -Está óptima amor, não vê que sim? Vá, vamos embora. – David agarrou na mala da sua irmã e eu parti a seu lado no carro. Depressa fizemos o check-in de Isabelle e Pedro num hotel e depois dirigimo-nos para sua casa. Quando lá cheguei, deitei-me na sua grande cama e adormeci logo. Estava mesmo cansada. Durante a noite tive pesadelos sobre a saída de David, atordoava-me os dias essa possibilidade.
-Amor? Acorda. Você tem que acordar! – Acordei por de baixo dos lençóis da sua cama. David estava a meu lado, tentado acordar-me com jeitinho.
-Acordar? Para quê? Deixa-me dormir mais um pouco…
-Você tem que ir trabalhar. Ou já não se lembra? – David dava-me entre carícias e festas, pequenos beijos na cara.
-Que horas são?
-Quase nove horas…
-Nove?! Aí a Top Model vai matar-me!
-Não seja assim. Eu levo você lá ou acha que eu vou deixar alguém matar você?
-Não sei, não… - Pus-me em cima do David em jeito de brincadeira. Ele agarrou-me na cintura e eu baixei-me, dando-lhe beijos no pescoço, lábios e face. – Agora, despacha-te! Não quero chegar atrasada!
Quando cheguei, Raquel nem tinha chegado, nem havia pessoas para comprar bilhetes. Ainda estava eu preocupada com uma pessoa que chega sempre das dez horas para cima. A minha sorte é que a partir das nove e cinquenta chegava a minha ajuda, o Igor. Era um rapaz de vinte e nove anos, muito simpático e um pouco tímido. Enquanto eu fazia as visitas, Igor ficava na bilheteira, se não fosse ele… O dia, foi parecidíssimo aos outros, Raquel chegou quase as onze e para variar sentou-se na sua secretária a pintar as unhas. Era esse o emprego de Raquel, pintar as unhas. Ao meio dia, Raquel saiu para almoçar com as outras raparigas da SAD e chegou só às três ou quatro horas da tarde, enquanto eu e o Igor fomos comer em trinta minutos ao Colombo. Certas vezes, ia almoçar com David mas ele tinha tido reuniões de equipa esta semana para preparar para os futuros jogos e era complicado almoçar com ele. Continuávamos a manter a nossa relação secreta, só Tiago é que às vezes embirrava comigo e Matilde ajudava Tiago. Zeca felizmente era o melhorzinho, não embirrava muito comigo. A Banda “Maria” continuou a existir mas preferi abandonar a banda, numa decisão não só pensada em mim mas também como em David. Eliminei todos os meus amigos “desconhecidos” no facebook e só tinha os mais próximos, cerca de 150 com familiares há mistura também.
            Quando saí do trabalho, David ligou-me a pedir para estar despachada as sete, pois iríamos sair com a sua irmã. Não sabia bem o que vestir para ser sincera. Um vestido ou algo mais prático? Não sabia onde David nos ia levar mas preferi pelo mais prático, Matilde ajudou-me mais uma vez a escolher. Quando chegou à minha casa, já trazia a sua irmã e cunhado no carro. O lugar da frente estava desocupado, acho que Isabelle queria que tudo fosse igual entre mim e David, talvez quisesse saber como eu era no meu estado normal e fazer um relatório sobre mim. Cumprimentei-lhes e perguntei a David onde íamos comer. David estava sem ideias, por isso dei a minha.
-Eu sei que vocês já devem ter lá ido mas querem ir à Catedral da Cerveja?
-Olha! Eu gosto da sua ideia! Era óptimo sitio, não acha David?
-Se vocês gostam, quem sou eu para discordar. Vamos lá então.
Quando lá chegamos, o gelo entre mim e Belle já tinha quebrado um pouco. Tinhamos imensos pontos em comum e falarmos era bastante fácil. Vinha de mãos dadas a David e quando cheguei ao restaurante ia desmaiando. As “tiazinhas” estavam lá todas, e todas a olhar para mim, mas notei mais nos olhos de Raquel que quase me desafiavam.
-Bolas!
-Que foi?
-Olha quem está ali.
-Bonito! Bem, também já estava na altura de elas saberem, não acha?
-Aí David, elas vão contar a toda a gente.
-Oi? Que estão falando?
-Vamo-nos sentar ali ao fundo, eu já explico.
Sentamo-nos numa mesa com vista para o Estádio, magnifico. Talvez fosse das únicas coisas que me acalmassem nesse momento. Fiquei a olhar alguns segundos pela janela, enquanto Bella olhava para mim.
-Vão contar o que se passava ali?
-Uma daquelas raparigas é patroa da Maria, ela tem medo das coisas. O habitual.
-Eu explico, aquelas raparigas todas que estão ali estão todas interessadas em David e cada uma é pior do que a outra. A loira de cabelo esticado e de camisa branca trabalha comigo, é a minha superior e passa os dias a falar do David e do seu dinheiro. Mete-me tanta raiva esta gente! Aí, já estou arrependida de termos vindo aqui. Elas também parece que não têm mais sitio nenhum para olhar! Ainda não pararam de olhar para aqui.
-Tem calma Maria, elas gostam de olhar, deixa elas olharem. Não há mal nenhum.
Isabelle, embora aquelas minhas palavras sorria. As minhas aulas de psicologia do 12º ano tentavam decifrar o que significava aquele sorriso mas nada feito. Era por estas e por outras que a minha professora dizia que nunca iria chegar ao 17 à sua disciplina. O jantar correu com tranquilidade, sentia-me observada mas fingi que nada se passava. Quando chegou os doces, David tirou uma colherada do seu e deu-me à boca. Nesse momento, Raquel interrompeu o momento.
-Maria! Olá!
-Raquel.. – disse, ao mesmo tempo que agarrava num guardanapo – Como estás?
-Estou óptima, e tu pareces estar muito bem também. Olá, eu sou a Raquel, chefe da Maria. – depois de dizer isto, cumprimentou a Isabelle e o Pedro com um aperto de mão – Olá David – disse e cumprimentou-o como se já o conhece-se à vinte anos. David olhou para ela confuso e quando olhou para mim fez outra expressão. De preocupação. Ele percebeu que eu estava completamente chateada com tudo aquilo. – Então o que estás aqui a fazer.
-O mesmo que tu.
-Estou a ver. E com muito boa companhia. Não me disseste que conhecias o David.
-Eu… - fui interrompida por David.
-Conhece pois, como é que namorava comigo e depois não me conhecia?
David sorria e olhava para mim, eu estava boquiaberta a olhar para o contentamento dele. Pedro, tentava não rir e Isabelle fazia o mesmo. Ambos olhavam para aquele cenário como espectadores de um filme e de comédia. Raquel, por sua vez olhava para mim como se me fosse comer.
-Ah, namoram… Felicidades para os dois. – dizia com um sorriso amarelo.
-Obrigado! – David continuava todo animado. Eu acho que continuava estática a olhar para ele.
-Bem, vou ter que ir. Até amanhã Maria.
-Até amanhã… - Foram as únicas palavras que fui capaz de dizer. David olhava para mim sorridente. Pedro e Isabelle riam que nem uns perdidos. – Aí mãezinha do céu que eu estou lixada. O que tu foste fazer David Luiz Moreira Marinho!
-Que fiz eu?! Eu falei para a moça, fui mais simpático que você que mal lhe falou.
-Tu tens a noção que ela vai espalhar isto por todo o clube?!
-Boa.
-Boa?! Boa?! É isto que tens para me dizer?
-Sim. Mais tarde ou mais cedo iam ficar a saber.
Nada mais disse a David. Isabelle quebrou o momento de gelo que se fez, perguntando o que iria comer. Embora quisesse fazer-me de forte, não gostava de ficar chateada com ele. Ao final de cinco minutos já falava com ele alegremente mas que iríamos falar sobre isto, íamos. Saimos do restaurante pouco passava das nove e meia e fomos passear à baixa lisboeta. Enquanto David e Pedro discutiam sobre assuntos diversos, eu e Isabelle aproveitávamos para ver as montras das lojas. Entramos numa loja enquanto os homens ficaram à porta, acho que já estavam um pouco fartos de tanta loja. Quando olhei, vi um vestido maravilhoso, era como se me tivesse a chamar. Corri para perto dele e mostrei a Isabelle.
-É lindo moça! Você tem bom olho!
-Eu sei, mas sabes, com boa olho também vem um grande preço atrás. Queres uma aposta? – Bingo, pensei. 150 euros, caro demais para um vestido assim. – Aí… Que caro. Até me impressionou.
-Quanto é? – Mostrei-lhe o preço e voltei a guardar o vestido. Isabelle agarrou na minha mão. – É caro, mas você pode experimentar na mesma!
-Não, é melhor não. Depois fico com ele na cabeça. É mesmo melhor não. Eu cá tenho as minhas soluções. Lojas mais baratas com vestidos parecidíssimos.
-Mas eu acho que este ia ficar mesmo bem a você viu! Devia de experimentar!
-Eu não mas… Estou a ver aquele vestido ali ao fundo – voltei a colocar o meu no sítio e fui buscar um que estava no outro lado da loja – este! Ficava mesmo bem a ti!
-Você acha? Não sei não… Parece muito…
-Muito?
-Muito… Não sei… Folgado.
-Belle, tens um corpo maravilhoso. Aproveita disso. Vai lá experimentar! – Empurrei-a para o provador e esperei. Quando ela saiu estava maravilhosa. – Eu não te disse? Maravilhoso! – Senti as mãos de David sobre os meus ombros.
-É maninha! Você está uma bomba!
-Aí, você acha também? Eu acho que não… É muito…
-Amor, compra sim! Eu gosto muito, você está linda. Quer dizer, você é linda mas ainda mais com esse vestido.
-Talvez…
-Talvez nada Belle! O Pedro tem razão! Estás maravilhosa!
-Está bem mas fazemos assim, eu só levo o meu se você experimentar o seu.
-Belle…
-Ou isso, ou nada. Vá que as senhoras também querem fechar a loja, tem que ser rápida.
-Não, é muito caro. Fazemos assim, compras o teu e amanhã vamos dar uma volta ao Colombo e eu compro um bem bonito.
-Mas eu quero ver como é que você fica naquele vestido…
-Qual vestido? – perguntava David intrigado.
-É um que está ali. Muito caro… Depois amanhã vais ver que encontro um mais bonito!
-Eu posso oferecer a você… Deixa-me ver qual é.
-Não! Por duas razões, primeiro porque não gosto que me ofereças coisas tão caras e a segunda porque não vou gastar 150 euros num vestido. É demasiado caro! Apenas isso.
-Mas deixa ver qual é! Não custa nada.
-Aí David, saíste-me um chato! Não. Agora, vamos andando? As senhoras querem fechar e eles vieram a Portugal para ver Portugal, não para estar trancados numa loja. Isabelle, amanhã de manhã vamos todos cedinho comer uns pastéis de Belém!
-Está bem, está bem. Você é que manda. – David dava-me um beijo e Belle voltava a ir para o provador. Comprou o vestido e fomos todos embora. David deixou Belle e Pedro no hotel e depois ficamos os dois sozinhos no carro.
-Só tenho jogo Domingo.
-Eu sei.
-Você podia ficar comigo esta noite.
-David, antes de mais precisamos de falar.
-Vamos lá.
-Tu sabes que eu quero uma relação discreta, já tivemos esta conversa várias vezes. Tu és conhecido em todo o lado e as revistas adoravam saber coisas sobre ti. Eu adoro a forma como tu aceitaste a minha ideia de relação discreta porque é como tu também queres as coisas mas não podes andar aí a contar as meninas da SAD que nós namoramos. Na segunda, quando chegar lá já estou mesmo a ver. Toda a gente vai saber e num instante as revistas vão falar disso.
-Maria! Já estou farto de ter que andar a esconder você de quem quer que seja. Eu vou admitir que você é minha namorada e acabou. Eu quero andar com você à vontade na rua, quero falar de você a quem quer que seja, quero almoçar com você onde me der na cabeça, e não andar feito maluco a tentar esconder você. Maria, você aceitou ser a minha namorada. Tinha que estar pronta para isto.
-Eu sei, mas eu não quero aparecer nas revistas, eu não quero que as pessoas me julguem e que andem a dizer que sou interesseira. Não quero David, apenas isso. Eu só queria estar contigo, com a tua pessoa e não com o jogador de futebol que toda a gente quer.
-Mas o jogador de futebol faz parte da minha vida.
-Eu sei, eu sei. Mas por favor, não faças mais isto. Deixa isto ser uma coisa só nossa, ok? Quanto mais tarde as pessoas souberem, melhor.
-Pronto, você é que manda. Sempre me faz companhia hoje à noite?
-Já não durmo à dois dias em casa…
-Então?
-Consegues sempre dar-me a volta não é?
-Parece que sim.

            Acordei agitada e muito cedo, não era costume. David estava abraçado a mim, sabia tão bem acordar assim. Ele ressonava um pouco, por isso devia estar ferrado no sono. Levantei o seu braço e sai da cama. Pé-ante-pé desloquei-me até à sala. O sol estava a nascer e da janela de David dava para ver muito bem. Fiquei por momentos sentada no sofá de David a olhar para o nascer do sol. Reparei na sorte que tinha de ter aquele homem ao meu lado. Em toda a sala havia fotos dele e da sua família, a sala estava arrumada e era simples, nada de muito diferente ou de extravagante. Voltei para o quarto e David lá estava, com as costas destapadas. Deitei-me novamente e dei-lhe pequenas festas suaves nas costas, sentia-as frias por isso tapei-as e voltei a tentar dormir agarrada a David. Quando me cheguei perto dele, ele abraçou-me, como se estivesse acordado mas estava bem a dormir. Não consegui dormir mas David deixava-me confortável. Algo incomodava os meus pensamentos mas não conseguia descobrir o que era. Era como se fosse um mau pressentimento. David, acordou perto das nove horas e começou a beijar-me.
-Bom dia meu amor! Já está acordada à muito tempo?
-Infelizmente, sim… Não sei o que se passa comigo.
-Que se passa?
-Não sei… Acordei agitada e ainda não consegui dormir. Devo estar nervosa ou assim.
-Com o quê?
-Não sei, e é isso que me preocupa.
David apertava-me contra o corpo dele, de forma a sentir-me segura. David era um amor de pessoa, acho que se importava mais com os outros do que com ele próprio.
-Eu juro que te adoro, muito mesmo.
-Mas não chega para o amor, não é?
-Desculpa.
-Não tem que pedir desculpa, eu sou paciente.
-Obrigada David. Muito obrigada.
-Você hoje está muito melancólica.
-Sim. Verdade. Preciso de sair, animar-me.
-Eu tenho treino hoje de manhã. Devo durar pouco tempo, é só para ouvir os últimos recados do treinador.
-Então, vamo-nos despachar?
-Sim. – Levantei-me da cama e fui à procura de uns chinelos – Maria, faz um favor para mim?
-Sim, claro. Diz.
-Leva a Isabelle e o Pedro a dar uma volta por Lisboa, pode ser?
-Sim, claro. Eles estão no Tivoli não é?
-Sim, estão nesse mesmo.
-Então eu passo por lá para ir busca-los.
Depois de um pequeno-almoço, despachei-me e fui ter com Isabelle e Pedro. Combinamos ir de metro e autocarro, era mais fácil andar assim em Lisboa do que com um carro e ter que andar sempre à procura de lugar. Decidi começar por Belém onde tomamos um pequeno almoço (o meu segundo) na melhor casa de Lisboa para comer pasteis de Nata. Visitamos ainda a Torre de Belém, o Palácio de Belém,  o Palácio Nacional da Ajuda, o Monumento aos Descobrimentos e a Antiga Confeitaria de Belém. Quando acabamos de visitar tudo isto, já era quase uma hora e meia e David já me tinha ligado duas vezes. Telefonei-lhe para combinarmos ir comer ao restaurante “Cais de Belém”. Com ele veio o Rúben, os dois estavam esfomeados. Eu, a Isabelle e o Pedro não tínhamos muita fome, os pastéis de Belém falavam por si. Já depois do almoço, Rúben e David juntaram-se a nós e continuamos a visitar aquela zona. Parti para os museus, Belle falou-me que adorava museus e todo o conhecimento que eles nos podiam trazer e aquela zona era bem rica em monumentos. Eu falava com Isabelle na frente enquanto os homens vinham atrás. Era quase três horas, tínhamos que nos despachar se queríamos ver quase tudo. Visitamos o Museu da Marinha, Museu Nacional de Arqueologia, Museu Nacional dos Coches, Planetário Calouste Gulbenkian e  Centro Cultural de Belém. Eu e a Belle estávamos enérgicas, por nós ainda íamos visitar o que restava, passava pouco mais das seis horas da tarde mas os rapazes não davam para mais, para além disso, as visitas já tinha quase todas encerrado. Decidimos então encerrar o dia.
-Belle, amanhã completamos o dia! Ainda falta algumas coisas!
-Com certeza Maria! Tenho que colocar as fotos no computador, já gastei toda a capacidade do cartão! E tem oito gigas!
-Quantas mais melhor Belle, Lisboa é maravilhosa.
-Como é que vocês conseguem ter tanta energia? Eu estou aqui quase… Fogo… Amanhã vamos mesmo ter jogo David?
-Vamos sim, não sei como porque hoje parece que joguei 3 jogos de seguida!
-Que preguiçosos! Ainda falta meio Belém para visitar e ainda não visitamos quase nada de Lisboa!
Fomos interrompidos por um grupo de raparigas, eram já velhas com os seus dezanove ou vinte anos. Bem constituídas e bonitas.
-Olá, podem tirar uma foto connosco?
-Claro. – disse afirmativamente David. Elas juntaram-se a David e a Rúben, eu e a Belle ficamos mais atrás com o Pedro. Continuava a falar tranquilamente com Belle, já estava habituada aquelas fotos embora ficasse sempre com os meus olhos fixos no que se estava a passar. Nenhuma mulher gostava de ver o seu namorado a distribuir beijinhos e fotos por outras mulheres. Elas continuavam a dar conversa e eles não ficavam atrás, mais um beijinho, mais uma fotos. Tal e qual como os carrinhos de choque, “Mais uma moedinha, mais uma voltinha”. Até irritava, já deviam ter tirado cinco fotos com cada um. Conseguia ouvir a conversa. “David, não saias do Benfica. Estás tão bem aqui!”, dizia uma. A outra foi mais à frente “E já viste, as portuguesas são bem bonitas”. Só me deu para rir com a figura daquelas duas. “Tem calma Maria, tem calma”.
-Maria, você está bem?
-Não, estou a passar a crise de ciúmes que nem te digo! – disse aquilo bem alto para o David ouvir. Estava tão irritada, que reagi a quente e disse aquilo. Isabelle e Pedro riram-se até mais não. Rúben olhou para o chão e colocou a mão na boca tentando não rir e David olhou para mim com uma cara confusa. Eu fiz uma posição de espera, e acho que a minha cara transmitia uma única frase, “Eu estou a ver o que estás a fazer David, eu estou a ver”. David sorriu e despediu-se das raparigas, que olhavam para mim com arrogância. Naquele momento não me importava com elas, só queria o meu homem de volta. Eles voltaram e David agarrou-se a mim.
-Que cena foi essa? Ciúme?
-Sim, ciúmes! Mais um bocado e elas estavam em cima de ti queres ver! Se não fosse eu estavam a pedir o vosso número! E não te rias Rúben! Olha que eu sou amiga da Matilde e se ela estivesse aqui mandava-te com um sapato à cabeça! – Rúben que estava a rir parou e olhou para mim com cara de desconfiado.
-Você? Com ciúmes?! Essa é boa!
-Que tem? Não posso ter?!
-Nunca vi você com ciúmes.
-Há sempre uma primeira vez.
-Nunca pensei é que fosse nesta ocasião.
-Queria ver se fosse comigo!
-Se fosse consigo não fazia isto, não.
-Que mentiroso! Se fosse preciso fazias bem pior!
-Exacto! Eu nem deixava você estar a falar com outro homem.
-Impressionante. – Rúben, Belle e Pedro riam-se da nossa conversa.
-Vá, deixa de coisas, você sabe bem que eu só tenho olhos para você.
-Não sei não. Prova-me.
David agarrou em mim e beijou-me à frente de Rúben, Belle e Pedro. Caí na tentação e continuei a beija-lo, como se não tivesse ninguém a ver. Parei quando senti um poderoso flash vindo da camera XPTO de Belle.
-Já viu Pedro? Fazem um casal tão bonito!
Pedro e Rúben olhavam para o pequeno ecrã da camera, não resisti em ir ver. Fiquei encantada com a foto, dizia tanto sobre nós. O meu sorriso parvo era bem visível, tanto que David tinha que brincar com a situação.
-Você fica tão bonita a sorrir desse jeito.
Fiquei como o David costumava dizer, “Sem jeito”.
-Bem, vamos comer? – tentei disfarçar.
-Eu tinha combinado ir comer com a Matilde.
-Ela pode ir comer connosco Rúben. É a minha melhor amiga, lembras-te?
-Sim, claro que me lembro. Vou ver o que ela me diz.
Matilde acabou por aceitar mas só com uma condição, tínhamos que ir ao Isabelinha. Como ninguém se opôs à proposta, fomos todos lá comer e ficamos mais uma vez no 1º piso. A dona Isabel começava a estranhar as vezes que eu ia lá com David mas acho que ela estava mais preocupada com Matilde e o seu estranho relacionamento com Rúben. Isabelle ficou maravilhada com os cozinhados de Dona Isabelle e fez questão de lhe agradecer. Era muito simples e muita simpática a Isabelle, tudo o que David me dizia sobre a sua irmã estava a ser confirmado, em todos os aspectos possíveis e imaginários. Não nos podíamos esticar muito com as horas pois os rapazes tinham que descansar. Despedimo-nos de Dona Isabel e dividimo-nos em dois grupos, eu fiquei com David e com Isabelle e Pedro, a Matilde foi com Rúben, no carro dele.
-Cuidado com o que fazes Matilde, amanhã o Rúben tem que jogar.
-Que gracinha Maria! Até amanhã!
-Até amanhã.
Quando já tínhamos deixado a Isabelle e o Pedro no Hotel, David conduz de forma silenciosa, talvez de mais.
-O que se passa?
-Nada.
-David… Sabes bem que odeio estas coisas…
-A minha mãe vem em Abril, mais o meu pai.
-Hum.. – Vou ser sincera, o meu “Hum” não saiu como esperava. Foi um “hum” um pouco desesperado.
-E eu amanhã quero dizer que tenho uma namorada aqui, em Portugal.
-Aí…
-Que foi?
-Ser apresentada ao teu pai, através de um telemóvel. Não gosto.
-Queria que fosse como? Surpresa quando ele chegasse à Portugal? “Oi, pai! Esta é a minha namorada. Namoramos já faz 3 meses pai!”. Era aí que ele me dava um puxão de orelhas!
-David, e achas que por telemóvel é melhor?
-Ele de certeza que quer saber, por isso o melhor é contar.
-E quando pensas contar? – Respirei fundo antes de perguntar-lhe tal coisa. Não queria, nem fazia parte dos meus planos ser assim mas com David, os planos do futuro nunca eram como nós queríamos.
-Eu pensava contar já hoje… Assim despachávamos o assunto e eu hoje estou com vontade. Antes que desapareça a coragem.
-Agora?!
-Sim, pode ser agora! – David, parou o carro em frente de um prédio da sua vizinhança e tirou o telemóvel do bolso.
-David! – Gritei – Tens a certeza?
-Absoluta.
-Então força…
Pôs o telemóvel em alta voz para eu poder ouvir a conversa também, quando o pai de David atendeu, estremeci. Uma parte de conversa de típica entre pai e filho, David interrompeu com um suspiro.
-Pai, preciso de contar uma coisa para você.
-É uma rapariga não é?
-Como sabe pai? – David estava visivelmente confuso.
-Filho, você sabe à quantos anos eu conheço você? Você quer tentar enganar quem?
-Desculpa por não ter contado a você antes pai. É que… Não era nada seguro mas agora é e…
-Filho, ouve o pai. Você é futebolista, ganha muito dinheiro ao final do mês, é bem parecido e isso pode impressionar algumas meninas. Vai com calma…
-Pai…
-Ainda não acabei. Ouve, eu não quero que ninguém se aproveite do meu filho, não quero ver você sofrer ou então a ser enganado!
-Pai…
-Você vai continuar a dizer “Pai” ou vai-me deixar acabar?
-Se você me deixa-se completar a frase!
-Conta filho.
-Ela está a meu lado a ouvir a conversa e..
-E só agora você me diz isso?!
-Calma pai, ela… Ela tem uma opinião igual à sua. Por isso é que eu acho que ela é a minha mulher, a tal. Ela não quer o meu dinheiro, porque quisesse, ela me deixava pagar o almoço ao menos ou um café mas nem isso ela quer! Ela é muito independente pai, ela é um pouco como você. Acho que vocês se vão dar muito bem… Ou então vão se odiar por terem personalidades tão parecidas. Mas pai, eu gosto muito da Maria, eu amo-a e eu sei o que você vai dizer, é o mesmo que a Maria me diz. “É muito rápido para dizer isso, vai com calma” mas é o que eu sinto.
Eu olhava com os meus dois grandes olhos para David, eles enchiam-se de lágrimas, não estava pronta para ouvir tal coisa. Foi algo muito sentimental, talvez até demais. O pai de David permaneceu calado durante algum tempo mas depois voltou a falar.
-Como se chama a moça…
-Maria, chamo-me Maria Sr. Lucas. Posso chamar-lhe assim?
-Maria, me chame só por Lucas. Deixa as formalidades.
-Obrigada.
Ao fim de mais dois dedos de conversa, David desligou o telemóvel e levou-me a casa. Amanhã tinha jogo e o dia já tinha tido emoções fortes suficientes. Agradeceu-me por ter concordado com ele em ter contado ao seu pai. Dei-lhe um beijo e David largou as minhas mãos lentamente até que as largou. Vi-o entrar dentro do carro, acenar-me e a sair disparado. Sentei-me no chão quando ele já não estava a olhar.
-Merda.
-Menina, cuidado com a linguagem! – Disse a senhora do terceiro direito que ia passear o cão.
-Peço desculpa.
-As desculpas não se pedem, evitam-se. – A senhora virou-me as costas e continuou a andar.
-Merda! – disse outra vez. Tive medo que aparecesse outra pessoa e implicasse comigo mas a verdade é que estava-me a sentir nisso mesmo, na merda. O nosso namoro era oficial e a família de David já sabia. Agora, só faltava a minha.


Peço imensa desculpa se encontrarem algum erro mas estou muito, muito cansada e nem sequer tive tempo para ler novamente. A segunda parte deste capítulo vem para a semana.
Beijinhos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Sim?!"

-Olá. – Disse-me David quando abri os meus olhos.  Ele olhava para mim a sorrir, parecia-me feliz. Eu também estava assim. Sorria sem nada ter acontecido só porque sim. Permaneci aninhada ao corpo dele toda a noite, a minha cabeça estava encostada ao ombro dele e os meus braços agarrados ao seu peito.
-Olá. – disse-lhe baixinho.
-Tem fome?
-Um pouco… - Ele preparava-se para sair da cama mas eu voltei a puxa-lo. – Não, fica mais um bocadinho.
Encostei a cabeça ao corpo dele, era tão perfeito. David, por sua vez, agarrou-me no queixo e puxou-o para cima, deu-me um beijo suave. Voltei agarrar-me do seu tronco, onde fazia pequenas festinhas com os meus dedos sobre os seus abdominais.
-Estou gostando cada vez mais de você. Nunca pensei que isto viesse acontecer.
As palavras de David fizeram o meu corpo estremecer. Ele sentiu isso e abraçou com mais força. Senti o calor e a preocupação que ele me transmitia naquele momento.
-Porque é que pensavas isso? Que isto nunca viesse acontecer?
-Porque… É tudo muito rápido. Fiquei enfeitiçado por você e o meu carinho por você neste momento é enorme.
-Achas que foi um erro?
-Não… Muito pelo contrário, você não é, nem nunca será um erro. – A minha cabeça virava-se para cima, ficando cara-a-cara com David, não sabia o que dizer perante aquelas declarações. Um pequeno “Adoro-te” não era suficiente mas um “Amo-te” era demais.
-Eu gosto realmente muito de ti e por favor, nunca duvides disso. – Voltei a encostar a minha cabeça ao tronco de David. Permanecemo-nos calados durante vários minutos mas fomos interrompidos pelo som do meu estômago a roncar.
-Você está mesmo com muita fome?
-Um bocado… - David levantou-se da cama e vestiu o seus boxers. Eu olhava pela sua janela aberta e via o Estádio de Alvalade. – Nem tinha reparado que tens esta “linda” vista. – disse-lhe ironicamente.
-Você tem gracinhas muito engraçadas. Não se despacha, não. Ainda fica sem pequeno-almoço. – David sai do quarto e eu fiquei lá sozinha. Ainda não tinha reparado bem no quarto. Era simples e com cores amenas, brancos e cremes. Fazia-me estar tranquila, quando olhei para o lado vi as horas. Eram quase oito e meia, cedo demais mas não me importava. O despertador fora muito bom.
-Tens treino hoje?
-Sim, tenho. Às dez… 
-Posso vestir uma blusa tua?
-Claro que pode, está a vontade!
Abri o armário dele e vasculhei por entre as gavetas blusas de pijama. Lá encontrei uma de manga comprida que me ficava enorme, servia para o que era. Quando cheguei à cozinha ainda ensonada, David já fazia torradas.
-Vai beber o quê?
-Tens iogurtes?
-Morango?
-Pode ser… - sentamo-nos os dois à mesa e entre brincadeiras com as torradas David pára e fez uma cara séria. – Que se passa? – perguntei. Não era habitual de David ficar com aquela cara.
-Maria, quero fazer uma pergunta à você.
-Podes-me perguntar tudo. – Embora tenho dito isso, o meu corpo arrepiou-se. Talvez não quisesse que ele perguntasse tudo.
-Maria, você quer namorar comigo? – os meus joelhos tremeram, a torrada caiu-me das mãos e os meus olhos ficaram estáticos a olhar para David. Não estava a espera que ele me perguntasse tal coisa. Respirei fundo e respondi-lhe.
-Tenho que responder já agora?
-Eu gostava, mas se tem dúvidas…
-Não. Eu não tenho dúvidas. Mas… Se eu respondesse já agora dizia que sim sem pensar e eu gosto de pensar.
-Eu dou o tempo tudo que você quiser. – David garra noutra torrada acabada de sair e esboça um sorriso amarelo. Lembrei-me dos momentos em que tivemos juntos, nos conselhos da minha mãe, do meu irmão, da Matilde, do Zeca, mas mais alto falava o coração. Pensar… Para quê pensar quando o coração tem tantas certezas. David tentava fazer uma cara feliz mas era visível que estava desiludido e eu não podia deixar que o cérebro, sistema que tinha tantas certezas sobre a minha antiga relação, arruína-se uma que ainda não tinha começado. Uma que o coração uma certeza, que o homem que estava à minha frente era muito importante. “O cérebro serve para fazer contas, o coração para decidirmos com razão”, disse-me uma vez Zeca.
-Sim. – respondi. Não sei o que me passou pela cabeça. Ah, já me lembro, não foi pela cabeça mas sim pelo coração. Estava na altura de mudar e de utiliza-lo mais vezes.
-Sim?
-Sim, eu quero namorar contigo. – David levantou-se da cadeira e abraçou-me. A minha torrada estava ainda na minha mão e quase a chegar ao seu cabelo – Cuidado! Olha a torrada! Ainda te sujo o cabelo! – David afastou-se e voltou à normalidade, agarrou na minha cara com as suas mãos apertando-a ligeiramente ficando com lábios de peixe.
-Eu adoro você, já tinha dito isso?
-Hoje, não… - Deu-me um beijo profundo e algo carente. Amava sentir seus lábios suaves e quentes a tocar nos meus. Ele empurrou-me ligeiramente para trás até bater na bancada da cozinha. Agarrou na minha cintura e puxou-me para cima da bancada, ficando eu sentada.
-Eu adoro você – disse enquanto me dava beijos pelo pescoço. Agarrei no seu queixo e apontei com o meu dedo para as horas. Eram quase dez para as nove.
-Já é tarde… O melhor é ires-te despachar.
-Dá tempo para um banho junto? – Ele disse-me aquilo enquanto voltava a dar-me beijos pelo pescoço e face. Não resisti em concordar com a ideia dele. Agarrou-me pela anca e eu encostei as minhas pernas junto das suas costas para não cair. David continuava a beijar-me ao mesmo tempo que andava  e me levava ao colo. Não conseguia ver o caminho então guiava pela seu conhecimento dentro de casa. Batemos algumas vezes contra as paredes mas mais se magoavam as paredes do que eu a mim. David pousou-me no chão da casa de banho e ligou a torneira. Despachou-se a despir-me e a seguir despiu-se sozinho, eu corri para dentro do pequeno duche, estava frio para estar assim. A água quente cai nas minhas costas e David chegava pouco depois. Estava de costas viradas para ele e sentia os seus beijos e toques nas costas. A água caía a ferver enquanto me virei para ele. Já tinha visto David naquele estado, molhado e com os caracóis todos alinhados, mas nunca tinha estado tão próxima. Dê-mos beijos carinhosos entre brincadeiras no duche mas o tempo escasseava e David teve que ir. Saímos os dois e David levou-me a casa. Matilde esperava-me ansiosa para lhe contar como tinha sido a noite. Zeca, não estava em casa.
-O que queres saber?
-O que se passou entre vocês?
-Então, o normal.
-Normal!?
-Sim, o normal.
-Fizeram… - dizia Matilde enquanto fazia uns gestos estranhos com as mãos, pequenas ondas e depois as palmas batiam uma contra a outra.
-Sim…
-Yeahhhh! – gritava eufórica Matilde. Por vezes achava que ela ficava mais feliz que eu.
-Tem calma… Ninguém pode saber disto!
-Sabes bem que não conto a ninguém. Mas… Como foi?
-Matilde – levantei-me do sofá onde estava sentada e fui em direcção da janela olhar para o sol que tentava sorrir entre as nuvens – não te vou contar isso… - Ela cruzava os braços e fazia uma cara aborrecida. A verdade é que estava ansiosa por contar e não ia resistir. – Foi lindo! – corri para o sofá para me voltar a sentar e contar-lhe tudo. – Ele é um espanto! Comemos na casa dele e foi ele que fez a comida! Depois dançamos ao som de Fur Elise e de uma música que desconheço mas clássica e no final levou-me ao colo para o quarto! Não estás a bem a ver… Foi um dos momentos mais lindos e fantásticos da minha vida! – Matilde abraçava-me com uma força enorme. Sabia muito bem receber aqueles abraços.
-Eu disse! Eu disse que ele era diferente! As minhas cartas têm sempre razão! Estou tão feliz por tu estares assim tão feliz! Se conseguisses ver a tua cara a falar dele, o teu sorriso, as tuas expressões, o teu olhar…
-Ah, e a outra coisa… E aqui eu preciso mesmo da tua opinião. – Afastei-me dela e ficou a olhar para mim, com cara de quem estivesse pronta para responder a tudo. – Ele pediu-me em namoro e eu…
-E tu?!!
-E eu aceitei! Achas que fiz bem? É que…
-Maria! Nem tentes arranjar desculpas! Sê feliz mulher! É óbvio que fizeste bem em aceitar… Tu nem sabes como os teus olhos brilham…
-Eu nem acredito que estou assim tão feliz… Passou tão pouco tempo desde…
-Desde?!
-Desde que eu conheci ele…
-Maria… E o Diogo?
-Matilde, estou certa apenas de duas coisas, a primeira é que adoro o David e a segunda, que o Diogo não é nada para mim…