quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"O amor da minha vida"




Sábado chegara, estava frio, a chover. Onde estava, no meu lugar perto da claque, chovia. Mas nada que uma capa vermelha comprada antes do jogo não resolvesse. Ainda não tinha recebido nenhuma resposta do Benfica, começava-me a deixar nervosa, ansiosa e também um pouco aborrecida. Era assim tão complicado arranjar emprego? Tinha-me candidatado a um emprego como guia nas visitas do estádio da Luz, esperava que a resposta fosse positiva, visto que recusaram logo o meu currículo quando foi para me candidatar a um emprego na SAD. Ao menos o Benfica ganhava, já não era mau. O ano estava a ser tal e qual como esperava, o Porto não ia deixar que o Benfica fosse Bicampeão, nem que a vaca começa-se a tossir. Tudo parecia estar contra, escândalos, árbitros e até alguns jogadores que pareciam estar diferentes, desmotivados. O bode expiratório seria o mesmo que todos os outros anos, Rui Costa. Eu tentava acompanhar a claque com os seus cânticos, desde o “Ben-Ben-Benfica” até ao cântico “Quando eu era pequenino”. A verdade, é que sempre tinha vindo aos jogos sozinha. Matilde era Benfiquista “simpatizante”, vinha quando a obrigava. Diogo, nunca tinha vindo ao estádio da Luz, era Sportinguista. Logo, vinha sozinha. Não me importava, já conhecia alguns rapazes e raparigas lá no estádio e quando não se conhecia ninguém, sentava-me ao lado dos senhores mais idosos que eram sempre faladores! Mal acabou o jogo, dirigi-me para fora do estádio. Ainda queria ir ao Colombo comer, estava cheia de fome. Quando estava a entrar para o Colombo o telemóvel começou a tremer.
-Sim? – Nem tive tempo, nem espaço para olhar para o ecrã do telemóvel. A multidão empurrava-me para a frente e para entrar dentro do Colombo.
“Maria, é o David. Você veio ao jogo?”
-Vim sim!
“Não vi você…”
-Com trinta mil pessoas se me conseguisses ver era quase milagre!
“Sim, verdade. Porque não vem ter comigo aqui no camarote?”
-Onde?
“Entra na garagem e pergunta ao segurança, ele encaminha você para cá.”
-Eu, num camarote? Deves estar doido! Achas mesmo David? – Um homem que vinha ao meu lado olhou-me de alto a baixo e eu apercebi-me que estava-me a olhar. Baixei o telemóvel até ao peito para o David não ouvir – É o meu tio. Ricaço quer me pôr num camarote amanhã no estádio dos Lagartos! – o senhor sorriu, acho que tive sorte, voltei a por o telemóvel ao ouvido. – Desculpa David. Aconteceu aqui uma coisa.
“Onde é que você anda?”
-No Colombo. Olha, o Sporting amanhã joga em casa?
“O Sporting? Virou lagarta agora?”
-Não, só para saber…
“Não, vai jogar em Setúbal”
-Bolas! – a história que tinha contado ao senhor já tinha ido por água abaixo, sorte que ele devia ligar tanto ao Sporting quanto eu. - Tu é que podias vir ter comigo.
“Você vai-me contar essa história bem. No Colombo? Você está bem moça?”
Pois, não foi grande ideia. Com a afluência de Benfiquistas que o Colombo tem, trazer um jogador agora não era grande ideia. – Desculpa, não é boa ideia.
“Vem ter aqui. Vamos jantar fora”
-Onde?
“Não sei bem, arranjar um sitio calmo.”
-De certeza que vocês vão a sítios caros. Para além disso, eu estou com a camisola do Benfica. Não posso ir assim para esses sítios.
“Mais razão você me dá. Está muito bem assim, com a camisola do maior. Vai mais bem vestida do que nós todos”
-Obrigada mas é melhor não….
“Vou ficar chateado com você”
-Isso não vale.
“Então vem connosco”
-Convosco?
“Sim, comigo e com o Rúben e o Gustavo”
-Tanto homem. Agora é definitivo, não vou…
“Então, amanhã, sem falta me promete que vem almoçar comigo.”
-É jantares, é almoços. Só queres é festa!
“Não seja má para mim. Para além disso, temos que comemorar.”
-Como assim comemorar?
“Ouvi dizer que você ficou com um trabalho aqui no estádio…”
-O quê? Estás a gozar! Que louco!
“Eu sabia que você ia ficar feliz”
-Tu não tiveste nada a ver com isto, pois não?
“Eu? Não! Acha mesmo?”
-David, é só para te dizer que mentes muito, muito, muito, mal.
“Eu? Estou a ser sincero com você”
-Está bem… Então, sendo assim, não te importas que seja um jantar, pois não? Amanhã é dia de família.
“Claro que não, entendo.”
-Então, até amanhã! Beijinhos!
“Beijo, até amanhã”
As conversas com o David eram assim, simples e genuínas. Não tinha medo de contar-lhe actos já passados da minha vida ou segredos íntimos. David tinha uma excelente personalidade que me fazia confiar nele, embora tivesse passado pouco tempo.
Na manhã seguinte, quando acordei já Matilde tinha saído. Os domingos eram dedicados às famílias. De facto, os últimos domingos tinham sido dedicados ao Diogo e há família dele. Eram a minha segunda família embora soubesse as pessoas que eram. O pai de Diogo nunca simpatizou comigo, da mesma forma como eu nunca gostei dele. A mãe de Diogo, via-se nos olhos dela que não era feliz. Era uma mulher rica por estar ao lado do pai de Diogo, não fazia nada da vida e acho que se aproveitava daquela situação. Perguntava-me se ela alguma vez tinha sentido amor por aquele homem ou se alguma vez tinha sentido amor. A grande palavra de grande significado. Fazia estas perguntas enquanto estava na cama. As estrelas que estavam no tecto começavam-me a fazer mal, começava a pensar demais. Lembrei-me de todos os bons momentos com Diogo, de todos os beijos mais marcantes, de todos os carinhos, de todos os momentos em que ele me apoiou, de todas as vezes em que nos tornamos num só. As lágrimas escorriam-me pela cara, não queria chorar, não queria ser assim tão fraca e que ele levasse a melhor de mim. Repeti para mim própria “Será a última vez que te hás-de lembrar dele assim, como um amor. Foi uma pessoa que passou pela tua vida e deu-te uma lição de vida e que tu jamais irás esquecer”. Eu tinha razão mas não conseguia fazer com que isso fosse verdade. As horas já iam avançadas, vesti umas calças de gangas e um camisolão de lã branco mais uns botins pretos. Entrei no metro e fui até à casa da minha mãe. Já todas as pessoas me esperavam. Tiago, já estava chateado com o meu atraso. Já sabia que ia ouvir dele.
-Como é que te atrasas tanto? E depois vens dessa forma!
-Que tem?
-Nada Maria, estás linda. Agora, vem te sentar aqui e vamos começar a almoçar – saia em minha defesa o meu pai. Tiago bufou com aquela situação. O almoço correu como previsto, o meu pai falava do passado e da forma como viveu os tempos em que nós dávamos menos preocupações do que agora e como devia ser ao contrário. Eu tinha saído ao meu pai, adorava o passado e de recordar tudo! Adorava quando o meu pai me segredava ao ouvido “este teu irmão”, como forma de desabafo. Adorava os almoços de Domingo, o fim da minha relação com o Diogo tinha-me trazido mais coisas boas do que más. Os almoços estavam de volta, o meu pai estava de volta, a Vera estava de volta, até as brincadeiras com o meu pai que irritavam o meu irmão estavam de volta. Mas não era só algumas coisas do passado que estavam de volta mas também pessoas que faziam parte do meu futuro.
Quando o almoço acabou, ajudei a minha mãe a limpar a cozinha e despedi-me do meu pai e do meu irmão. As picardias logo começaram.
“Então, vais ter com o David?”. Imaginem a reacção do meu pai ao ouvir a palavra “David”. “Quem é esse rapaz?”. Não suportava mais interrogatórios, lá consegui escapar ao questionário que iria surgir vindo do meu pai dizendo que o David não passava de uma amigo, mais do que amigo, quase um irmão como o Tiago. Ao ouvir a minha comparação, o meu pai que estava em pé, de estado alerta, voltou a sentar-se e a encostar-se no sofá. Sai de casa e voltei-me a pôr no metro. Se contasse todas as viagens de metro que já tinha feito na minha vida, dava em doida mas as viagens eram rápidas e faziam-se bem. Era o melhor meio de transporte em Lisboa se não queríamos apanhar a confusão do dia-a-dia, o trânsito. Embora tivesse a carta de condução, não tinha carro. Primeiro porque são caros, segundo porque a gasolina aumenta em cada semana e terceiro, não suporto a confusão de manhã em Lisboa. Quando era preciso eu conduzia mas preferia não o fazer. Estava frio e não me apetecia sair, voltei para casa. Tentei dormir um pouco, estava cansada e os filmes que davam nos canais também não me atraiam. Fui acordada pelo tremer do meu telemóvel que estava no bolso. Sim, tinha um sono leve, é verdade. David ligava-me, atendi o telemóvel rapidamente.
-Olá David!
“Olá Maria! Sempre vamos jantar hoje?”
-Tenho outra ideia. E que tal vires jantar aqui?
“Aí em casa? Com à Matilde e o seu amigo?”
-Não, eles não estão cá. Eu fazia-te um jantar e sinceramente, com este frio não apetece sair a lado nenhum.
“Então sendo assim fica combinado. É preciso levar alguma coisa?”
-Hmm… Trás alguma coisa para beber.
“Pode ser vinho?”
-Claro!
“Eu vou comprar um então e depois vou aí directo”
-Óptimo, assim até fazes-me companhia a fazer o jantar.
“Pode ser que salve a coisa, não é?”
-Gracinha do moço. Vá beijo.
“Beijo Maria, até já”

A Maria ia fazer um jantar para David, será que a noite acabava como ele esperava? Um encontro só de amigos ou iria acontecer algo mais?

3 comentários:

  1. gostei mt... agora quero o outro cap...
    fico a espera...

    Bjs

    Clara

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  2. A Maria está de volta e o David anda se aproximar e bem =D
    Digo eu que o jantar promete! :P
    Mas tenho agr de ficar á espera..xD

    Beijinhos Cat^^

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