terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"Eu quero conhecer você"


David voltou para o lugar e ficou a olhar para mim, os meus olhos estavam fixos no fundo da sala.
-Que se passa?
-A tua namorada e o meu ex-namorado estão ali ao fundo…
-Hã?! A Patrícia?
-E o Diogo?
David olhou para trás e voltou a olhar para mim, encolheu os ombros e fingiu que nada se estava a passar.
-Não achas estranho? Quer dizer, ela é tua namorada!
-Ex-namorada. Não tenho nada haver com ela. E você não acha estranho?
-Por isso mesmo é que eu estou com esta cara! Como é que eles sabiam que nós vínhamos aqui? Contaste-lhes?
-Não! Mas eu costumo vir aqui. A Patrícia deve ter adivinhado.
-Lindo… Isto sim, é lindo.
-Quer ir embora?
-Não! Nada disso! Nós estávamos aqui primeiro certo?
-Certo…
-Então vamos continuar aqui! – os meus olhos agora fixavam-se no balcão e na informação que lá dizia. “Part-time à tarde”.  – David, como é que é o ambiente aqui?
-É muito bom! Toda a galera está sempre falando e festejando. Faz lembrar muito o meu país!
-Hmm.. Espera um pouco então.

*Amo-te Maria*

-Que foi fazer?
-Então, fui ver se aquela vaga ainda está aberta… - David olhou para trás e viu o placar e soltou algumas gargalhadas.
-Que foi?
-Uma portuguesa num bar brasileiro?
-É a tarde. Tiveram-me a dizer que à tarde costumam vir mais portugueses por isso não faz diferença.
-E eu tenho direito a uma bebida grátis?
-Nem pensar! Achas mesmo? Tu tens que pagar!
-Pronto, pronto… Olha, você não quer ir embora? Estou farta de pessoas a olharem para nós.
-Eles ainda não pararam?
-Não, e o pior é que eles já se beijaram e tão à espera que nós façamos qualquer coisa.
-Beijaram-se?!
-Sim…
A raiva instalou-se em mim, senti vontade de explodir e de partir Diogo aos bocadinhos. Qual a reacção de uma pessoa que acaba de ouvir que o ex-namorado que ainda ama está no mesmo bar a beijar outra mulher? O mesmo homem com quem partilhou tudo, com quem viveu durante dois anos, com quem lutou contra uma doença horrível junto dele? Chora. Chora e vira as costas e vai-se embora. Muitas pessoas podiam ir lá pedir justificações, outras vingar-se com o rapaz que tinham à frente mas eu não era assim. Eu preferia fugir e chorar, acho que ainda era o que fazia melhor. Sai do bar e tentei apanhar um táxi.
-Maria! Espera aí! Tem calma… Não fica assim não. Ele não merece você.
-Eu sei que ele não me merece! Mas o sentimento continua aqui! Está sempre presente! Sempre! Ele já parece ter-me esquecido à muito. Quer dizer, acho que ele nunca chegou a amar-me! – virei-me para a estrada – eu só quero sair daqui!
-E para onde você vai? Para casa? Nesse estado? Não posso deixar…
-Porquê?
-Porque a ideia de vir aqui foi minha e enquanto você esteve comigo ficou nesse estado.
-A sério, não vale a pena. Isto podia acontecer em qualquer dia. Eles iam fazer isto… Eu nem sei como é que não estás perturbado com isto tudo!
-Porque eu não gosto dela. Mas você ama ele… E muito. – fiquei sem saber o que pensar. Afinal David era o tradicional jogador de futebol. Que anda com as meninas segundo a beleza. O amor não faz parte dos planos.
-Tu não gostavas dela?
-Eu gostar gostava, mas agora não.
-Não se esquece uma pessoa assim…
-Alguém me fez esquecer ela. Mas não há nada que eu possa fazer.
-Sabes, eu dou óptimos conselhos. Queres que te dê um?
-Estou a ouvir.
-Se gostas de alguém, luta por essa pessoa. Não a deixes escapar. Pode ser o amor tua vida. Eu fiz isso.
-E não resultou.
-Não era o homem da minha vida.
-E quando é que você vai dar oportunidade a outro homem para provar o seu amor.
-Estou à espera disso David, mas não quero magoar ninguém. Tenho medo de magoar essa pessoa. Eu não mereço ninguém.
-Magoar? Como é que você pode magoar alguém?
-Eu não vou conseguir amar a pessoa da mesma forma como amei o Diogo.
-Como sabe?
-Eu sinto isso. Eu sinto.
Diogo sai do bar agarrado a Patrícia. Eu estava à beira do passeio com David atrás de mim. As lágrimas continuavam a cair, estava tanto frio que os arrepios apareciam de vinte em vinte segundos.
-Vem comigo. Quero mostrar uma coisa a você… - Ele puxou-me pela mão e levou-me até ao sitio onde tinha o seu carro estacionado – entra no carro.
-Onde vamos?
-Já vai ver.
Entrei dentro do carro, era enorme. Parecia um jipe daqueles das corridas de todo o terreno. David ligou o carro e começou a conduzir. Não sabia para onde íamos, nem o que ia acontecer. Na minha cabeça só estava o Diogo e o meu sentimento sobre ele. Já não sabia o que sentia, estava tudo tão turvo. Agora, a raiva apoderava-se de mim, não o amor. Não sabia se era amor ou raiva. Mas sabia que era muito forte. O tempo passava, o rádio estava na “Mega FM” e passava mais uma daquelas músicas pop e calmas que falavam sobre a separação. As música passavam, mas repetiam sempre o mesmo assunto. As letras eram iguais, só por dizer que os sinónimos faziam de sua justiça. David parou o carro, nem dei pelos minutos passarem. A viagem foi feita no silêncio. Eu estava no meu mundo à parte. David saiu do carro e pôs-se na parte da frente do carro, encostado ao capot. Sai e encostei-me também. A vista era maravilhosa. Há nossa frente estava a ponte 25 de Abril e conseguia-se ver o Cristo Rei. Sabia que David era religioso, este sitio devia significar muito para ele.
-É linda a vista.
-Eu sei. Venho sempre para aqui quando tenho problemas. Dá para pensar sobre os nossos problemas. Achei bom para você...
-David, posso-te fazer uma pergunta?
-Claro…
-Porque é que me estás a ser tão simpático para mim?
-Você é diferente sabe? É sincera, simpática, você é forte. Você não se interessa pelo dinheiro que tenho ou pela reputação que tenho. Mas odeio uma coisa em você…
-O quê?
-Você ama o Diogo e eu não posso lutar contra isso.
-Como assim?
David punha-se agora na minha frente e falava-me olhos nos olhos -A cada segundo que passa me sinto mais atraído a você. Quero descobrir tudo a cerca de você, saber o que gosta, o que não gosta, o que quer, o que não quer. Tudo. Mas sinto que você não quer que eu saiba nada a cerca de você.
-Não te quero magoar.
-Eu arrisco. - David aproximava-se, ficando cara-a-cara comigo. Sentia a sua respiração - Eu não me importo de sair magoado mas deixe-me tentar. Deixe-me tentar fazer com que você esqueça o Diogo.
-David… Eu não vou conseguir.
-Depois nós vemos isso.
-Eu vou-te magoar.
-Eu não me importo. Já disse. Mas deixe-me conhecer você.
-O que queres saber? - David afastou-se e dirigiu-se para a porta do carro.
-Vamos para dentro do carro, está frio.
-Concordo.
Entramos dentro do carro e David ligou o aquecimento. Tinha as mãos geladas e os arrepios do frio tinham tomado posse de mim.
-O que queres saber?

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