segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"É a décima noite"

Olhei para o lado na esperança de encontrar Diogo. “É o trabalho amor”, a nossa relação já não era a mesma, Diogo chegava a casa e já nem me dava um beijo ou uma carícia. Há dois meses atrás começou a sair à noite e há três semanas esta já era décima noite que ele dormia fora. Dizia que era do trabalho mas a empresa onde ele trabalhava fechava às oito, para além disso, o pai era o presidente da empresa. As discussões eram cada vez mais e maiores, chorava todos os dias mas não tinha provas para o acusar de nada. Levantei-me com dores, embora tivesse ultrapassado o cancro a quimioterapia tinha deixado marcas. O meu cabelo já me dava pelos ombros mas era muito fraco ainda e loiro, a minha cara estava pálida e estava muito magra. O telefone tocava, devia de ser Matilde.
-Olá minha querida, como estás hoje?
-Bem, não te cansas de perguntar isso?
-Sabes bem que não, hoje vens almoçar comigo!
-Como queiras.
-O Diogo não dormiu em casa pois não?
-Não. Já é a décima vez.
-Temos que falar, muito a sério. Despacha-te!
-Sim meu anjo, vou já.
Desliguei o telemóvel, pus-me a pensar na minha relação com Diogo. Talvez fosse a diferença de idade. Eu tinha 23, o Diogo já caminhava para os 32 mas depois de tudo o que passamos juntos para aceitarem a nossa relação não podia acabar assim.
                A nossa relação tinha começado há três anos, conheci-o através do ex-namorado da Matilde. Quando começamos a namorar todas as pessoas que nos conheciam não aceitava a relação, nem a própria da Matilde que sempre me apoiou em tudo. Resisti a todas as críticas e aos 8 meses de namoro fui viver com Diogo. “Nunca irá resultar filha!” dizia a minha mãe, mas eu não queria saber. Eu amava-o e isso é que importava, não diferença de anos. Quando fizemos 2 anos de namoro descobri que tinha cancro da mama. Raro aparecer aos 21 anos mas apareceu. Às vezes não acontece só aos outros e às vezes a idade não importa mesmo. Embora tivesse encontrado o cancro muito cedo, a Quimioterapia é demolidora. Em vez de melhorar, sentia-me a piorar todos os dias, o meu cabelo começou a ficar fraco e depois começou a cair até ficar completamente careca. Passei muitas noites no hospital mas Diogo esteve sempre lá. Saía do trabalho e ia directamente para o hospital. Trazia rosas vermelhas e chocolates, e todos os dias dizia que me amava. Ao ver toda aquela paixão entre nós, as pessoas aceitaram o nosso namoro. Pensei muitas vezes que era por pena, que as pessoas achavam que poderia morrer e aceitavam a nossa relação. Agora, que tantos meses de luta tinham passado, ele tinha desistido de nós. Um duche rápido, vesti uma camisola de malha, o meu casaco cinzento clássico e umas jeans escuras. Estava na altura de falar com Matilde.

Restaurante da mãe de Matilde, o “Isabelinha”.

-Olá Maria! Como estás?
-Bem Matilde, já te tinha dito isso ao telefone. A tua mãe está lá dentro?
-Sim, e desejosa para te ver. Que fizeste ao cabelo?
-Franja direita, não dá para ver?
-És tão mazinha às vezes!
-Também te adoro. – entrei dentro da cozinha e vi a mãe de Matilde, a Dona Isabel. – Olá Dona Isabel!
-Olá Maria. Querida, como estás?
-Muito bem Dona Isabel, como é que você está?
-Vai-se andando. Maria, o nosso cozinheiro está a fazer uma coisa que adoras.
-O quê Dona Isabel?
-Picanha com ananás.
-Ora traga uma dose para mim!
-Claro minha querida, vai-te sentar mais a Matilde que eu levo lá a comida.
-Obrigada Dona Isabel. – Fui andando para a mesa onde Matilde já estava sentada. – Cúcú! Não sabia que agora se servia comida brasileira aqui!
-É. Sabes que a minha mãe diz que temos que ser inovadores então contratou um Chefe Brasileiro.
-Não gozes comigo! A tua mãe? Ela era super tradicional!
-Pois, mas o antigo chefe pedia um aumento e estamos em tempos de crise.
-Pois, entendo. Vou continuar a estudar, já te tinha dito?
-Não, ainda não tinhas. Tens a certeza que estás pronta?
-Sim, quero acabar o meu curso e já estou farta de estar em casa. Foi quase um ano e meio em casa.
-Maria, cuidado… Podes ter uma recaída.
-Não vou ter.
-Então e o Diogo?
-Décima noite.
-Ainda achas que é do trabalho.
-Queres que eu te diga a verdade? Não. Ele anda-me a trair. – Tentei não chorar mas as lágrimas caiam sem eu querer.
-Meu anjo, tem calma, tudo vai passar. – Fomos interrompidas por Júlia e Carolina, as duas empregadas do restaurante.
-Dona Matilde! Dona Matilde!
-Diz Júlia.
-A mãe da Carolina está no hospital, teve um acidente e a Carolina quer ir para lá mas não tem carro. Que fazemos?
-Ó mulher! Desaparece-me da frente com a Carolina! Vão para lá! Estão dispensadas! As melhoras Carolina e que esteja tudo bem com a tua mãe.
-Muito obrigada Dona Matilde. – Matilde olha para mim com cara de gato do Shrek.
-Ok, já percebi, tenho que servir de empregada de mesa não é?
-Estás bem não estás?
-Óptima, e já não é a primeira vez que isto acontece.
-És a melhor amiga de sempre!

2 comentários:

  1. o capitulo está interessante...agora tens que postar mais capítulos para percebermos melhor a história.continua :)
    Beijinho :D

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  2. Gostei muito ;)
    Agora quero o próximo capítulo!!!

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