quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Doce da casa

-Desculpe, mas fala Maria. Deixaram este telemóvel no restaurante “Isabelinha”, como posso contactar o dono do telemóvel?
“Obrigado, o David vai ficar felicíssimo por não ter perdido o telemóvel. Tenta telefonar ao Rúben”
-Muito obrigada, sabe qual é o nome que pode estar aqui no telemóvel? É que já tentei procurar Ruben e não me aparece nada.
“Tenta Manz”.
-Obrigada mais uma vez.
“Eu é que tenho que agradecer!”
Desliguei o telemóvel. Mas que confusão, liguei para o David na esperança que me atendesse o David Luiz e afinal respondeu-me outro David e este era o telemóvel do David Luiz. Tentar novamente a sorte, procurei Manz e lá apareceu um número. Que coisa mais amaricada, pensava que só as raparigas faziam isto. Liguei outra para o número esperando que agora fosse de vez.
-Sim? Sr. Rúben?
“Sim, sou eu. David! Encontrei o teu telemóvel! Quem fala?”
-É a Maria, do restaurante “Isabelinha”. Deixaram aqui este telemóvel…
“Aleluia! Nós vamos já aí buscar! Muito obrigado!”
-De nada..
-Então? Conta tudo!
-Vêm cá buscar o telemóvel.
-E de quem é o telemóvel?
-Do David Luiz.
-Olha, se calhar…
-Se calhar?
-Sim, já viste? Pode ser o destino.
-Destino?
-Sim, eles vieram cá, ele acaba com a namorada, ele deixa o telemóvel cá, ele volta cá.
-E eles vão-se embora.
-Ou talvez não…
-O que queres dizer com isso?
-Então, logo verás…
-Matilde…
-Maria, vai servir as mesas. Já é tarde e quero fechar isto.
-Ok, eu vou servir as sobremesas aos que restam e tu começas a servir os cafés.
-Óptimo.

Meia hora depois, já perto das três horas no restaurante “Isabelinha”.

-Maria, quero-me ir embora. Quando é que eles vêm?
-Não sei. – o telemóvel tocava, não  o de David mas o meu. – Sim, Diogo? Onde estiveste toda a noite?
-A trabalhar. Onde estás?
-No restaurante da mãe da Matilde.
-E o meu almoço?
-O teu almoço? Tu estás a perguntar pelo teu almoço? Passaste a noite fora e perguntas pelo teu almoço! Só podes estar a gozar comigo! Sabes, acho que isto já passou todos os limites!
-Maria, queres ter esta conversa por telemóvel?
-Tem que ser por telemóvel! Eu já não te vejo! Sou tua escrava pessoal!
-Já falamos. – desligou o telemóvel, agora é que a festa ia começar.
-Não me digas que ele vem aqui!
-Ao que parece, sim.
-É agora! Eu juro que o mato se ele inventa mais uma desculpa.
-Então começa a preparar as facas.
-É já!
-Facas? – dizia uma voz masculina. – é seguro estarmos aqui?
-Ah, são vocês. Sim, ela não vai matar nenhum de vocês. Toma – estendi a minha mão para lhe dar o telemóvel. – está intacto.
-Obrigadão e desculpa toda aquela cena à bocado.
-Não faz mal. Não tiveram culpa é que não aguentei.
-Não, você não teve culpa nenhuma. A Patrícia é que se passou.
-Espero que tenha ficado tudo bem com vocês.
-Pudera…
-Já comeram? – perguntava Matilde, na sua maior inocência.
-Não! E estou cheio de fome! Há possibilidade de arranjarem alguma coisa para nós comermos?
-Claro, vai agora comer por isso, certamente tem comida. Sentem-se naquela mesa, já vos servimos a comida. As mesmas bebidas?
-Sim. Mas… Uma condição, só aceitamos se vocês se sentarem connosco.
-Claro! Não há problema nenhum!
-Matilde! Não, vocês vão comer à vontade. Nós somos apenas empregadas de mesa.
 -Sim, mas se não fosse você já não tinha telemóvel. – dizia David, via-se pela sua cara que não estava nos melhores dias.
-Isso só Deus sabe.
Os dois sentaram-se na mesa enquanto Matilde foi à cozinha pedir a comida, eu fiquei a tratar das bebidas. Conversa vai, conversa vem acabamos mesmo por nos sentar ao lado dos rapazes. O assunto de conversa que primeiro era divertido (sobre o Benfica e o Sporting, só para irritar a Matilde) agora era mais intenso. Matilde tinha orgulho em mim, na minha força e coragem de lutar pelas coisas e neste caso pela própria vida.
-Estão a ver quando as pessoas têm ídolos, que costumam ser famosos e assim? Para mim o meu ídolo é a Maria. Ela é tudo para mim, mesmo quando estava doente e eu terminei a relação com o meu namorado, ela esteve lá para me ajudar. É uma super mulher, enche-me de orgulho.
-Estás-me a deixar envergonhada Matilde.
-É verdade Maria.
-Sim, é a tua opinião mas escusas de falar isso a toda a gente.
-A tua amiga tem razão Maria, a tua força… É incrível. Mesmo doente estavas ajudando outras pessoas. Lindo de se ver. – dizia David.
-Sim, já para não falar que lutaste pelo teu amor. Passaste a ser a minha heroína!
-Pois, aí já não posso apoiar-te Ruben – desabafava Matilde. – Sabes, é que a Maria e o…
-Maria, podemos falar? – Diogo interrompia a conversa – Ah! Era para isto que não estavas em casa? Para estar com dois jogadorzecos de futebol! Ó Maria… Eu trabalho! Eu preciso de comer! Passo noites a trabalhar para nos sustentar!
-Diogo, já chega! Vamos falar para outro sitio. Não tens o direito de falar assim com ninguém, muito menos comigo!
Levantei-me e sai do restaurante, esperei que o Diogo viesse atrás de mim mas nada. Lembrei-me de Matilde, ela ia-me defender e neste momento devia estar a fazê-lo enquanto eu estava cá fora à espera de Diogo. Corri para dentro do restaurante outra vez, e Matilde já berrava com Diogo.
-Tu és mesmo otário não és? Achas que eu acredito nisso? Trabalhar à noite? Tu és rico! Tens a porcaria de um Mercedes e um audi! Achas que eu acredito nisso? A Maria pode acreditar mas eu sei muito bem o que se passa! É com a ordinária da Joana não é? É, não é? Eu já te disse para afastares-te dela!
-Mas o que é que tu sabes da minha vida? Eu faço o que quiser e bem me apetecer! E qual Joana, qual quê!
-Meu! Já me estou a passar contigo!
-Matilde! Já chega! Por amor de Deus! Diogo vamos embora!
David e Ruben seguravam Matilde e eu, ao ver aquela cena que era quase como um pesadelo peguei na mão de Diogo e puxei-o para fora do restaurante.
-Estás parvo?
-Parvo? Eu? Mas eu agora tenho que aturar miúdas?
-Ela é da minha idade!
-Mas não de mentalidade!
-Sabes porque achas isso? Porque ela não acredita nas tuas merdas e eu acredito! Porque eu acordo de manhã para te fazer o almoço, jantar, lavar as calças, passar a ferro, limpar a casa e tu nem um obrigado me dás, nem um beijo. E sabes o que recebo com isto? A tua traição! É lindo não é?
-Maria, para ti tudo é um conto de fadas não é?
-Diogo, nem vás por aí!
-Mas é o que parece Maria!
-Então quer dizer que para ti, os relacionamentos também têm traições?
-Não disse isso, mas é normal que não estejamos sempre bem.
-Diogo, responde-me sinceramente! Olha-me nos olhos! Tu alguma vez me traís-te?
O silêncio instaurou-se, olhei nos olhos dele. A cada segundo que passava ficava cada vez mais desiludida com toda a situação, nos olhos dele não conseguia ver nada. Nada daquele homem doce que conhecia. Vi-a apenas um homem frio e calculista a olhar para mim.
-Sim.
-Com quem? Quantas vezes? – as palavras custaram a sair, as lágrimas apoderavam-se de mim.
-Isso não interessa Maria.
-Com quem?! Quantas vezes! Responde-me! – gritei, explodi de tanta raiva que estava a sentir.
-A Joana, a minha secretária. Foram só algumas vezes..
-Só algumas vezes? Estás a brincar comigo? Para mim uma vez bastava! Sabes, a Matilde tem razão. És um traste. Nunca mais apareças na minha frente.
-Ouve, tu não me vais deixar! Isso seria muito mau para mim! Toda a gente na empresa ia saber, o meu pai despedia-me! – agarrou-me no braço enquanto falava – e quem mais te paga os tratamentos? Ou quê? Achas que essa doença desapareceu para todo o sempre? Tu sabes o que o médico te disse. Há hipóteses…
-Larga-me! Não quero nada de ti! Nada! Se morrer, morri. Mas não vou ser usada por um gajo como tu! Nunca mais me dirijas a palavra na vida.
-Sem mim, morres em um mês por isso, deixar-te de falar durante um mês não será difícil!
-Eu nem acredito que estás a dizer-me isso. Desejas a minha morte?
-Maria, não eras tu que dizias que, tu eras a minha escrava? Que a nossa relação já não estava bem? Achas que eu preciso de ti para alguma coisa? Só me dás despesa, agora cuidado onde te metes Maria! Sabes que a doença ainda está dentro de ti, e vai apoderar-se de ti. Acho que era melhor calares-te e vires comigo para casa, fazeres-me o almoço e preparas-me o jantar e arranjares-me um fato para sair à noite.
-Meu, desaparece, está na altura de você ir para casa. – Com tantas pessoas, David saí do restaurante e empurra Diogo para trás.
-Ó jogadorzeco, quem é que tu pensas que és?
-A sério, vai para casa. Deixa a Maria em paz. Não teve já o que queria? Vai, vai embora. Maria, vem lá para dentro, vem? – David agarrou-me e colocou o seu braço por cima dos meus ombros.
-Meu! Vê lá! A gaja ainda é minha namorada! Larga lá ela ó filho da puta!
-Como é? – David parecia ter só ouvido as três últimas palavras. – Você não chama isso a mim viu? – largou-me e colocou-me atrás das suas costas. – Olha, se não quer que isto acabe mal o melhor é desaparecer! Ouviu?! Ouviu, ou não ouviu?
-Achas que tenho medo de ti?
-David, anda lá para dentro, por favor. Não respondas a ele. Ainda é pior. – Disse-lhe baixo. Não  me parecia que, se isto continuasse assim, acabasse bem.
-Manz, vem lá para dentro! Já chega, vá, vá. – Rúben empurrou David para dentro do restaurante com ajuda do Chefe de cozinha.
-Isto não fica assim Maria! Não fica não!
Todos foram para dentro do restaurante. Ruben empurrou David para um dos sofás que se encontrava lá, Matilde ao ver a minha cara veio-me abraçar. A Dona Isabel (que era uma das mulheres mais estranhas no mundo, ficou viúva quando a filha tinha 2 anos e teve que criar Matilde e o irmão que tinha 5 anos na altura, completamente sozinha. Era uma mulher caridosa mas às vezes parecia muito fria) foi ao frigorifico e trouxe 6 taças de doce da casa, que era mousse de chocolate, com bocadinhos de ananás, e em cima trazia natas e bolacha.
-O que é isto mãe?
-Para adoçar a boca e o momento.
Pura simpatia da dona Isabel mas naquele momento nem 20 quilos de açucar podiam adoçar aquele momento. A tensão que imperava naquela sala fazia com que o doce tivesse um sabor agridoce.

3 comentários:

  1. Li hoje a tua fic e adorei, gostei mt da historia... Espero que desta vez leves a fic até ao fim, pois tive imensa pena que nao o fizesses na outra... continua

    bjs

    Clara

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  2. AII ADORO +.+
    Já tinha saudades da tua escrita *.*

    beijinhos querida*

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