Cartas de Tarot

Toda a gente estava sentada nos sofás a comer o doce da casa. Ninguém falava e eu já nem conseguia chorar. Sentia-me enganada. Ao que parece, nunca conhecemos realmente a pessoa com quem nós dormimos.
-Bem… O doce era uma delícia! – Disse Matilde, tentado salvar o ambiente mas sabia que Matilde estava por explodir.
-Vá, Matilde, rebenta lá…
-O teu namorado é um otário. Estúpido pá! Como é que ele pode fazer aquilo a ti? Depois de tudo? Como?! Se não fosse o David… Aí, era bonito era…
-Tenho que concordar, o seu namorado é um otário. – disse David.
-Namorado? Não, aquilo não é o meu namorado. Eu não tenho namorado. Aquilo era o meu ex-namorado.
-Que idiota. Como pode dizer aquilo a você?
-Deixa estar que a tua namoradita também não é muito diferente… - dizia Rúben num desabafo.
-Sabe uma coisa Ruben? Esses dois ficavam bem um para o outro, à menina fútil e o otário. Ao menos só se estragava uma casa.
A forma como David tinha dito aquilo fez com que houvesse um riso geral em toda a sala.
-Maria, você está bem?
-Sabem que mais? Estou. Sinto-me livre e verdadeiramente feliz em duas semanas. Passei duas semanas a lamentar-me e a chorar por aquele homem que acabei por chegar à conclusão que não conheço. 3 anos! Não é brincadeira!
-Sabes o que não é brincadeira? – perguntava Matilde.
-O quê?
-É como vais buscar as tuas roupas à casa daquele monstro!
-Ah, com isso não há problema não! Eu vou lá com você!
-Não! Obrigada, mas… é melhor não. Agradeço tudo o que fizeram a sério mas…
-Mas?
-Vocês não passam de duas pessoas que vieram comer ao restaurante da mãe da minha melhor amiga e aos quais eu tive muito gosto de servir.
-Ou se calhar foi o destino… - suspirava Matilde.
-Estás calada?
-Desculpa.
-Então, e se quisermos ficar vocês amigos, quantas vezes mais teremos que vir aqui?
-Por mim, já somos amigos!
-Matilde! Não é uma questão de virem muitas vezes ou poucas mas de…
-Mas de?
-Mas de amizade…
-Não entendo. – dizia David. Matilde olhava para mim com os olhos arregalados.
-Ouve lá, estás bem?
-Nem eu me entendo. Acho que preciso de dormir.
-Bem, sendo assim nós vamos andando, não é David?
-Sim Manz. Maria, você tem a certeza que está bem? – David veio para perto de mim  e olhou-me nos olhos, reparei nos olhos meigos dele cor de mel.
-Estou David, muito obrigada.
-Então… Até um dia né?
-Sim, parece que sim…
Despedimo-nos rapidamente e Matilde levou-os à porta do restaurante.  Matilde voltou para meu lado, visivelmente irritada.
-Passaste-te?
-Hã?
-Já viste como respondeste ao rapaz?
-Que tem?
-És loira?
-Sim, um bocado.
-Não, não és um bocado. És muito!
-Que foi agora?
-Arruinaste tudo!
-Mas o quê?
-O David, o rapaz estava afim.
-Matilde, não inventes. Já chega! Estou completamente esgotada. Tudo isto deixou-me de rastos. Preciso de dormir.
Matilde a correr para o balcão e trouxe de lá um conjunto de cartas. Quando os amigos são normais, pensamos que as cartas poderão ser do UNO ou das cartas normais mas, quando se é amigo da Matilde já se sabe que tipo de cartas são aquelas. Cartas “de ler o futuro” como ela dizia.
-Separa as cartas ao meio e tira três cartas.
-Matilde…
-Vá, faz o que eu te digo e pronto!
Fiz o que ela disse, se não nunca mais se calava. Ela virou as cartas que escolhi. Morte, amantes e a papisa.
-O que querem dizer, vá… Vou morrer?
-Não idiota! A carta da morte significa que algo na tua vida vai terminar. Amantes significa o amor, um casal. A Papisa é uma figura maternal.
-Uau, vez como as tuas cartas não dão uma para a caixa?
-Olha que dão, a carta morte significa que a tua relação com o Diogo acabou, amantes é a relação com o David e Papisa… Ó meu Deus! Vais ficar grávida dele!
-Vê só o filme que estás a fazer…
-Tão lindo! Posso ser a Madrinha do bebé?
-Matilde! CHEGA! Estou farta! Podes levar-me a casa? Quero ir buscar as coisas.
-Vais dormir onde? – disse com uma voz baixa e serena.
-Nem que seja na rua!
-Ok, vens dormir para minha casa.
-Não te importas?
-Estás a brincar? Será um prazer!