A jarra, o LCD e a minha roupa

Entrei em casa, luzes apagadas, tudo apagado. Ao que parece, Diogo não estava em casa.
-O horroroso não está em casa?
-Não, ainda bem. – respondi à Matilde. – não faças barulho ouviste?
-Porquê? Os teus vizinhos devem ser iguais ao teu namorado. Idiotas!
-Pshiú!
-Que foi? Aí… Nem sei como consegues ser assim.
-Vamos entrar, pegar nas minhas coisas e sair ok?
-Ok chefe!
Entramos dentro de casa e mal fechei a porta Matilde pôs-se a olhar para a jarra que tinha em cima do móvel de entrada.
-Uí, é gira a jarra não é? Já está na família do Diogo há 3 gerações.
-3 não é? – Matilde agarra na jarra e num simples movimento deixa a jarra cair no chão. O estrondo fez-se ouvir em todo o apartamento e neste momento já não havia jarra mas sim cacos espalhados pelo hall.
-O que é que tu fizeste!
-Foi um acidente!
-Acidente? Estás doida?
-Maria! Ele traiu-te! Isso diz-te alguma coisa?
-Sim Matilde, mas por outro lado ele esteve ao meu lado durante 3 anos muito difíceis da minha vida.
-Blábláblá, nem que estivesse estado contigo uma vida inteira.
-Vem, vamos buscar as coisas e vamos embora! Rápido!
Fomos ao quarto e arrumamos tudo dentro da grande mala de viagens que nós tínhamos. Até me lembro a razão para nós termos comprado aquela mala. “No Natal de 2010 vamos ao Brasil”. Aí não vamos… Afinal Matilde tinha razão, partir uma jarra que está na sua família à 10 anos não faz nem um décimo da dor que senti quando soube que estava a ser enganada. Fechamos a mala e fomos embora mas antes olhei para o LCD, o novo LCD do Diogo. Grande, finíssimo e caríssimo. Ultimamente até o LCD tinha obtido mais carinho do que eu, mas não iria ser assim, o Diogo não iria ficar a rir-se de mim. Voltei para a cozinha e enchi um copo de água.
-Maria, o que estás a fazer?
-Sabes o que vale mais para o Diogo do que uma jarra?
-O quê?
-A porcaria da televisão e da sport tv onde ele vê o seu Sporting!
Deitei aos poucos água em cima da televisão, esperei que a água entrasse entro da tv e depois fiz o toque final, liguei a televisão. Ouviu-se uns estalos, como se fosse um grande curto circuito e depois nada, tudo se calou e a televisão só dava uma cor, preto.
-Aí, tinhas razão, o gajo traiu-me!
-Aqui está a minha Maria! Irreverente! É assim que eu gosto de ti!
-Sim, mas agora vamos embora antes que alguém venha.

Casa da Matilde, 2 da manhã.

Não conseguia dormir. Na minha cabeça só pensava em Diogo, Diogo e mais Diogo. Porquê? Porque era o homem que eu amava e que agora sabia que não existia, que o Diogo que conhecia, era apenas uma invenção. Levantei-me da cama, estava farta de estar deitada e não dormir. Fui até à varanda e lembrei-me que Matilde fumava e sabia muito bem onde guarda os cigarros.
-Sabes, nunca fui pessoa de fumar… Não é vida para mim mas dizem que fumar alivia o stress. Bem, e o que não mata, engorda.
-Então porque vais fumar?
-Zeca, acordei-te? – Zeca era o primo do norte de Matilde. Os dois dividiam a casa. Zeca queria tirar o curso em Lisboa e Matilde queria sair de casa da mãe e pronto, juntaram dinheiro e eis o belo resultado, T2 em Lisboa. Nada mal…
-Sim, tenho sono leve. Se não fumas, porque vais fumar?
-Não sei bem. Essa coisa alivia não é?
-Se queres saber, não sei. Nunca fumei na minha vida.
-Nunca?
-Nunca. Nunca meti um cigarro à boca.
-És o meu herói.
-Então, o dia correu mal?
-Mal? Terminei com o meu namorado de longa data, descobri que estava a ser traída, conheci 2 jogadores do Benfica e ainda tive que aturar as tretas da tua prima.
-Uí, que dia.
-Mesmo não é? Quando acontece, acontece tudo de uma vez. Na minha vida é assim.
-Ao menos acontece, não é?
-Sim, ao menos acontece.
-Então e “as tretas da minha prima” porquê?
-Andou a fazer casalinhos.
-Já?
-Sim… Sabes como ela é.
-Por isso mesmo, sabes que ela nunca se engana.
-Sim, sei. Deus gosta mesmo de me irritar, deve ser o passatempo favorito dele e depois mete a tua prima sempre ao barulho.
-Sabes como é, ela sempre teve sorte.
-Lembras-te quando éramos miúdos e íamos comprar as raspadinhas e ela ganhava sempre alguma coisa e a nós era…
-“tente outra vez”. – Soltamos uma risada, baixa para Matilde não ouvir. – Grandes verões, sem dúvida.
-Mesmo, a nossa inocência nesse idade…
-Lembras-te quando fizemos a nossa jura?
-Qual jura?
-“Nós, José Carlos Silva, Matilde Botas e Maria Duarte nunca nós iremos separar. Seremos irmãos para sempre”.
-Não era para sempre Zeca, era para todo o sempre.
-Sempre te lembras.
-Claro que sim, houve alguém que se lembrou que a jura tinha ser de sangue e nós tivemos que nos cortar, ou não te lembras disso Zeca?
-Era miúdo.
-Eu também! Mas sim, foram belos tempos. Onde está o botão para voltar atrás?
-Acho que não existe. Agora é só para a frente…
-Azar o meu…
-Então, mas conta aí, quem eram os jogadores do Benfica?
-David Luiz e Ruben Amorim.
-E com quem é que a minha prima te estava a casar?
-David Luiz.
-Uí… É mesmo da Matilde. Casalinho perfeito.
-Ah-ah. Tu também? Estou bem lixada com vocês!
-Maria, tenho que te confessar um coisa?
-O quê?
-Estou a ficar sem dinheiro e provavelmente vou ter que fazer uma paragem no estudo para ir trabalhar.
-O quê? Estás parvo? Então e a banda?
-O “Jonh”, nosso vocalista disse que estava na altura de partir para uma nova aventura. A banda acabou.
-Então? E que tal fazerem casting’s?
-Fizemos… Mas… A malta em Portugal canta bem mal!
-Mas não podes parar os estudos.
-Tem que ser…
-Talvez até tenha a solução para o teu problema…
-Então?
-Vocalista certo? Lembras-te de quando em miúdos eu passava a vida a dizer que, quando fosse grande queria ser cantora?
-E se não me lembro!
-Então! Aqui estou eu! Vocalista da banda…
-Love it’s like a drug
-Love it’s like a drug! Epá, isso é um nome muito grande!
-O vocalista escolheu este nome.
-Aí é? Então a partir de agora nós somos os…