quinta-feira, 16 de junho de 2011

Parabéns! - Parte I


-Bom dia, Maria.
-Bom dia mãe.
-Sabes que dia é hoje?
-É o dia em que estou um ano mais velha…
-Pois minha filha, parabéns! Como as coisas são… Há uns anos eras tão pequenina, tão reguila. Andavas só a brincar pela casa mais o teu irmão e agora… A tua mão já é maior do que a minha.
-Mãe, não vais começar a chorar pois não?
-Não, é claro que não!
-Ah, ainda bem… Eu tenho que me despachar, tratar dos papéis da casa.
-Mas vens comer cá a casa?
-Não sei mãe. Mas hoje à noite há jantar fora, quero festejar bem os meus anos.
-Então, filha, e o bolo?
-Eu compro, não te preocupes. Relaxa mãe, é só um jantar.

Vinte e nove anos, apercebi-me que estava a ficar realmente velha. O meu telemóvel não parava. Mensagens escritas em inglês, em português e já tinha recebido uma em francês à qual não entendi nada.
Tentava não me lembrar do que se tinha passado ontem, mas não dava. A imagem de David entrava nos meus pensamentos sem pedir licença.

**

Tinha escolhido um restaurante perto da nossa zona, a “Isabelinha” tinha fechado e a casa, vendida. O negócio estava cada vez pior segundo a mãe de Matilde e preferia vender e ficar com algum dinheiro do que criar dívidas.
-Maria! Parabéns! Estás tão linda! – Estava vestida com um simples vestido cor de salmão. Era o meu aniversário, nada demais. 

-Obrigada Matilde. Como estás Rúben? Há tanto tempo que não te via.
-Estou óptimo, como não haveria de estar. – dizia ao mesmo tempo que abraçava Matilde. - Digo-te o mesmo! Como vais?
-Tudo perfeito, cada vez mais velha mas pronto…
-Não digas isso que eu sou dois anos mais velho que tu!
-Trinta e um, não é?
-Daqui a uns mesinhos, mas ainda é trinta!
-Vê lá é se te casas, já está na altura não achas Rúben?
-Diz isso à tua amiga. Este feitio é complicado… “Casar? Então e isso implicaria experimentar vários vestidos de noiva? Convidar montes de pessoas? Passar um dia cheia de dores de pés?”. – Rúben tentava imitar a voz de Matilde e as suas queixas persistentes. Não é que Matilde não pensasse em casar mas também não pensava em fazê-lo tão cedo. – Mas um dia vou conseguir demove-la.
-Acho que já estiveste mais longe. – Sai perto do casal maravilha e fui ter com Vera e o seu namorado (não me perguntem como é possível). Ela mais uma vez estava maravilhosa. Vestido sem alças branca e uma pochete clássica preta. Simples, mas elegante.
-Sempre linda de morrer. Acho que te saiu a sorte grande. – disse ao rapaz. Ele era lindo, um metro e oitenta à vontade, cabelo encaracolado e preto. Os olhos dele notavam-se ao longe por serem claros e pela sua pele ser morena.
-Tu sabes como é, eu sou a femme fatale.
-Completamente. – Embora Deus tenha dotado o rapaz com boniteza não o tinha dotado com uma qualidade que Vera adorava, inteligência. Percebi que aquilo não era um namoro dito “normal” mas sabia que nem valia a pena perder tempo com perguntas. Vera não era uma pessoa normal.
O meu pai estava reunido com a família num canto da sala a falar com a Dona Isabel e a Dona Ana (mãe do Rúben). Impressionante como elas se tinham dado tão bem, logo desde do inicio. Depois de falar a toda a gente, sentamo-nos todos à volta de uma mesa não me grande.
-Isto ao menos correu bem para teu lado, nunca pensei estar a comer neste restaurante com um grupo tão grande! Melhor, nunca pensei estar a comer neste restaurante! – disse Tiago, sempre na galhofa. A primeira coisa que pensei foi mesmo “O dinheiro não trás felicidade”. Acabei por reflectir no que ia dizer.
-Com algum esforço tudo se consegue.
-Então, mas conta aqui à gente como foi a vida em Cleveland… - Perguntava Rúben. A verdade é que nunca falei muito disso, nem mesmo à Matilde. Apenas dizia que era gestora de uma grande empresa e que a vida estava a correr bem.
-A vida em Cleveland é muito diferente daqui. Eu acordava às cinco da manhã para ir correr, às sete saia de casa para ir trabalhar e as três estava despachada.
-Ora isso é que é vida maninha! Tempo para ir correr, sair às três…
-Sim, mas lá a vida é diferente. Raramente almoçava. Comia sempre o dito brunch americano que é uma junção do pequeno-almoço com o almoço e jantava sempre as cinco da tarde, logo é diferente.
-Então mas trabalhavas onde?
-Cleveland Cavaliers. – Um súbito “Hã” invadiu aquela mesa de jantar.
-Filha, o pai não vê muito disso mas… Não é uma equipa de Basquetebol Norte Americano da Liga Norte América de Basquetebol? – Achei graça à maneira como o meu pai colocou todas as palavrinhas para descrever o meu local de trabalho.
-Sim pai, é isso mesmo.
-Ok, estou espantado maninha. Estou espantado.

**
No final do jantar e depois de uma longa conversa sobre a minha vida em Cleveland, a minha família despediu-se ficando só no grupo os mais novos. Prometi a Tiago que lhe arranjava uma camisola do Lebron James, que tinha voltado a Cleveland. Já Rúben queria uma camisola dos Celtics. "Não me importo de quem seja. Desde que tenha as assinaturas e a camisola, tudo bem!"
-Bem, e onde vamos sair?!
-Sair?
-Querida amiga, aproveita agora porque os próximos anos vão ser complicados. A época dos “30” não é fácil.
Nunca tinha entendido a diferença. Uma pessoa que tem 29 anos não é muito mais nova que uma pessoa que tem 30. Para quê tanto alarido? Talvez quando chegasse lá entendesse. Matilde continuava a discutir com Tiago sobre o sitio a ir enquanto Vera despedia-se de mim.
-Tem cuidado com o que fazes e com aquilo que contas. – Vera sabia bastante bem como era a minha vida em Cleveland. Parecidíssima com o que tinha contado mas à noite as companhias não era de gestores ou algo do género. Preferia jogadores de basquete.
-Ainda confio neles mas não tenho muito para contar.
Vera despediu-se enquanto o namorado olhava para nós confuso. Ou era burrinho de todo ou então nós conseguíamos falar muito bem em código.
-Então, vamos para onde afinal?
-Bairro Alto! – Gritaram os dois em conjunto.
-Então mas se vocês estão os dois de acordo porque raio é que ainda estão a discutir?
-Pergunta ao teu irmão!
-Pergunta à tua amiga!
-A burra sou eu, por ainda fazer esta pergunta idiota.
-Maria, eles foram sempre assim?
-Desde que aprenderam a falar… - Disse ao Rúben que se ria disfarçadamente.
         Acabamos por ir ao bairro alto e ficar num bar ao qual íamos em miúdos. Já sentia tantas saudades, fez-me recordar a minha juventude passada com o meu irmão e Matilde. Sempre foram os meus melhores amigos e mais que nunca sabia que nunca o iriam deixar de ser. Mas naquele momento o que eu não sabia é que outro grande amigo meu também estava a fazer das suas…

“Ela continua a mesma de sempre”

Rúben tinha passado a noite toda a mandar mensagens a David, a contar-lhe como tinha sido a minha vida em Cleveland, se mudei de atitudes… Sucintamente se estava uma mulher diferente. Uma mulher diferente àquela que David se tinha apaixonado.

“Não, ela está diferente. Ela não é a mesma pessoa. Não a reconheci quando estive com ela. Havia uma Maria diferente ali!”

“Vais-me dizer que sabes mais do que eu? Meu, ela está aqui à minha frente. A única coisa que mudou nela sabes o que foi? A idade! Ela continua a mesma só por dizer que coloca uma máscara para enfrentar os papões. Acredita, a Maria é a mesma de sempre. Frágil, bonita, inteligente… Mas desta vez, ela tem poder em certas decisões. De certa maneira está frágil e forte ao mesmo tempo.”

“Eu vi-a, eu olhei-a nos olhos meu irmão… Aquela não era a Maria. Mas eu não tenho culpa, nós seguimos em frente com as nossas vidas. Ela decidiu a carreira profissional e eu tive que encontrar outro alguém. Uma coisa é certa, ela já não me ama e eu o mesmo… Acabou. Foi o único «para sempre» na nossa relação”

“Queres que te conte uma coisa? É mentira todas as palavras que dizes. Tu ainda amas a Maria, mais do que tu pensas. Ela foi, é e será o amor da tua vida tal como tu és o dela.
Ela ontem, depois de ter assinado os papéis do teu regresso foi para a Caparica mas fez tudo menos divertir-se e apanhar banhos de sol.
Mano, vou ver se me divirto um pouco. Acredita em mim, ela não mudou.”

-Vá lá Rúben, sai desse sofá! Anda lá dançar!! Só se faz vinte e nove anos uma vez na vida!
-Maria, estás um pouco bêbeda, não estas?
-Um pouco? Não… Um bocado grande, talvez!
-O que andaste a beber?
-Então, tens que contar, está bem? – Rúben acenou com a cabeça. – Dois safari-cola, um gold strike, dois moscatéis e uma vodka redbull.
-Muito bem menina Maria, tu estás oficialmente bêbeda!
-Não tenho culpa. Sabes, aquele moreno que está ao balcão? Conheci-o quando tinha dezasseis anos. Ele naquela altura era lindo! Tinha dezoito anos! Nós namorávamos assim às escondidas porque… Porque sei lá! Éramos miúdos e não tínhamos nada na cabeça mas depois ele foi estudar para Aveiro… Agora reencontramo-nos e ele disse-me “Maria, tu fazes anos não é?”. Eu claro que fiquei toda contente por ele ainda se lembrar e disse-lhe que sim. Desde aí ele tem me oferecido as bebidas.
-Tens a noção que ele quer levar-te para a cama, não tens?
-Só se for para a dele porque neste momento não tenho casa!
-Tu não estás nada bem.
-Estou sim. Só preciso de uma bifana.
-Onde anda a Matilde?
-Foi buscar as bifanas.
-As bifanas? Eu não acredito… - Nesse momento, Matilde chega com um prato cheio de bifanas.
-Ora aqui estão elas. Tu vais comer duas!
-As que quiseres Mattie. Já tinha saudades das nossas saídas.
-E eu já tinha saudades das tuas bebedeiras. Onde anda o teu irmão?
-Ele foi-se embora. A Beatriz estava-se a sentir um pouco mal disposta. – respondeu Rúben.
-Ó que fofo! Estou a fazer de vela. – Embora estivesse bêbeda, recordava-me sempre do que fazia. Era como se fosse uma bêbeda ciente do que fazia.
-Matilde?! Matilde, ó meu Deus!
-Joana!! – Matilde encontrava pela segunda vez na noite uma amiga da faculdade. – Eu já venho, tenho mesmo que ir ali. Toma conta dela!
-Claro amor. – Eu continuava a encher a minha bifana cheia de mostarda. Rúben ria-se das minhas figuras. – Vais comer isso?
-Assim? Não. Passa-me a maionese e já agora o Ketchup. – E Rúben assim o fez, com uma cara um pouco enjoada. Senti um flash sobre mim. – Hey! – disse de boca cheia. Rúben tinha acabado de tirar uma foto das minhas pobres figuras.
-Amanhã vais-te rir disto.
-Não… Amanhã vou ter que queimar isto. Tantas calorias… O meu colesterol vai subir!
-És uma besta pá.
-Deixa estar, todos nós necessitamos destes momentos.
-Que momentos Maria? Tu tens noção do que fizeste?
Sabia o que me esperava agora. Chegara o momento de ter uma conversa sobre o meu passado, de enfrentar os meus medos e de desabafar um vez por todas, talvez com a mais inesperada das pessoas.

10 comentários:

  1. A Maria foi afogar as mágoas e agora o Ruben vai ser um qerido e ter uma conversa a sério com ela :p e tambem acho qe o David anda a mentir aos outros e a ele!
    Continua porque está excelente :D
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Ora aí está mais um capitulo que eu simplesmente adorei, adorei! :D
    O David a ver se abre os olhinhos e deixa de ser casmurro, ele gosta da Maria e pronto! :b
    Ahah o Rúben é que a sabe toda, depois de aguentar com a bebedeira dela, prepara-se agora para lhe um bom "bate papo" :D
    Muito bom!!
    Vou esperar por mais!

    Beijinhos, minha querida*
    Júca ^^

    ResponderEliminar
  3. adorei...

    quero mais... agora tou curiosa para ver o proximo capitulo...

    continua...

    ResponderEliminar
  4. Humm o Ruben sabe muito bem o que faz .. :) Agora vai, digamos que, aproveitar o estado da Maria, para saber algumas coisinhas .. :)
    Muito bom, quero mais .. :)
    Bjnho

    ResponderEliminar
  5. Muito bem!
    Estou a gostar muito do rumo da história, mas estou cheia de curiosidade e queria matá-la ainda antes de ir embora e ficar ausente um mês... lol
    Posta rápido, por favor!
    Beijinhos!

    ResponderEliminar
  6. Está maravilhoso como sempre, mal posso esperar para ver estes dois juntos de novo!
    Espero que o David caia em si e admita o que é óbvio aos olhos de qualquer um!
    Fico á espera do próximo! :)
    Beijinhos ^^

    ResponderEliminar
  7. As pessoas quando estão bebadas só dizem a verdade :p
    Beijinhos*

    ResponderEliminar
  8. adorei a volta k deste a história, ficou fantástica e mt mais entusiasmante... já havia algum tempo k ñ lia a tua fic e fiquei surpreendida. está mt boa mesmo!!!

    ñ leves mt tempo a postar novos cap, pois estou morta de curiosidade para saber o que aí vem...

    continua...:)

    bjs*
    daniela

    ResponderEliminar
  9. Ai que burra, eu fiz alta confusao com a contratação do David e tu não me disses.te NADA??!! -.-

    Ruben, rapaz esperto ahn, só espero que a Maria e o David voltem rapidinho *.*

    ResponderEliminar
  10. Gostei do teu espaço!!!

    Aproveito para deixar o endereço do meu blog http://viagemsemretorno.blogspot.com/

    ResponderEliminar