sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chuva...



-Olá… David.
-Maria… Você está bem?
Há minha frente estava David, o homem mais perfeito que eu alguma vez já tinha conhecido, o homem que eu amava. Aquele olhar meigo, os lábios rosa, as olheiras que ele costumava ter, os caracóis loiros. Continuava tudo igual, tudo como eu costumava ver todos os dias. Fiquei um pouco sem reacção ao vê-lo e acho que ele também. Ficamos ali apenas a olhar um para o outro. Sabia que ainda o amava mas também sabia que ele era feliz, com outra. A voz de Matilde e Rúben ao telemóvel fez-me despertar.
-Estou óptima. Desculpa, estava cheia de pressa. - conseguia-se ouvir as vozes de Matilde e Rúben que vinham do meu telemóvel - É a Matilde e o Rúben, sabes como é... – Voltei a colocar o telemóvel ao ouvido. Ele continuava à minha frente.
“Isso é a voz do David pá! Que se passa aí? Hey!!”. Conseguia ouvir a voz de Rúben aos berros no telemóvel.
-Rúben, Matilde, eu já vos ligo. Até já. – desliguei o telemóvel. Fiquei a olhar para ele. Por mais que quisesse não conseguia desligar o meu olhar do dele, o momento era tão intenso. – Então, voltaste…
-Sim, voltei. Sentia falta do Benfica, é o meu clube e eu estou muito agradecido por tudo aquilo que me deram aqui… Você sabe.
-Sei, claro que sei. Bem, eu tenho que voltar a trabalhar.
-Claro, claro. Eu tenho que ir falar com o Sr. Henrique.
-Então, adeus…
-Adeus, Maria. – voltei ao meu caminho e senti o telemóvel a tremer. David permanecia no mesmo sitio.
-Sim?
“O eu se passou aí?” – Percebi pelo som que o telemóvel dava, que estava em altifalante.
-Fui contra o David, tivemos uma conversa estúpida e cada um voltou ao seu caminho.
“Fogo e não o convidaste para tomar um café?”
-Rúben, ele tem namorada e…
“Amigos não existem? Eu já fui tomar cafés contigo antes! Não quer dizer que nós tivéssemos um caso! Maria Duarte volta atrás e convida-o para sair”
“O Rúben tem razão, é um café! Não vai acontecer nada de mal. Convida-o Maria!”
-Não vou nada fazer isso.
Maria, já!” – Rúben estava irritado até e percebia que não iria parar de me chatear até eu convidar o David para um café.
-David? – Para ser sincera, até eu queria estar com o David. Ele virou-se e olhou para mim, enquanto eu encaminhava-me para perto dele. – Tu… Ah… Queres ir tomar um café? Não sei, agora, depois, ou quando poderes. Se calhar até não queres não é? Pois também pensei que podias não querer, é melhor…
-Sim. Daqui a quinze minutos, pode ser? – David sorriu-me, era como se o meu dia tivesse iluminado o meu dia.
-Claro, eu estou lá em baixo à tua espera então. – Voltei as costas e coloquei o telemóvel outra vez no ouvido. – Rúben Amorim, Matilde dos Santos, ele aceitou. Ó meu Deus, o que vou fazer!! O que fui fazer!
 “Ele aceitou? Eu disse!! Eu disse!” – Do outro lada da linha, Matilde e Rúben festejavam.
-Rúben… Eu não…
“Tu vais tomar um café com ele. Tens que ficar pelo menos amiga dele, explicar-lhe tudo e pedir-lhe desculpas.”
-Mas…
“Mas nada! É melhor ter a amizade dele do eu nada, não achas?”
“O Rúben tem razão… Faz isso, pelo menos pela vossa amizade.”
-E é tudo o que eu quero dele. Vou desligar, tenho que ir andado.
Boa sorte, Maria!” – Ambos torciam que a saída com David desse bem.
         Mentalizei-me. Era só um café entre amigos, nada mais. Perdi-me em pensamentos que torturavam a minha cabeça. Tinha tomado aquela decisão impulsivamente, não a queria tomar. Sabia que naqueles minutos em que estaríamos à conversa, eu ia sentir uma angústia constante. Um aperto no coração tão grande, capaz de me deixar sem reacção, sem palavras. Senti um toque no ombro, virei-me para trás e lá estava ele.
-David, se tu não quiseres…
-Vamos tomar o café ou não? Você paga! – Arrepiei-me com as palavras de David. Eram falsas, não tinham sentimento algum e sabia que ele estava pronto para me julgar.
-Claro.
Pedi-lhe para irmos a um sitio tranquilo, foi então que David se lembrou dos “Carvalhos”, um café perto da antiga casa dele onde íamos tomar o pequeno-almoço várias vezes.
-Maria e David, juntos de novo! Sempre disse que era para casamento! – Disso o senhor José, dono do estabelecimento. Eu corei, cabisbaixa e com os olhos vermelhos, quase a chorar. “juntos de novo”, ouvi as palavras que quase me destruíram por dentro.
-Não senhor José, nada disso. Amigos apenas. Não deu certo, somos pessoas diferentes mas bons amigos.
-Ah, claro rapaz. Então o que vão querer?
-Para mim um sumo de laranja e um mil-folhas. E você Maria, que vai querer? – Recompus-me e olhei para cima com um sorriso na cara.
-Um café com adoçante, se faz favor. – David olhou para mim e sorriu para o lado. Sentia algum cinismo da parte dele. Agarramos nas nossas coisas e sentamo-nos numa mesa refugiada a um canto. Permanecemos calados, enquanto eu bebia o meu café e David se deliciava com um mil-folhas. Mas por pouco tempo.
-Estás mais magra.
-Não estou.
-Agora só bebe café. Vai-me dizer que também fuma?
-Viste aqui para me julgar?
-Então sempre fuma.
-É claro que não! Quem é que pensas que sou!?
-Não sei, não a conheço. Nunca a conheci.
-Como podes dizer isso? – Não senti nada, não sei porquê. Não senti dor, não senti raiva, nada. – Eu não tenho que ouvir isto. – Levantei-me da minha cadeira e preparava-me para sair até que David fez a pergunta. A pergunta que não queria explicar.
-Porque é que você se foi embora? Porque me deixou?
Respirei, virei-me para trás e voltei a sentar-me no mesmo lugar onde estava constantemente a ser julgada. Porquê? Porque amava aquele homem e queria passar com ele todos os segundos que pudesse. Não o queria esquecer, sabia que tinha de explicar a razão que se sobrepôs ao nosso amor.
-Porque precisava de viver David, sentir-me viva. Precisava de ter poder. Não queria ser a namorada do David. Queria ser a Maria Duarte. Eu tinha que ir…
-É essa a sua explicação? Rescindiu de mim, do nosso amor, por causa de poder?
-Sim David, foi essa a razão. – Tentava fazer-me de forte mas ao mesmo tempo que o fazia, os pensamentos que me ocorriam pertenciam a David. Quando o seu toque era meu, os seus lábios tocavam nos meus e quando nos transformávamos num só. – Não quis perder o meu sonho. – Fiz uma leve pausa, queria explicar-lhe tudo de forma esclarecedora e calma. – Era muita pressão, David. Tu tinhas um sonho David, ser jogador de futebol. Agora, imagina que algo te impedia de o concretizar? O que fazias?
-Lutava! Foi isso que eu fiz!
-Mas no meu caso é diferente! Eu não sou como tu! Sou mais fraca, mais …
-Não! Não é! Você é forte, corajosa… Foi por isso que eu me apaixonei por você!
-Eu sei mas… Eu desisti! Eu desisti de ti, de mim e principalmente de nós. Eu não queria, porque eu amava-te. Eu amava-te tanto David… E no final desisti. Pensei que não pudesse ter as duas coisas e acabei por desistir daquela que me deixava mais feliz. Desculpa… Eu sei que nunca me vais perdoar mas…
-Pensei que desse um pouco de luta, sabe? Que agora, quando nos encontramos outra vez, que você viesse para lutar, para ficarmos juntos, para… Para constituirmos família. Mas tudo o que você me diz é “Me desculpe, eu te amava”. E agora não? Não?!
-É óbvio que eu continuo a amar-te, eu amo-te. És a pessoa que mais amo no mundo.
-Perdeste-me. – Senti uma revolta dentro de mim, já sabia o que ia acontecer. Ia ser radical.
-O que posso fazer para te ter de volta David? Diz-me! O que posso fazer?
Ficamos ambos em silêncio. David não olhava nos meus olhos e eu, tentava acalmar-me apertando as mãos. Finalmente, David levantou-se.
-Eu vou ser pai. Ela está grávida. Não há nada o que possas fazer.
E foi-se embora. Assim mesmo, sem dizer mais uma palavra. Fiquei estática, as mãos já não se mexiam e sem querer, senti uma lágrima a escorrer-me pela cara. Não sabia o que se passava naquele momento. Parecia uma espécie de transe que estava envolvida. Não me mexia, nem conseguia. As lágrimas caiam e inspirava o ar de forma violenta e irregular. Quando a última imagem cercou a minha cabeça, respirei mais uma vez, desta vez bem forte e esperei que alguém me tirasse a vida, me tirasse o poder, o sucesso, o dinheiro. Mas nada. Afinal, já não tinha vida. David, esse homem que um dia tinha entregado o meu coração, levou-o. Já não era ninguém. Apenas mais um corpo humano no mundo, como tantos que havia. Não tinha objectivo de vida, não tinha amor, não tinha sentimentos.
Sai do café, olhei para o meu carro novo, o que me valia? O que me valia um carro novo, se não tinha ninguém para transportar? Se nem o GPS naquele momento me conseguia guiar? Fui a pé para casa, era perto. Naquele momento, perto ou longe nada me importava. 
Estava a ficar tarde, ainda não tinha almoçado. Só tinha um café no estômago. Na verdade, já tinha estado em casa mas não tive coragem para entrar. Voltei a dar uma volta, entrei no metro e estava na Baixa. Por incrível que parecesse, o dia que tinha começado radiante, estava agora enublado. Um vento aparecia e tornava o meu cabelo rebelde, mas também não queria saber, nada me importava. Andava pelas ruas de Lisboa com os phones nos ouvidos, tentando parecer normal. Rúben, Matilde e Tiago já me tinham ligado mas tinha sempre ignorado as chamadas. Pensei que não pudesse piorar, mas piorou. Em pleno Junho, começou a chover em Lisboa mas aconteceu algo extraordinário. Pela primeira vez, senti-me bem. Estava no Terreiro do Paço, olhei para cima e senti a chuva a cair. Primeiro eram poucas pingas mas passado pouco tempo, uma valente carga de água caiu sobre mim. Era como se leva-se as minhas mágoas consigo.
-És doida? Sai da chuva!
Ele agarrou-me e levou-me para baixo do arco da Rua Augusta.
-Por favor, larga-me. Queres dinheiro? Leva tudo. Telemóvel, carteira… Tudo. – Voltei para a chuva mas ele insistia. Queria-me ali. – Larga-me! Estas-me a magoar. O que queres de mim?!
-Moça! Fica aqui! Tem calma!
Olhei para ele. Tinha um sorriso perfeito.
-Quem és tu?
-Eu sou o Pedro. E tu?-Eu o quê?-O teu nome.
-Maria.
-Maria, por favor, podes sair da chuva?
-O que queres de mim?
-Quero-te aqui.





Peço desculpa pela demora. Este capítulo estava a demorar. Espero que gostem :)

9 comentários:

  1. Adorei!Como vou ter saudades desta fic durante um mês...
    Continua...
    Beijinhos!

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  2. Oh meu Deus tou sem palavras... tá tão intenso, tão emocionante *-*
    E agora o David vai ter um bebé.. :O Coitada da Maria :/
    Mal posso esperar pelo próximo, continua querida :D

    Beijinhos**
    Júca

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  3. Adorei :)
    Tens de postar mais, estou ansiosa para saber o resto(:

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  4. Ohhh que momento, derrepente acho que voei!
    Meu deus e momento deles está tão puro e verdadeiro, parabens rapariga, a tua capacidade de nos levar para dentro da história é quase instantanea.

    O david pai :/
    Pedro?! Hmm, cheira-me que vem aí mais um apaixonado xD

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  5. Adorei! Adorei o capítulo e adorei a forma como mostraste que as coisas materiais não são o mais importante da vida! :)
    Parabéns!

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  6. esta muito bom, parabens
    estou anciosa pelo proximo capitulo
    beijinhos e continua

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  7. omd! um rapaz novo tao quido xD posta depressa pf!

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  8. Adorei!
    Escreves super bem!
    Quero mais!
    Beijo

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