sábado, 19 de março de 2011

Novembro - Parte I


-Maria, você se está sentindo bem?
-É mais uma tontura. Nos últimos dias tem sido assim.
-Você tem a certeza que quer continuar a estudar? Anda muito cansada, você tem que acalmar.
-Estou bem, estou óptima e feliz e... Falta 2 anos para concluir o mestrado, não me chateeis.
-Muito bem, como você queira. Mas ultimamente, enjoos, tonturas… Começo a ficar muito preocupado.
-Já te disse que estou óptima! Se não melhorar para a semana vou ao hospital, prometo. Agora, tu… Nem sabes como estou, olha para as minhas mãos!! – Tremia imenso. David ia jogar no Porto, embora ele estivesse tranquilo com o jogo (e só preocupado com o meu estado de saúde que não tem andado muito bem), eu estava mais que nervosa. No ano passado, no penúltimo jogo da temporada, o Benfica foi ao Norte do país. Ao chegarem ao estádio, o autocarro foi apedrejado. Um dos vidros chegou a partir, atingindo Aimar, que ia atrás de David. Ora, desta vez ainda estava mais nervosa. Sei bem como são os Portistas, “fair-play” não entra no dicionário deles.
-Não necessita de estar nervosa. Vai correr tudo bem, a gente vai e volta. Num instante.
-É, claro. Estás farto de me dizer isso mas sabes que não resulta. Só vou deixar de estar nervosa quando tu estiveres amanhã aqui em casa, ao pé de mim.
-Você é um bocadinho teimosa, sabia?
-Claro que sim. Agora, tens que te despachar. Já estás um pouco atrasado, não estás?
-Um pouco mas não me apetece deixar você…
-Eu fico bem, para além disso, o Benfica necessita de ti. Luta com tudo, meu amor.
-Vou fazê-lo, você sabe bem.
-Anda, levo-te até ao carro. – David agarrou na sua mala onde tinha alguns objectos pessoais e com a outra mão agarrou na minha. Quando chegamos ao carro, abracei-o, beijei-o e disse as tais palavra que há uns tempos não tinha coragem de dizer, “Eu amo-te”. Ele, respondeu-me também mas com uma frase que me deixava imensamente feliz  “Maria, eu amo você”. Vi-o a partir e não resisti a deixar cair uma lágrima. Agora andava assim, sentimental, com enjoos, sentia-me fraca às vezes e até já tinha desmaiado uma vez. A minha mente dizia que era do cansaço, de não estar habituada a vida de estudante mas eu sabia que era bem mais que isso. Preferia não pensar nisso, não queria pensar que poderia estar novamente com… Não era possível. Fui almoçar à casa da minha mãe, não queria ficar sozinha e ela iria ficar preocupada se eu não aparecesse lá.
-Olá mãe!
-Filha, estás tão diferente! Estás mais gorda...
-Ó... Obrigada mãe, acho.
-Desculpa filha, mas estás. Mais cheinha, as tuas mamas até estão maiores! O que andaste a comer nos últimos dias?
-Nada de mais. O mesmo de sempre.
-E como tens estado? Nunca mais te deu nada?
-Não mãe, tenho estado bem. – Mais uma mentira piedosa, para ninguém se magoar.
-Quando joga o David?
-O Benfica queres tu dizer…
-Tal pai, tal filha. Sim, o Benfica, o clube onde joga o teu namorado.
-É só amanhã. Vão ficar um dia lá a dormir. Onde está o pai?
-O teu pai… Ele foi ao Porto.
-Ele foi onde?!
-O David não te contou?
-O David não me contou o quê? Como é?! Mãe, o que me está a escapar!?
-Então filha, o David, noutra tentativa de conquistar o teu pai disse a ele se não queria ir ver o jogo do Porto. O teu pai, embora não goste da vossa relação, é Benfiquista, então aproveitou logo.
-Como é que eu não sabia nada disto?!
-O David não te contou porque se calhar não te queria preocupar, e o teu pai disse-me que não te iria contar porque sabia que se soubesses que ele ia, também querias ir.
-Eu não acredito! Fui enganado pelos dois homens que mais amo!
-Então espera até ouvires que o teu irmão foi no teu lugar.
-O quê?!!!
-É isso mesmo que ouviste.
-Eu não acredito. Estes homens fazem-me desesperar. – Senti uma leve tontura que começou a tornar-se incomoda. Sentei-me e deixei um sorriso amarelo para não preocupar a minha mãe.
-Que se passa, filha?
-Dor de cabeça, nada de mais.
-Já comeste hoje?
-Já, achas que o David ia-se embora sem me alimentar muito, muito bem?
-Então, que se passa? Disseste-me que estavas melhor.
-E estou mãe. Deve ser fraqueza.
-O melhor é irmos a um médico.
-Mãe… Eu prometo que se não melhorar eu vou a um médico.
-Que teimosa. Pareces o teu pai!
-Sabes que sou um bocado assim.
Durante todo o almoço a tontura em vez de passar, agravou. No final do almoço, bebi um pouco de água e senti um enjoo enorme. Acho que já não sentia enjoos destes, desde… Desde que tinha acabado a quimioterapia. Levantei-me repentinamente e fui a correr para a casa de banho. Vomitei tudo o que tinha acabado de comer. A minha mãe veio logo atrás de mim, preparava-se para ligar para o meu pai, eu disse que não. Não o podia fazer, porque se o meu pai soubesse David também iria saber. Ligou então para Matilde que veio “a correr” logo. Pouco depois já estava no Hospital.
-Então meninas? De volta ao hospital? Não vos queria ver cá tão cedo, quer dizer, nunca mais. – O meu médico era o Dr. Rogério Antunes. Um homem de cinquenta e poucos anos mas muito energético. Uma pessoa sensacional.
-Olá Dr. Antunes. Eu estou bem, só por dizer que… Você sabe como são as mães. Casmurras… - A minha mãe desviava-me o olhar, chateada com o que tinha dito.
-Então mas diga-me, o que se passa?
-Nada de especial, apenas..
-Dr. – Matilde interrompia-me – Ela voltou a estudar, agora anda visivelmente mais cansada. Anda sempre com tonturas, enjoos, já desmaiou uma vez…
-E está mais gorda Dr.. É isso que não compreendo. Come mais, está mais gorda. Quando esta teve com… - palavra proibida que custava a sair – emagreceu bastante.
-Mãe!
-É a verdade filha. Você acha que… - A minha mãe fez uma pausa. Matilde deu-me a mão e a minha mãe fez exactamente a mesma coisa. O médico retirou os óculos e olhou para nós.
-Bem… Situação de recaídas são frequentes mas não posso dar garantias de nada. Precisamos de fazer algumas analises, alguns exames. Mas em principio, será só o sistema a dizer que está cansado. Entretanto, os exames como sabe, só na segunda mas vamos já hoje fazer análises ao sangue.
Bufei, já estava farta de analises, exames, tratamentos. Não queria passar por isso tudo outra vez. A enfermeira encaminhou-me até ao sitio onde se fazia as analises, já sabia onde ficava e até já conhecia a enfermeira. Uma mulher de quarenta anos, cabelos ruivos e com algumas rugas, talvez demais para a sua idade. Tinha um ar melancólico mas era muito simpática. Fiz as analises e voltei para o consultório do médico. Pouco passou quando ele voltou, estranhamente com folhas nas mãos. Não era habitual ser tão rápido. O médico tentava manter uma cara séria mas estava a sorrir, o que me fazia estranhar ainda mais.
-Vocês acham que me deixam falar com a Maria, em particular?
-Sim, claro. Mas porquê doutor? – Perguntava Matilde.
-É um assunto delicado. – Os olhos da minha mãe brilhavam, tudo indicava que faltava pouco para começar a chorar. Matilde levantou-se e agarrou no braço da minha mãe para ela se levantar também. Depois de saírem, fiquei sozinha com o médico. – Então diz-me, como têm sido os teus últimos meses?
-Últimos meses? Então… A maior novidade é que voltei a estudar. Ah, e lembra-se do meu namorado? Passou a ex.
-Passou a ex? Há quanto tempo? Não me tinhas contado isso.
-Há cerca de.. Então, vai fazer este mês, no final, um ano.
-Um ano?
-Um ano, sim senhor. Mas, doutor, porque está a fazer essas perguntas?
-E relações sexuais tem tido?
-Sim…
-E é namorado?
-Mais que sério.
-Muito bem. Para casamento?
-Doutor! Por amor de Deus, explique-me de uma vez por todas! Tenho ou não cancro?
-Você ter, tem alguma coisa mas graças a Deus não é cancro.
-Então o que é? – Na minha cabeça começava a construir-se um puzzle. Lembrava-me das palavras que o médico tinha dito. “Relações sexuais”, ele tinha investido bastante nesta temática. O pequeno puzzle, feito em instantes começava a ficar completo e na minha cabeça só me lembrava de SIDA. – Por amor de Deus, você não me diga que eu… que eu tenho…
-Que está grávida.
-Eu não acredito! Sida! E o que eu faço da minha vida! – Parei naquele momento, acho que aquelas palavras já estavam automatizadas para sair da minha boca, dissesse o que o medico dissesse. – Espere, grávida?!

10 comentários:

  1. SIDA!! OMG, espere disse gravida? ahahahah
    BRUTAL!!

    Ainda dizes que nao está nada de jeito, pum, mata.te xD

    OHH que lindo *.*, vao ser pais! Quero ver a reação do David, deve ser fantastica!

    Amo a tua fic, e a autora tbm.
    Beijão minha linda*

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  2. As previsões da Matilde estavam certas!

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  3. vão ser papás!!! :D
    Lindoo +__+
    Fartei-me de rir com a última parte :)
    Aii eu agora quero o resto!

    Beijinhos Inês**

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  4. Amei! Gravida? :D adoro!
    Quero mais!
    Beijinhos

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  5. Humm, esta' muiitO bOm!!
    Ameii a ultiima parte.. ;)

    QuerO maiis.. =)

    BjnhO

    PS: Obriigada pelO teu cOmment na miinha.. FiicO muiitO cOntente pOr gOstares.. =DD

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  6. Já estava com saudades!!!
    Muito bom!!! :) :)
    Beijo,

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  7. eles vao ser pais *.*

    Quero ver o David a reagir a isto ;b

    Beijinhos*

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  8. Adorei! Adorei! Adorei!
    Tão fixe!
    Lol
    Kiss

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  9. maravilhoso...

    quero mais...

    continua...

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  10. Ahahaha lindo :P
    A Maria é que ainda "mata" o David por estar grávida! hehehe
    Beijinhossss**

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