domingo, 7 de agosto de 2011

"Quem és tu?"

-Não vais atender o telemóvel?
Estávamos nos armazéns do Chiado, mais propriamente no Starbucks. Pedro trouxe-me um Grande Café Americano, o meu café favorito no Starbucks. “Espero que gostes, é o meu preferido”, disse-me antes de dar o café.
-Não me apetece.
Matilde tentava ligar-me incessantemente, não percebia porquê tanta insistência. Não me ia matar por causa de um homem e se não tinha respondido à primeira, nem à segunda chamada era porque não queria falar com ninguém. Entretanto, Pedro fazia com que falasse.
-Nunca tinha visto uma rapariga tão bonita assim, tão triste, devastada, a chorar e à chuva.
-Mas eu já vi melhores desculpas. “Nunca tinha visto uma rapariga tão bonita…”. A sério, não estou para esses lados.
-Hey! – exclamou irritado – por quem me tomas?
-Por mais um garanhão. A sério, conheço muitos assim mas todos com a mesma cantiga. “És tão bonita”, “Que bonito nome”, “Nunca vi…”
-Tem lá calma Maria! Nada disso. Conhecemo-nos desde miúdos?
-Como? – Interroguei-o confusa. Não me lembrava de tal cara.
-Sou o Pedro Guimarães. Irmão da Patrícia Guimarães. Lembraste de mim?
Sinceramente,  só me lembrava da Patrícia. A morena, de cabelo encaracolado, sorriso fantástico e olhos pretos. Do Pedro nem por isso, o que me fazia um pouco de confusão. Patrícia tinha sido minha amiga no secundário.
-Entendo que não te lembres de mim. Mudei imenso nos últimos anos. – De repente, fez-se luz e lembrei-me de um Pedro. “O Gordo”, como era chamado por alguns amigos meus, e não só.
-Espera, tu és aquele rapaz a quem o João chamava de “Gordo”?
-O João Pais? Sim, sou esse mesmo. – Agora sim lembrava-me do Pedro. Era um rapaz baixinho para a sua idade e gordinho. Era tímido, recolhia-se aos seus cantos a estudar. Falava pouco e era alvo de chacota por um rapaz que andava atrás de mim na altura. Como nunca gostei de “gozos”, nunca gostei do João mas ele achava que gozar com os outros podia-me impressionar, e assim continuou. Para sua frustração e dos outros também, e para meu desprezo.
         Agora, Pedro estava diferente. Muito mais alto, com quase um metro e noventa, não magro mas também não estava gordo. Olhava para o sorriso dele, igual ao da irmã.
-Uau… Estás diferente.
-E tu também! Loira, bonita e empresária no Benfica. Aposto que rica também. A vida correu a teu jeito.
“Nem por isso” sussurrei baixo, para que não pudesse ouvir.
-Mas conta-me lá, o que é feito da Maria? – Questionava Pedro. Não estava com muita vontade para conversas mas a verdade é que estava a desanuviar a minha cabeça e estado de espírito. Agarrei no caffe Americano e comecei a beber, devagar.
-A minha vida? Nada de interessante, mas a tua parece-me ser mais. Conta-me, como vai o Pedro?
-O Pedro… Bem, o Pedro foi para a universidade e teve um primeiro ano difícil. O meu colega de quarto era um machão autêntico então queria só que estivesse com outras raparigas. A minha transformação em Pedro “cobarde” para Pedro “Machão” foi feita em poucos meses. Ele obrigava-me a correr, saltar à corda, ir para o ginásio, comer saladas… Bem, tudo para que eu fosse bem sucedido. A verdade é que, ao fim de um ano, eu já tinha roubado o titulo de garanhão a ele, na universidade de Coimbra.
-Foste para Coimbra? Sempre seguiste o teu sonho.
-Sim, claro… Mais ou menos. O meu sonho era igual ao teu, medicina mas teve umas pequenas alterações.
-Como assim?
-Eu inscrevi-me no curso mas só entrei no Porto. Gosto do espírito académico lá mas eu queria mesmo Coimbra. Ainda frequentei a universidade mas andava tão chateado por não ser em Coimbra que decidi alterar o meu destino. Fui para Engenharia Biomédica.
-Calma… Tanta dedicação na escola para depois desistires?
-Não desisti. Acredita, foi o melhor que fiz. Gostei muito mais de Engenharia Biomédica do que medicina. É diferente.
-Estou a ver. Então senhor Engenheiro, onde está empregado?
-Estou numa empresa farmacêutica que tem a sede na América. Faço a vida entre lá, e cá mas como sou o representante deles cá, passo mais tempo em Portugal.
-Muito bem senhor “Machão”.
-Por incrível que pareça, esses tempos terminaram.
-Encontraste a tua princesa?
-Não, ainda não. A minha princesa foi sempre a mesma e o destino às vezes brinca connosco, sabes?
-E se não sei… - A situação de David surgia na minha cabeça. A chuva continuava a cair, bem forte.
-Soube que tiveste cancro.
-E eu soube que me enviavas flores, pela tua irmã.
-Desculpa, nunca tive coragem para te ir visitar.
-Não tens que pedir desculpa. É normal. Estava doente e nós pouco nos falávamos.
-Sim, claro. – Senti uma pequena diferença no seu tom de voz.
-Mas vamos parar de falar disto, já chega de tristezas. O que passou, passou!
-Concordo totalmente. Mas já agora, por falar em destino… Sabes o que aconteceu ao João?
-Ao Pais?
-Sim.
-Não… Nunca mais falei com ninguém, quase. Apenas os mais próximos. Mas o que aconteceu?
-Engordou… Cem quilos…
Não me contive e tive que rir. “Cá se fazem, cá se pagam”, já diziam.
-Ora uma bela lição de vida. Nunca mais irá chamar gordo a ninguém.
-Aposto que não! – No meio da conversa, que foi interrompida pela senhora empregada no Starbucks a suplicar que saíssemos de lá para fechar a loja, Pedro convenceu-me a ir um pouco até ao Bairro Alto. Da última vez não correu muito bem, será que à segunda ia correr?

**

Acordei, mal disposta. Abria os olhos muito lentamente mas a ressaca destruía-me. Dor de barriga, cabeça, costas, até de dentes sentia. “Não devia ter bebido tanto”, pensei. Não conhecia a casa e quando finalmente me apercebi, estava nua embrulhada em lençóis. Tinha pânico em olhar para o lado, podia não gostar de quem estava lá.
          Quando finalmente tive coragem, virei-me levemente e lá estava… Não o meu pesadelo, mas naquele momento estar na cama de Pedro com ele mesmo também não era o meu sonho. Levantei-me de levezinho, sem fazer barulho algum. Pedro estava ferrado no sono. Agarrei nas minhas coisas e fui à procura de uma casa de banho para me despachar.
A casa de Pedro era luxuosa. Uma vivenda grande e bonita. Quando sai do quarto, havia um pequeno corredor que dava para as escadas. Desci, degrau a degrau, tentando não fazer barulho. Ao mesmo tempo, via os sinais de destruição que tínhamos deixado. Vasos, molduras, jarras… tudo no chão. Umas não se partiram, outras já não se pode dizer o mesmo. Tentava recordar-me do que se tinha passado, mas nada. Que coisa. Deveria ter bebido imenso para não me conseguir lembrar de nada. No meio daquela confusão, encontrei a cozinha. Havia chocolate por toda a cozinha, taças sujas, colheres com chocolate mas o estranho é que não havia bolo. Parti então para a sala. A sala tinha um grande sofá creme, um grande televisor e as não tinha paredes para a rua, apenas vidro o que dava um ar mais moderno e bonito. Reparei que em cima de um dos móveis encostados à parede estava um prato com bocadinhos de bolo. Sempre havia. Estava com um pouco de fome, então dei uma dentada. Tinham um sabor esquisito mas não deixava de ser bom.
-Tu queres mesmo festa não é? – dizia Pedro, enquanto descia as escadas.
-Como assim?
-Não te lembras? O “Bolo de Chocolate Especial”?
-Não me lembro de nada. Especial porquê?
Pedro mostrou-me então um saquinho de plástico vazio. Comecei assimilar as coisas e percebi então porque Pedro tinha chamado ao bolo de especial. Ri-me do facto de parecer uma adolescente outra vez, e bolas… Soube bem. Continuei a comer o bolinho e Pedro agarrou-me por trás. Levemente beijou-me no pescoço. Deixei-me levar por tudo aquilo e entreguei-me em seus braços mas ele afastou-me.
-Maria… Eu não sou o David. – Com os braços ele virou-me e pude encara-lo – A conversa no Starbucks, sobre a mulher da minha vida… Tu és a mulher da minha vida, pelo menos até hoje. Mas tu amas o David e eu não sou o David.
Não compreendi o que Pedro estava a dizer, não compreendia a conversa.
-O que queres dizer com isso?
-Quero dizer que te adoro, mais do que qualquer outra mulher e vou fazer de tudo para te conquistar. Mas até lá, até tu te esqueceres do David, nada vai acontecer.
Ele foi-se embora a encontro da cozinha enquanto eu fiquei na sala. Toda aquela conversa tinha-me deixado confusa, sem saber o que fazer. Pedro tinha-se declarado a mim e eu… Tal como ele disse, continuava apaixonada por David, que ia ser pai de uma mulher que apenas estava interessada no seu dinheiro.
-Queres alguma coisa para comer?


Peço desculpa mas nem tive tempo para voltar a ler. Qualquer erro, as minhas desculpas. Beijinhos, Cat!

9 comentários:

  1. Ainda bem que publicaste ;)já estava ansiosa.
    Mas tens de publicar outro rápido.
    Agora que pensava que se iam entender... estou curiosa p saber o q vem por aí.
    Quero mais.
    Bjs.

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  2. Amei!
    Ai até gosto do Pedrinho xD
    Ta lindo o capitulo!
    Quero mais!
    Beijinhos

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  3. adorei...

    quero mais...

    continua...

    P.s.do dia 11 ate 21 nao vou poder ler nem comentar a tua fic, vou de viagem para madrid, mas quando voltar comento...

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  4. gosto muito da história, mas não gostei muito do surgimento do pedro...contudo confio no teu trabalho e espero que a maria fique com o david.

    continua e não leves muito tempo a postar o próximo capítulo.

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  5. Amei! Espero bem que o David acorde e lute por ela!
    Bjs

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  6. Adorei! Será que podias ver o meu blog?

    http://handsonhearth.blogspot.com/

    Comenta e segue se quiseres! :D

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  7. Cat:
    Estou ansiosa por um capitulo teu!!!
    Posta rapidinho por favor.
    beijo

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  8. só vi agora mas isto não implica o facto de ter amado o capitulo :P
    quando puderes escreve sim?
    beijinhos



    passa no meu e diz o que achas sff
    http://umanovadefinicaodeamor.blogspot.com/

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